A árvore conhecida como feijoeiro-da-Índia que se encontra à entrada da Biblioteca Municipal e do Centro de Artes de Ovar vai ser classificada como de interesse público pela sua raridade, revelou hoje a associação ecologista Amigos do Cáster.
Originário da América do Sul, o exemplar da espécie Erytrina crista-galli tem mais de 20 anos e já esteve para ser derrubado em 2001, na sequência de tempestades que são frequentes nesse concelho do distrito de Aveiro, mas o abate acabou por ser evitado devido a apelos da população local, que aprecia a estética peculiar da árvore.
Em 2017, após novo temporal ter motivado a queda de um dos ramos principais desse espécime, a associação Amigos do Cáster remeteu ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) a candidatura ao estatuto de Árvore de Interesse Público e o feijoeiro-da-Índia de Ovar está agora “em vias de ser classificado”, o que, em termos práticos, lhe irá conferir uma “zona especial de proteção de 20 metros”.
O ICNF justifica a sua decisão afirmando que em causa está “uma árvore de grandes dimensões, de bonita floração e de uma espécie pouco comum no país”.
A mesma entidade acrescenta que esses dados “foram confirmados quer pela singularidade do exemplar, representada na sua exuberante floração, quer pela sua morfologia e fisionomia invulgares, em que se destaca uma forma caprichosa, de grande exotismo e beleza”.
Assim, pela sua “importância determinante na valorização estética dos elementos naturais e arquitetónicos do espaço envolvente e pelo [seu caráter de] insólito, deve ser assegurada a classificação de Interesse Público deste exemplar”.
A associação Amigos do Cáster defende que a resposta favorável à candidatura deve representar “motivo de orgulho” para o município de Ovar, por constituir “um importante passo na proteção e conservação deste exemplar único” de Erytrina crista-galli, “pouco frequente” em Portugal.
Atualmente, sobre um tronco cuja inclinação se vem acentuando ao longo dos anos devido ao efeito do vento, a árvore apresenta uma copa exuberante onde se resguardam pássaros e as flores começam a desabrochar. A pouca distância, o ramo derrubado pelo temporal de 2017 confere outra peculiaridade à história desse feijoeiro-da-Índia, como explica a associação ecologista ao citar a bióloga Raquel Lopes, investigadora da Universidade de Aveiro no domínio das árvores monumentais portuguesas.
“O ramo arrancado pelo vento e mantido na proximidade da árvore-mãe, onde caiu, ganhou rebentos novos, originando uma pequena árvore-filha por um processo de multiplicação vegetativa que não é frequente verificar-se em árvores”, refere.
O ICNF também confirma esse caráter de exceção: “Verifica-se neste exemplar um fenómeno de propagação natural ‘por estaca’ pouco vulgar em árvores de grande porte”.