No primeiro dia de Maio, há uns anos a esta parte era ponto assente, que em qualquer aldeia deste nosso Portugal, nos campos e nas portas das casas ou janelas não ostentasse , pelo menos, um pequeno ramo de giesta. É uma antiga tradição relacionada com a lenda do rei Herodes, que tem por objectivo afastar as “forças do mal”.
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Os “Maios” ou “Maias”, conforme são conhecidos de região para região, de forma a serem “ressuscitados” tem dado origem a concurso de coroas e tapetes floridos designado por “Maio em Florido. Rosas, jarros, flores do campo e giestas são a matéria prima utilizada. No Alto Minho, esta velha tradição mantém-se ainda um pouco por toda a região. Não há quem resista a colocar, nem que seja, um tímido galho de giesta em casa ou na viatura. De acordo com este costume aparece associado à lenda do rei Herodes, que quando soube que a Sagrada Família na fuga para o Egipto pernoitaria numa certa aldeia se predispôs a mandar matar todas as crianças do sexo masculino. Perante a perspectiva de tal morticínio, alguém o informou não ser necessário tão grande sacrificio já que colocaria um ramo de giesta florida na casa onde Jesus pernoitasse. Porém, na manhã seguinte, todas as casas da aldeia apareceram com o tal raminho de giesta florida! Verdade ou ficção, a tradição ainda perdura, mas já com variantes. Em Arcos de Valdevez, por exemplo, coloca-se o Maio à janela, só ou com outra flor, para se afastar a fome, afugentar o feiticeiro e a entrada das bruxas. Em Ponte de Lima, na freguesia de Calheiros diz-se que na noite de 30 de Abril para 1 de Maio o diabo anda à solta e que não entra onde haja o Maio.
O dia 1 de Maio, antes de ser o dia Mundial do Trabalhador é chamado o Dia das Maias ou o dia do Maio. Lenda religiosa ou não é uma tradição muito antiga, ligada à primavera e aos rituais da agricultura.
Manda a tradição que na noite de 30 de abril para 1 de maio as pessoas enfeitem as portas, janelas e outros locais com flores e giestas amarelas e, em alguns lugares, também com bonecas de palha enfeitadas. Os nossos antepassados já faziam isto para assinalar o fim do Inverno e para pedir proteção e fertilidade para a terra.
As casas eram enfeitadas de noite, para estarem todas cheias de flores quando o dia nascia. Dessa forma afastavam-se “os maus espíritos”. Há terras onde se põem as flores no ferrolho da porta.
Esta tradição chama-se “as maias”, “os maios” ou “a flor do maio” e é diferente consoante as regiões do país. Também se diz “pôr as maias à porta”.
Usam-se giestas porque são flores muito abundantes nesta altura do ano e porque como são amarelas representam a luz, a vida.
Há várias explicações para a origem desta tradição muito antiga:
– A Maia era uma boneca de palha de centeio, em torno da qual as pessoas dançavam na noite de 30 de Abril para 1 de Maio. Podia ser também uma menina vestida de branco com coroas de flores, que estava sentada num trono cheio de flores e em volta de quem se cantava e dançava.
– Esta festa era pagã e foi proibida várias vezes em Portugal, até através de Carta régia.
Maia era a deusa mãe de Mercúrio, que era o mensageiro dos deuses.
– Maia era a deusa romana da fecundidade. O nome “Maia” significa “pequena mãe” e era tradicionalmente dado a uma avó, ama de leite ou parteira.
– Esta tradição surge associada a uma festa muito importante para os Romanos, que era a Floralia, realizada nos primeiros 3 dias de Maio, em honra da deusa Flora e da Primavera.
– Era uma festa que celebrava a fertilidade e pedia que a Terra desse bons frutos neste novo ano agrícola.
– Muitas das lendas e tradições que foram adotadas pela Igreja Católica têm raízes pagãs. A Igreja Católica adotou grande parte dos rituais pagãos para as pessoas não se revoltarem por perderem as tradições que tinham.
– No Alto Minho, associa-se esta tradição à fuga de Jesus para o Egipto.
– Em Maio há por toda a Europa inúmeras celebrações ligadas à fertilidade.
– Neste período a Natureza já começou a despontar, já se vêm as primeiras flores, as árvores já estão cobertas de verde.
– Estes rituais celebram a vida, a luz, o fogo e servem também para afastar o medo do desconhecido, as doenças, as trevas.
– Uma das tradições mais conhecidas é o Mastro de Maio, que é usado desde o século XIV na Europa Central.
– É erigido um mastro com fitas coloridas atadas no topo. O mastro simboliza a Árvore do Mundo e as fitas fazem a ligação entre o céu e a Terra.
– No primeiro dia de Maio, homens e mulheres seguravam cada um em sua fita e dançavam à volta deste mastro, com coreografias que iam entrelaçando as fitas. Quando as fitas estavam todas enroladas à volta do mastro, atavam-se na base com uma fita vermelha. Era uma festa de celebração da vida e da juventude, e ainda hoje é praticada em alguns lugares da Europa.
– Havia também um costume europeu em que os rapazes colocavam coroas de flores nas portas das casas das raparigas por quem estavam apaixonados.
Como se celebram as Maias ou os Maios?
Esta tradição é celebrada de maneiras diferentes de Norte a Sul do País. Por vezes até é celebrada de maneira diferente em duas localidades que ficam a poucos quilómetros de distância.
– No Minho comemora-se da forma mais clássica, com giestas floridas à porta. As pessoas acreditam também que o cheiro das giestas ajuda a afastar o mau olhado.
– Em Trás os Montes e na Beira Alta esta tradição está também ligada às castanhas secas, que as pessoas guardam para comer neste dia.
Há um provérbio que diz “Quem não come castanhas no 1º de Maio, monta-o o burro”. Segundo a tradição popular, maio é o mês dos burros, e havia a crença que se a pessoa não comesse castanhas e encontrasse um burro este ia mordê-la!
A tradição de comer castanhas secas em Maio tem a ver com uma tradição muito antiga, segundo a qual no 1º dia de Maio o chefe de família ia à fonte esconjurar com favas pretas os espíritos, protegendo a sua família. Daí surgiu a tradição de comer castanhas secas nesta data.
– Em Trás-os-Montes há também o ritual do Maio-Moço: as raparigas novas enfeitam um menino a quem chamam o Maio-Moço, que levam a passear pela rua, enquanto dançam e cantam à volta dele.
– Na Beira-Litoral, em Vila Nova de Anços, aproveita-se o 1 de Maio para declarar amor a alguém. Os rapazes preparam uma coroa de flores (com flores reais ou de papel), e deixam-na à porta da casa da rapariga de quem gostam.
– Na Beira Baixa, em Monsanto, há a chamada Marafona, uma boneca feita de dois paus dispostos em cruz, cuja festa é celebrada no Domingo seguinte ao 3 de Maio. A Festa da Divina Santa Cruz, como é localmente conhecida, é uma variante da celebração das Maias.
– Na Estremadura, a Maia é uma menina enfeitada com flores que percorre as ruas das povoações com as suas companheiras.
– No Alentejo, em especial em Beja, as Maias são meninas vestidas de branco, que levam uma coroa de flores na cabeça, que se sentam numa cadeira à porta de casa, na esquina de uma rua ou na praça. As outras meninas pedem a quem passa “um tostãozinho para a maia”. Em Portalegre faz parte da tradição do dia da cidade, celebrado a 23 de Maio, haver um desfile “das Maias”, meninas vestidas de branco e enfeitadas com coroas de flores amarelas, que percorrem as ruas da cidade a cantar.
– No Algarve é costume colocar à porta de casa os bonecos de palha de centeio vestidos de trapos e enfeitados. Em Lagos, em particular, há todos os anos a eleição da Maia mais bonita da cidade. As pessoas expõem à porta de casa, nas janelas, nas varandas e nas ruas bonecas de trapos vestidas com trajes típicos e enfeitadas com flores.
Nos Açores e em especial em S. Miguel os “Maios” são bonecos que representam pessoas, em tamanho natural, vestidos e calçados com a nossa roupa, em atitudes humanas normais, sozinhos ou em grupo, representando cenas do quotidiano (passado ou actual). Julgamos que esta tradição remonta ao inicio do povoamento dos Açores e que terá sido trazida com os Algarvios, já que é o único local do Continente onde esta tradição de fazer bonecos na madrugada do 1º de Maio existe. Todos os anos, mais ou menos, lá aparecem com a sátira, normalmente politica, escrita em cartolina colocadas à frente dos bonecos.
Acredita-se que esta tradição tem origem em antigos ritos e cultos agrários, praticados pelos nossos antepassados, com o objectivo de assinalar o final do Inverno e a chegada da Primavera.
Ao pôr do Sol e de uma forma quase subtil, os maios desaparecem, regressando no próximo Ano.