A Kika é uma jovem arquiteta portuguesa que um dia decidiu ir espreitar o mundo na sua carrinha, com a companhia da KOA, a sua fiel cadela. De momento está na Dinamarca, e de vez em quando vem partilhar aqui no Mundo Português as voltas da sua aventura que a vai levar “sabe-se lá até onde”
Biarritz foi a primeira paragem ao atravessar a fronteira francesa.
As praias estavam cheias, o mar estava revolto, mas o sol forte convidava a um mergulho.
O dia não tinha sido o mais fácil de todos. O meu sistema eléctrico não estava a funcionar há
uns dias e antes de sair de Espanha decidi embarcar na peripécia de comprar uma nova bateria para o painel solar, uma vez que tudo me indicava que seria esse o problema.
Quando cheguei a Biarritz ainda não tinha a certeza se tinha feito a escolha certa e se de facto tinha resolvido o meu problema. Confesso que estava desanimada porque tinha sido uma grande despesa e só esperava que não tivesse sido em vão. No fim de contas, não foi, mas só soube disso mais tarde!
Mas a vida tem coisas engraçadas e quando menos esperamos, acontecem momentos maravilhosos. Sem eu me aperceber, uma carrinha estaciona mesmo do meu lado e o casal que sai lá de dentro enfia imediatamente a cabeça dentro da minha porta aberta e convida-me para jantar! Iam começar a cozinhar em breve, tinham uma garrafa de vinho para partilhar e eu tinha acabado de fazer um guacamole que acabou por ser a nossa entrada enquanto se cozinhava o prato principal. Desta forma entramos noite a dentro, entre petiscos e histórias de aventuras que me animaram tanto quanto eu precisava naquele momento!
Já não tinha qualquer dúvida. São as pessoas. São as pessoas que fazem toda a diferença. As que ficaram para trás e que sempre esperam torcendo por nós e as novas que se atravessam
no nosso caminho.
O dia seguinte não amanheceu mais sortudo, todas as carrinhas, incluindo as nossas, acordaram com uma multa sorrateiramente introduzida no limpa pára-brisas durante a noite.
Mas o ambiente era tão tranquilo junto ao mar que não houve ninguém que se ralasse muito.
No entanto, França iria mostrar-se bastante desafiante nos próximos dias. Há sinalização e barras metálicas na maioria dos parques de estacionamento, que impedem as autocaravanas de estacionar, durante o dia e à noite, e a polícia está especialmente atenta.
E se as multas forem tão absurdamente caras quanto os parques de campismo, ninguém quer apanhar mais do que uma…
Por este mesmo motivo em Bourdeaux passei a noite numa rua calma no subúrbio da cidade
onde, para não dar nas vistas, me escondi atrás com a koa, sem cobrir as janelas e com a clarabóia fechada, embora estivessem mais de 30 graus na rua. O objectivo de passar despercebida e de aparentar apenas uma carrinha estacionada teve sucesso e na manhã seguinte, antes de começar o horário do parquímetro lançámo-nos novamente à estrada.
Embora haja uma grande liberdade quando se viaja numa van, nem sempre dormimos em sítios de sonho. Não foi a noite mais descansada de sempre, mas foi uma excepção em prol da visita a esta magnífica cidade numa noite de verão inigualável.
Seguimos caminho e atravessámos França a um ritmo diferente de Espanha.
Desta vez decidimos visitar cidades mais pequenas e avançar rapidamente para a Bélgica.
Visitamos Poitiers, Tours e Rouen entre outros pequenos vilarejos que se encontravam no caminho das rotas secundárias que poucos optam por percorrer.
Abastecemos a despensa de produtos vindos directamente do produtor em pequenos mercados locais, dormimos em clareiras de bosques junto aos rios ou em pequenos parques de campismo caseiros, tomamos banhos ao pôr-do-sol, jantamos com os últimos raios de sol no céu e aproveitámos o silêncio rural do qual nunca nos cansamos.
No norte de França foi bem mais fácil encontrar parques de campismo com preços acessíveis, e por vezes a koa até tinha como companhia cavalos, vacas ou mesmo coelhos!
No entanto, rapidamente chegou o momento de atravessar mais uma fronteira e de perceber que desafios nos esperavam na Bélgica.