Maria de Sousa a imunologista de renome internacional que Portugal perdeu para o Covid-19

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Maria de Sousa, uma das primeiras portuguesas a ser reconhecida internacionalmente pelas suas descobertas científicas na área do sistema imunitário, faleceu hoje, vítima de infeção pelo Covid-19, depois de uma semana de internamento no hospital de São José, em Lisboa.
O reitor da Universidade do Porto, António de Sousa Pereira, considerou que a imunologista Maria de Sousa, que morreu esta madrugada aos 81 anos, “será para sempre uma das mais destacadas figuras da ciência em Portugal”.
Segundo António Sousa Pereira, o trabalho da investigadora recebeu “merecido reconhecimento internacional numa altura em que ser cientista, particularmente uma mulher cientista, não era tarefa fácil”.
“A morte da professora Maria de Sousa é uma perda enorme para a Universidade do Porto e para a academia portuguesa”, lamentou.
“Maria de Sousa será para sempre lembrada como um dos nomes maiores da Universidade do Porto e da ciência portuguesa”, sublinhou.
Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a morte da imunologista, considerando-a uma “figura ímpar da ciência portuguesa”, com uma “carreira brilhante”, e também “um exemplo de cidadania”.
Através de uma nota divulgada no portal da Presidência da República na Internet, o chefe de Estado afirma que a imunologista “deixa um legado incontornável na ciência e um exemplo maior de rigor, de exigência e de compromisso cívico e cultural, os quais o Presidente da República, que ainda recentemente teve a oportunidade de a visitar, gostaria de enaltecer e agradecer em nome de Portugal”, sublinhou, apresentando
O chefe de Estado assinala que “a sua carreira brilhante obteve múltiplos reconhecimentos, de instituições nacionais e estrangeiras, tendo sido condecorada por três chefes de Estado, nomeadamente, em 2016, pelo atual Presidente da República, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de San’tiago de Espada, insígnia destinada a distinguir o mérito literário, científico e artístico”.

Cientista de renome internacional

Maria Ângela Brito de Sousa nasceu em Lisboa em 1939. Em 1963 concluiu a licenciatura em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
No início da carreira académica foi Leitora na Universidade de Glasgow (Escócia), onde fez o doutoramento em Imunologia. Já nos Estados Unidos foi professora associada na Escola de Estudos Pós-Graduados de Cornell Medical College e, em simultâneo, membro associado e Diretora do Laboratório de Ecologia Celular no Memorial Sloan Kettering Cancer Center do Sloan Kettering Institute (SKI), em Nova Iorque.
Nesse período foi autora de artigos científicos de alcance internacional, tidos como fundamentais para a definição da estrutura funcional dos órgãos que constituem o sistema imunológico, entre os quais se destaca o consagrado à descoberta da área timo-dependente (1966), hoje conhecida universalmente por área T.
Os artigos foram publicados em duas das mais conceituadas revistas científicas, o ‘Jounal of Experimental Medicine’ e na revista ‘Nature’.
Em 1971, descobriu um fenómeno a que deu o nome de ecotaxis, termo proposto para designar a capacidade de células de diferentes origens migrarem e organizarem-se em áreas bem delineadas dos órgãos linfóides periféricos.
Estudou o sistema imunológico em pacientes com uma doença genética de sobrecarga de ferro, a ‘hemocromatose hereditária’. Esta investigação conduziu-a ao Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, em 1985, para fundar o Mestrado em Imunologia.
Enquanto docente e investigadora da Universidade do Porto liderou) a junção de três mestrados, resultante na criação do Programa Graduado em Biologia Básica e Aplicada (GABBA), o primeiro programa doutoral em Portugal
E constituiu uma inovadora equipa de investigação no campo da hemocromatose, dividida pelo ICBAS, o Hospital Geral de Santo António e o Instituto de Biologia Celular e Molecular (IBMC), uma das entidades que deu origem ao atual Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, i3S, onde era investigadora honorária.
Maria de Sousa foi distinguida com o ‘Bial Merit Award in Medical Sciences’ (1994), o Prémio Estímulo à Excelência, atribuído pelo Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior (2004), o Prémio Universidade de Coimbra (2011), o Prémio Universidade de Lisboa (2017) e o Prémio Mina Bissel (2018).
Ao longo da sua carreira, já com mais de 50 anos, Maria de Sousa reuniu um valiosíssimo arquivo pessoal, meticulosamente produzido na sua atividade de investigadora e de professora catedrática, que constitui uma fonte inesgotável para a história da ciência e da tecnologia.
São mais de 60 mil documentos, na sua maioria originais da autora, mas também de outros cientistas, correspondência, recortes de jornais e revistas, lamelas de vidro usadas nos microscópios.
Foram doados pela investigadora, na íntegra, à Câmara Municipal de Cascais e, em conjunto com os espólios do Instituto Ricardo Jorge, Reynaldo dos Santos e Bartolomeu Cid dos Santos, constituirá o ponto de partida de um centro de investigação dedicado às relações entre Ciência, Cultura e Arte sedeado na Casa Reynaldo dos Santos e Irene Virote Quilhó dos Santos, na Parede.

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