Estamos em plena Semana Santa, período que antecede a preparação para a Páscoa. Escrever sobre este tema tão importante para os Cristãos era absolutamente normal até agora. Já o fiz noutras ocasiões, porém, este ano, a singular imprevisibilidade, tudo alterou.
E nada é, nem será, como já foi.
Daqui para a frente tudo vai ser diferente, isso é uma certeza e nenhum futurologista arriscará fazer previsões, com franqueza e fiabilidade, sobre o que será o mundo depois da pandemia que assolou o mundo.
Vivemos, com efeito, uma fase na vida individual e coletiva tão singular e apreensiva, quanto difícil será perspetivar a vida e o mundo daqui para a frente.
Enfrentamos um desafio decisivo que nos vai levar a um caminho diferente, com consequências inevitáveis para toda a gente.
Confrontamo-nos com algo desconhecido, que nos atormenta e apoquenta, levando cada um de nós a comportamentos nunca imaginados.
Com a chegada da pandemia chega o risco de vermos no “outro” uma ameaça, como alguém que involuntariamente nos pode contaminar.
Ora estes comportamentos não são, e nunca deveriam ser, próprios do SER humano, da verdade, da solidariedade, da humanidade, da vida partilhada.
A Covid-19, que pode fomentar o risco do “salve-se quem puder”, não pode acabar por minar a vivência e a consciência do bem comum, pois só a união na solidariedade, vontade e determinação imbuída de otimismo e confiança, nos permitirá vencer esta pandemia que nos “trocou as voltas” e nos está a levar à radical mudança.
Mesmo invadindo e abalando a nossa sensação de invulnerabilidade, gerando medo e ansiedade, estes tempos de adversidade serão um precioso teste ao grande desafio de crescer no domínio da resiliência, com a capacidade de recomeçar algo que, de outra forma, dificilmente nos levaria à mudança e alteração de hábitos, pensamentos, alentos e até ressentimentos.
Vamos, este ano, viver e sentir uma Páscoa diferente, na ausência da familiaridade física, mas que se torne determinante para o exercício da reflexão, num contexto de interiorização dos valores da imaterialidade da vida, da consciência do bem comum, da fraternidade e do amor.
Assim, unidos numa ação sentida e partilhada, tendo sempre em vista o elevado sentido do amor ao próximo, mesmo percebendo que todos somos diferentes, vamos celebrar a Páscoa da Vida, redescobrindo o sentido profundo da Fé, inigualável valor do amor aliado à força da esperança.
Nesta Páscoa marcada pela incerteza, receio, amargura da alma, tristeza no coração, sem as tradicionais vivências familiares, não devemos esquecer o verdadeiro significado desta celebração cristã e, dentro deste espírito, não podemos ignorar os mais desfavorecidos, os desempregados, os desafortunados e os mais idosos, em lares internados, bem como reclusos ansiosos por se verem libertados.
Aproveitemos, pois, este período reflexivo para renovar e reforçar o nosso espírito de “missão”, contribuindo, longe da omissão e da indiferença, para um mundo melhor, mais feliz e criativo, testemunhando uma nova “Boa Nova” e, sobretudo, a força da esperança.
Feliz Páscoa.