Covid-19: Código de Boas Práticas e quarentena de estrangeiros na apanha da cereja no Fundão

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A Câmara do Fundão vai lançar um Código de Boas Práticas para a colheita da cereja, que integra várias medidas e que exige que os trabalhadores de fora cumpram uma quarentena obrigatória de 14 dias para evitar a propagação da covid-19.
“Esta é uma campanha que será seguramente condicionada pela pandemia e o que estamos a procurar fazer é criar garantias de que a apanha da cereja será feita em segurança. Queremos deixar esta mensagem muito forte do trabalho do Fundão e que a ‘Cereja do Fundão’ irá cumprir escrupulosamente todas as questões associadas às condições sanitárias que existem atualmente no país” afirmou, em declarações à agência Lusa, o presidente deste município, Paulo Fernandes.
Segundo explicou, este “manual de boas práticas sanitárias e laborais” foi elaborado em articulação com o Centro Operativo e Tecnológico Hortícola Nacional (COTHN) e com uma equipa da Universidade da Beira Interior, e vai ser enviado para as organizações de produtores locais, com a expectativa de que ele seja subscrito.
O objetivo é o de que as regras sejam implementadas na campanha que arranca dentro de aproximadamente três semanas, coincidindo com a fase de combate à pandemia.
Entre as medidas apresentadas está a exigência de que os trabalhadores vindos de fora, sejam estrangeiros ou de outras regiões do país, cumpram uma quarentena profilática obrigatória de 14 dias antes de iniciarem a colheita.
Lembrando que nesta época o concelho acolhe entre 400 a 500 trabalhadores temporários, oriundos de vários pontos do país e do estrangeiro, Paulo Fernandes destaca que esta obrigatoriedade visa defender a saúde de todos e que será fiscalizada.
“Essa quarentena vai ser verificada pelas autoridades, quer pelo município, quer pela própria GNR, e esperamos que todos possam subscrever estas regras para que a campanha possa ser feita em segurança sanitária”, frisou.
O documento conta ainda com um conjunto alargado de regras orientadas para o trabalho e para o reforço das condições de higienização, quer nos pomares, quer nos locais de residência.
Paulo Fernandes admite que as medidas, em particular da quarentena, pode ter custos, mas também sublinha que esta é a melhor forma de proteger a saúde de todos, a marca ‘Cereja do Fundão’ e de evitar um prejuízo que certamente seria maior, caso houvesse uma situação de contágio.
A situação de pandemia também traz novos desafios e custos para as empresas de trabalho temporário, mas há exemplos que já têm em marcha planos de contingência que incluem essa quarentena.
Em declarações à Lusa, Eliana Ribeiro, administradora da Beira Labor (empresa da Covilhã, que garante um grande número de trabalhadores temporários para os pomares da região), sublinhou que estão a ser adotadas medidas desde que a pandemia começou e que a quarentena já está a ser cumprida.
Explicando que a empresa já tem na região, há cerca de um mês, 110 pessoas oriundas do estrangeiro, que à partida estão nas mesmas condições dos trabalhadores locais, Eliana Ribeiro ressalva que quem chegar entretanto também tem de aceitar cumprir a quarentena.
Ainda assim, lembra, a medida tem custos para os trabalhadores que ficam sem trabalhar durante esses dias e para as empresas e produtores que têm de assegurar a habitação por mais tempo e em maior número para evitar a concentração.
Além disso, a Beira Labor também já reduziu a lotação das carrinhas de transporte de pessoal de nove para seis pessoas, está a proceder à medição de temperatura, a dar instruções para que os contactos sociais sejam limitados e as regras de higiene reforçadas.
Em anos normais, esta empresa chega a ter 300 trabalhadores portugueses e estrangeiros empenhados na campanha da cereja e, segundo aponta, sempre que pode recorre a mão-de-obra da região, medida que quer reforçar, dando também resposta a situações de desemprego que possam resultar da pandemia.
O Fundão, no distrito de Castelo Branco, tem atualmente entre 2.000 a 2.500 hectares de pomares de cerejeiras, área que tem vindo a crescer todos os anos e que leva que este concelho seja considerado uma das maiores zonas de produção de cereja a nível nacional.
De acordo com um levantamento feito pela autarquia, a fileira da produção de cereja neste concelho (que inclui subprodutos e negócios associados), já representa mais de 20 milhões de euros por ano na economia local.

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