As festas do Santo Cristo dos Milagres, as maiores festas religiosas dos Açores, não se vão realizar, pela primeira vez em 320 anos, devido à pandemia da covid-19.
A Irmandade do Santo Cristo dos Milagres e o reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres decidiram suspender as festas em honra do ‘ecce homo’, mas garantem que a imagem do Santo Cristo vai sair à rua após a normalização da situação.
A decisão de suspensão das festas, que deveriam realizar-se em Ponta Delgada, de 15 a 17 de maio, foi tomada após uma reunião com todos os envolvidos na organização e preparação das festividades.
Em declarações ao sítio Igreja Açores, o reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo, o cónego Adriano Borges, defendeu que esta decisão é um sinal de “responsabilidade que se quer dar”, ainda que tenha sido uma “decisão difícil”, pois é a primeira na história deste culto que as festas não se realizam.
“A nossa mensagem tem sido a de um constante apelo à responsabilidade: que toda a gente fique em casa, se proteja, se resguarde porque assim está a tomar conta de si mas também a contribuir para o bem comum. Por isso, a suspensão da festa era a única possibilidade. Em causa está, não só a festa, mas todos os preparativos que exigiriam tempo e uma normalidade que nem a região nem o país permitem”, explicou.
Adriano Borges assegura que, “mal a situação o permita, a imagem sairá excecionalmente à rua para uma celebração de ação de graças”.
O reitor do Santuário acrescentou que as festas “serão reequacionadas” quando “as condições sanitárias o permitirem e a normalidade estiver reposta”.
As maiores festas religiosas dos Açores, que têm como ponto alto a procissão do Santo Cristo dos Milagres, recebem anualmente milhares de pessoas oriundas de todas as ilhas dos Açores e do continente, bem como dos emigrantes oriundos dos Estados Unidos e do Canadá.
A primeira procissão foi em Ponta Delgada a 11 de abril de 1700
Segundo os dados históricos disponíveis, a primeira procissão em honra do Santo Cristo dos Milagres teve lugar em Ponta Delgada, em 11 de abril de 1700, ano em que a ilha de São Miguel foi abalada por fortes sismos.
Nessa altura, as forças vivas da sociedade mobilizaram-se e dirigiram-se ao Mosteiro da Esperança para levarem, em procissão, a imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres.
As festas do Senhor Santo Cristo, que se realizam no quinto domingo a seguir à Pascoa, só uma vez é que tiveram a data alterada e foi para coincidirem com a deslocação aos Açores da comitiva régia liderada pelo Rei D. Carlos e pela Rainha D. Amélia.
A imagem do Santo Cristo só sai da Igreja para acompanhar a procissão nas festas, mas saiu excecionalmente, em maio de 1991, para o Campo de São Francisco durante a visita do papa São João Paulo II aos Açores.