O mundo está a emitir menos um milhão de toneladas de dióxido de carbono por dia com a quebra no consumo de petróleo devido à pandemia de Covid-19, indicam dados baseados em relatórios internacionais.
A Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou um relatório segundo o qual a procura global de petróleo deve contrair-se este ano pela primeira vez desde 2009, devido à Covid-19, sendo que estão em causa menos 90.000 barris de petróleo por dia em relação ao ano passado, não ultrapassando os 99,9 milhões de barris por dia.
O novo coronavírus, que provoca a doença Covid-19, levou a AIE a traçar ainda um cenário pessimista para o ano, de menos 730.000 barris por dia, e um otimista de mais 480.000 barris por dia.
Transpondo a quebra no consumo de petróleo para as emissões de dióxido de carbono (CO2) no primeiro trimestre, houve uma redução de emissões calculada em 9,6 milhões de toneladas, o equivalente a menos 1,4 vezes as emissões de Portugal em 2017.
Se à redução na procura de petróleo se juntar o abrandamento do consumo de carvão, com base em números divulgados pelo portal especializado “Carbon Brief”, as estimativas indicam que as emissões mundiais de CO2 podem reduzir-se este ano em cerca de 7%, um valor próximo do que o planeta devia atingir em 2020 com os esforços dos países para cumprir o Acordo de Paris sobre alterações climáticas.
Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente indica que para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus celsius acima da média da era pré-industrial é preciso reduzir em 7,6% por ano as emissões de gases com efeito de estufa, um número que este ano pode ser atingido.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) prevê que a economia tenha o crescimento mais fraco desde a crise de 2009 devido ao novo coronavírus.
A quebra deve-se essencialmente à contração da China. Um balanço publicado no “Carbon Brief”, atualizado a 04 de março, indica que a paralisação de grandes regiões da China reduziu em 25% as emissões de CO2 do país.
Devido à Covid-19, que surgiu em dezembro de 2019 na China, nestes primeiros meses do ano o consumo de carvão nas fábricas caiu 36%, e a produção de carvão caiu 29%, tendo a capacidade de refinar petróleo sido reduzida em 34%.
Ao todo, diz-se na página, as medidas da China para conter o coronavírus levaram a uma redução de entre 15% e 40% da produção nos principais setores industriais.
“É provável que isso tenha impedido um quarto ou mais das emissões de CO2 do país nas últimas quatro semanas”, diz o portal, acrescentando que em 2019 a China emitiu cerca de 800 milhões de toneladas de CO2, pelo que o vírus poderá ter impedido a libertação de 200 milhões de toneladas até ao momento.
Extrapolando para o ano inteiro, com a redução na produção de carvão da China mais a redução na venda de barris de petróleo, a quebra das emissões de CO2 será acima de 6%.
Dados publicados pela NASA há menos de três semanas revelam que a mudança de padrões de comportamento e da atividade industrial na China reduziram os níveis de dióxido de azoto e que com a queda nas atividades industriais que utilizam carvão e petróleo também houve uma queda nas emissões de CO2.
A aviação, responsável por cerca de 2% das emissões globais de CO2, é um dos lados mais visíveis das consequências do coronavírus, com milhares de ligações anuladas e milhares de aviões em terra. Só em Portugal, a TAP anunciou o cancelamento de 2.500 voos e em Frankfurt, a transportadora alemã Lufthansa anunciou a suspensão de 23.000 voos até 24 de abril.
Na crise financeira de 2008/2009 também houve uma grande queda, mas depois da crise vieram as medidas dos governos para estimular as economias e voltaram em força as emissões de CO2. A evolução positiva da China pode indicar que a “crise” da Covid-19 será mais curta do que a crise de 2008/2009, e que as emissões vão voltar aos níveis habituais.