Um edifício de 12 metros de altura, em forma de bolo de noiva, revestido de azulejos e peças decorativas da Fábrica Viúva Lamego é o novo projeto de Joana Vasconcelos, que será inaugurado no final do verão em Inglaterra.
Esta nova peça da artista plástica foi apresentada à comunicação social, durante uma visita à Fábrica de Azulejos Viúva Lamego, que deu a conhecer todo o percurso das várias fases do processo de produção de azulejos e peças de cerâmica, da extrusão à pintura, passando pela olaria, vidragem e fornos.
No final da visita, que contou com a participação da ministra da Cultura, Graça Fonseca, Joana Vasconcelos mostrou uma maquete do seu “Bolo de Noiva”, um projeto que resultou de “uma encomenda do Lord Rothschild para ser colocada em Waddesdon Manor”, no “grande parque de esculturas que ele tem em Inglaterra”, explicou a artista.
Joana Vasconcelos explicou que se encontra a trabalhar neste projeto desde 2017, mas que é um “projeto muito complexo”, com mais de dez metros de altura e com quatro andares, que “é um bolo de noiva que é um edifício e que é uma escultura e é visitável”.
“Pode-se entrar no rés-do-chão, subir até ao topo do bolo e nós transformamo-nos nas figuras do topo do bolo, ou seja transformamo-nos no noivo e na noiva”, disse.
Revestida com mais de 15 mil azulejos e cerca de mil peças decorativas vidradas à mão e impermeabilizadas – peças que fazem parte do acervo da fábrica -, esta escultura tem cerca de dez pessoas da Viúva Lamego a trabalhar na sua produção.
“É todo revestido em cerâmica, cerâmica toda da Viúva Lamego, cheia de elementos que acompanham a história da Viúva Lamego desde 1840. Vim colecionar objetos desde o principio desta fábrica até hoje, misturei-os e eles vão fazer toda a fachada do bolo, usando algumas cores que são as próprias de pastelaria e dos bolos de noiva”, contou Joana Vasconcelos.
São todas cores de água e cada piso tem uma diferente: o primeiro piso é verde, o segundo azul, o terceiro é rosa e o último andar é amarelo.
“É uma peça toda desenvolvida aqui, recuperando moldes, peças que já não eram comercializadas, e recuperando uma estética, que é uma estética portuguesa que tem vindo a acompanhar tanto os nossos espaços públicos, como os nossos espaços mais domésticos, as fachadas dos nossos prédios, no fundo são objetos que conhecemos do nosso dia-a-dia, mas que aqui estão compostos de outra maneira e criando este bolo de noiva”, acrescentou.
Este “edifício-escultura” é, no fundo, “uma transformação de escala do bolo de noiva à escala humana de forma que nós nos tornamos as figuras no topo do bolo”.
O bolo é composto essencialmente de dois elementos de características portuguesas, que é a cerâmica e o ferro forjado. Na base tem uma estrutura de ferro montável e desmontável, feita em Portugal, que será depois montada em atelier.
A inauguração, no jardim de esculturas de Waddesdon Manor, no Reino Unido, está prevista para setembro ou outubro deste ano, adiantou Joana Vasconcelos, esclarecendo que este bolo de noiva terá acesso público, já que o jardim é visitável e recebe mais de 400 mil pessoas por ano.
A artista destacou ainda a importância do “esforço dos artesãos, de recuperação do património, e de ver como um fabrica se pode associar a um artista, e como é que isso pode dinamizar uma indústria e trazer emprego, e trazer a recuperação do património e criar contemporaneidade”.
A ministra da Cultura destacou este mesmo aspeto da importância do trabalho conjunto entre a fábrica e a artista, para uma maior internacionalização não só da arte portuguesa, mas também da cultura tradicional portuguesa, nomeadamente a ligada ao artesanato.
“Esta fábrica tem demonstrado bem como o cruzamento entre a industria e a arte” – neste caso uma fábrica, como a Fábrica Viúva Lamego, que fabrica há muitos anos um dos elementos mais característicos da cultura portuguesa, o azulejo – “tem um potencial enorme para ambos, para o artista e para a fábrica”.
Graça Fonseca destacou ainda o facto de Joana Vasconcelos ter prevista a inauguração de uma “importante exposição, no parque de Yorkshire”, na próxima sexta-feira, que ficará patente cerca de um ano, até janeiro de 2021.
“É a primeira vez que um artista português expõe neste parque, neste museu que tem um parque, onde temos arte publica de grande dimensão, de artistas de grande prestigio internacional”, salientou a ministra.