O antigo líder da claque Juventude Leonina Fernando Mendes disse esta sexta-feira em tribunal que no dia da invasão à academia foi apenas conversar com Jorge Jesus, então treinador do Sporting, considerando “lamentáveis” as agressões que vieram a acontecer.
Na 35.ª sessão do julgamento que decorre no tribunal de Monsanto, Fernando Mendes, um dos 44 arguidos no processo, explicou que a razão da conversa se devia ao diferendo com o futebolista Marcos Acuña, ocorrido no final do jogo Marítimo-Sporting (2-1), disputado em 13 de maio de 2018, dois dias antes da invasão à Academia (15 de maio), no qual o argentino e o antigo responsável pela claque trocaram insultos no aeroporto da Madeira.
“Disse ao ‘mister’ [Jorge] Jesus que era inadmissível e que tinha de dar uma reprimenda ao jogador. Disse que na terça-feira iria lá falar com o ‘mister’ e o Jorge Jesus respondeu ‘OK’. Estava com o carro avariado e a carta apreendida, por isso pedi a um amigo, Tiago Silva, se me podia dar boleia até à academia”, explicou, acrescentando: “Eu ia para acabar aquela conversa com o ‘mister’ Jesus”.
Fernando Mendes revelou, durante cerca de duas horas de depoimento, que no caminho para Alcochete acabou por se juntar a outros adeptos, que também são arguidos no processo, nomeadamente, Bruno Monteiro, Nuno Torres, Joaquim Costa e Getúlio Fernandes. No entanto, garantiu que não estava a par de qualquer combinação e que ficou surpreendido com o aparato encontrado nas imediações da academia.
“Apercebo-me de pessoas a correr à minha frente. Já havia pessoas bem à frente, umas largas dezenas ou centenas de metros. Não liguei muito. Pensei ‘Vão a correr e depois têm de parar para se identificar à entrada’. O Tiago estava perto, mas fui cumprimentando pessoas e perdi o paradeiro do Tiago. Entrei de cara destapada. Quem não deve, não teme”, frisou, sublinhando mais tarde: “Ninguém me mandou, fui lá de livre e espontânea vontade”.
Fernando Mendes continuou a recordar o dia da invasão à academia do clube lisboeta, que resultou na agressão a jogadores e elementos da equipa técnica.
“No portão, olhei para a guarita e já não vejo o vigilante. Pensei ‘Houve autorização para entrar’. O ‘mister’ Jesus veio na minha direção e disse ‘Fernando, ajuda-me’. Tinha uma lesão na cara. Eu disse: ‘Não sei de nada disto, vim aqui para falar consigo’. Ele estava extremamente nervoso”, citou Fernando Mendes, resumindo: “Isto foi a primeira, a única e a última vez que aconteceu.”
Questionado sobre os telefonemas para o ex-presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, o antigo líder da Juventude Leonina afirmou ter ligado para explicar o que ocorrera com Acuña.
“Na primeira chamada era para dizer o que tinha ido fazer ao aeroporto da Madeira. Estava também ligeiramente alcoolizado, mas isso não justifica tudo. Fui lá, estava exaltado e quis justificar o porquê ao presidente do meu clube. No segundo telefonema, já estava no meu hotel, não sei o que disse. Com todo o respeito pelo Bruno de Carvalho, era uma ‘conversa de bêbedos’. Nem sei se o ofendi e, se o fiz, até lhe peço aqui desculpa”, afirmou.
O processo da invasão à Academia tem 44 arguidos, acusados de coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Bruno de Carvalho, Nuno Mendes ‘Mustafá’, atual líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados de autoria moral de todos os crimes.