O presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) acusou hoje a Associação Portuguesa de Bancos (APB) de “chantagem” depois de a entidade ter dito que limites às comissões podem conduzir a despedimentos e fecho de balcões.
Em comunicado hoje, a propósito da discussão na quinta-feira no parlamento de propostas de BE, PCP, PS, PAN e PSD sobre limitação e proibição de comissões bancárias, a associação que representa os principais bancos que operam em Portugal considerou que limitar ou proibir comissões pode ter como consequência os bancos reduzirem “ainda mais a estrutura de custos, designadamente com pessoal e rede de balcões”, uma vez que condiciona a rentabilidade dos bancos.
Pode também levar à “deslocalização da atividade bancária para fora de Portugal”, já que bancos que oferecem serviços financeiros remotamente não têm as mesmas limitações.
Para Paulo Marcos, a APB devia estar “preocupada com outras coisas”, como a redução do número de administradores das instituições bancárias ou da sua remuneração.
“Estou convencido de que os acionistas dos bancos não ficam nada contentes com este tipo de posições idiotas. Os bancos devem poder cobrar comissões dos serviços que prestam, isso parece-me inquestionável”, referiu, aconselhando Faria de Oliveira a preocupar-se caso “algum dos seus associados esteja cobrar comissões por serviços que não presta”.
“Mas isso é uma discussão que terá que acontecer no parlamento”, acrescentou.
Paulo Marcos assegurou ainda que “os bancos internacionais que escolhem Portugal para sediar a suas operações acreditam na economia portuguesa e na qualidade das pessoas e da sua qualificação” e considerou “desconcertante” que “num ano com lucros recorde” os associados da APB “queiram aumentar os trabalhadores bancários em apenas 0,2%”.
Paulo Marcos apelou ainda para que a APB lute para evitar que os bancos nacionais fiquem em desvantagem face aos europeus, visto que, sublinhou, “os grandes clientes institucionais da Europa acorrem [a Portugal] a fazer depósitos, porque não têm que pagar, sendo que em outros países os depositantes com mais de 100 milhões de euros” têm custos associados a estes serviços.
“Agora fazer aumentos de 0,2% aos bancários e dizer que é preciso fechar balcões e despedir pessoas, porque não deixam cobrar comissões, isso é que me parece desajustado”, criticou.
Na quinta-feira, o parlamento irá discutir propostas sobre limitação e proibição de comissões bancárias, sendo que um tema transversal são as comissões cobradas pelos bancos nas plataformas eletrónicas, como MB Way.
Segundo contas feitas pela Lusa, os principais bancos arrecadaram mais de 1.500 milhões de euros em comissões em 2019, mais 40 milhões de euros do que em 2018.
Em conjunto, Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, BPI e Santander Totta aumentaram em 40 milhões de euros o valor cobrado em comissões entre 2018 e 2019 (em base comparável) para mais de 1.500 milhões de euros.
O Novo Banco não está incluído nestas contas, uma vez que só apresenta os resultados de 2019 na próxima sexta-feira