Chamam-lhe “o jogo”. Atravessar da Bósnia-Herzegovina para a Croácia é uma aposta perigosa. Envolve passar dias a escalar montanhas íngremes, atravessar florestas selvagens e, no inverno, tudo é feito sob temperaturas abaixo de zero. A Bósnia-Herzegovina é a porta das traseiras da Europa. Uma porta que os funcionários de Bruxelas tentam, desesperadamente, manter fechada.
“Até agora, a União Europeia deu 36 milhões de euros para responder às necessidades mais prementes de refugiados e migrantes e também para ajudar a reforçar a capacidade de gestão de fronteiras das autoridades da Bósnia-Herzegovina,” explica a porta-voz da União Europeia (UE) para Cooperação e Desenvolvimento Internacional, Ana Pisonero.
A Bósnia partilha a tarefa de proteger as fronteiras externas da UE com a polícia croata – que tem sido repetidamente acusada de práticas controversas.
“Estamos a poucos metros da fronteira croata – a União Europeia começa logo ali. De acordo com denuncias, é para aqui que a polícia croata tem trazido pessoas de volta, de forma ilegal e violando a legislação europeia,” revela a jornalista da Euronews, Anelise Borges, perto de Bihac, Bósnia-Herzegovina.
O regulamento de Dublin estabelece que os Estados membros da União Europeia devem permitir – e processar – pedidos de asilo. Deportações informais, sem o devido processo, são ilegais. Mas as forças croatas foram acusadas de muito pior – incluindo brutalidade policial – O que as autoridades negam.
“Eu não vi (as provas). Existem muitas dessas campanhas da sociedade civil que tentam provar que é esse o caso, mas também desconfio – eu trabalhei num escritório de advogados sobre questões de migração. Sei como algumas desse material pode ser,” afirma a euroeputada croata Željana Zovko.
No lado bósnio da fronteira, as histórias sobre abuso da polícia croata estão por toda parte. Mas, aqui, as autoridades insistem que a melhor solução é manter as pessoas afastadas.
“A União Europeia precisa entender que, para ter segurança, é preciso transformar a Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro e toda a região numa barreira impenetrável para os migrantes,” declara o ministro da Segurança da Bósnia-Herzegovina. Fahrudin Radoncic.
Um ditado bósnio diz que quando uma porta se fecha outra se abre. Mas as autoridades daqui dizem que estão prontas para fazer mais para manter a fortaleza da Europa fechada e pessoas como Hussein fora. O jovem de 12 anos está doente e, pelo menos por hoje, desistiu da ideia de atravessar a fronteira
De acordo com a agência da ONU para os refugiados, 37.000 pessoas deixam os seus lares todos os dias e embarcam numa viagem que só esperam que os leve a algum lugar melhor.