Pelas aldeias de Góis, em meio à Serra da Lousã, passam os foliões com as suas máscaras feitas em cortiça. Percorrem várias aldeias e tudo lhes é permitido: declamar quadras jocosas sobre os habitantes ds aldeias, atormentar as senhoras mais velhas e seduzir as mais novas.
Nas aldeias do xisto do concelho de Góis (distrito de Coimbra), o Entrudo vivia-se de forma simples. Numa terra de poder económico baixo, o povo usava a imaginação como substituto da capacidade financeira para comprar materiais.
Procuravam roupa e objetos velhos e precisavam de algo que escondesse o rosto. E usavam qualquer coisa que houvesse por casa: serapilheiras, fronhas velhas, trapos, um ‘peneiro das abelhas’ ou ainda uma máscara ‘diabólica’ feita a partir de cortiça.
Depois, corriam as várias aldeias de xisto do concelho a declamar quadras jocosas sobre os habitantes, atormentar as senhoras mais velhas e seduzir as mais novas.
As máscaras em cortiça tornaram-se na marca do Entrudo que ainda hoje se realiza. Recuperada pela Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã, a tradição anima todos os anos o Carnaval pelas ruas da aldeia do xisto de Aigra Nova e das aldeias vizinhas.
A Corrida do Entrudo acontece a 23 de fevereiro, a partir das 08h30, e Aigra Nova é o ponto de partida e o momento alto do dia. Ao longo do percurso os mascarados voltarão chatear as mais velhas,seduzir as mais novas e fazer declamações irónicas baseadas em estórias que aconteceram ao longo do ano.
Ao longo da tarde, acontecem as outras atividades, como o bailarico, o ateliê de Construção de Máscaras em Cortiça, o jogo do pau e o Desfile do Entrudo. Este ano haverá uma novidade: a Queima do Entrudo quando uma espécie de espantalho será lançado o fogo.
Vestidos e mascarados a rigor…
O Carnaval nas aldeias de xisto do concelho de Góis assentiu sempre na Corrida do Entrudo, mas para participar era preciso estar vestido a rigor. Depois os foliões partiam para correr as aldeias, brincar e ironizar.
Durante muito tempo apenas participavam homens e rapazes, mas o despovoamento das aldeias abriu portas à participação das raparigas e mulheres, para que o número de participantes não se reduzisse e nem houvesse a hipótese da tradição desaparecer.
Para os participantes, era importante não se deixar reconhecer e, assim, homens vestiam-se de mulheres e estas usavam rouoas masculinas. Ia buscar-se as roupas antigas ao fundo dos baús – fatos, vestidos, lenços, xailes, sapatos, botas, luvas, etc.
Valia tudo: vesti-las do avesso ou trocar a ordem, com as roupas interiores usadas por cima da todo o outro vestuário. As mãos deveriam usar sempre luvas, as pernas cobertas com meias, collants ou até as antigas ceroulas e os braços tapados com as mangas. ‘Cuidados’ que até hoje os foliões respeitam. Chocalhos, campainhas, guizos ou outros acessórios barulhentos completavam a indumentária.
Já no rosto, e apesar de poderem usar outros artifícios, ficaram famosas, até hoje, o uso de máscaras e cortiça. Na serra, procuravam sempre os sobreiros mais antigos, para encontrarem um pedaço de cortiça com um formato que fornecesse uma face ‘horripilante’. Depois, dava-se largas à imaginação para adornar as máscaras…
Alguns dos velhos instrumentos usados nos bailes e que já estivessem desafinados, como uma concertina, um bombo, uma caixa, um reco-reco, acompanhavam o cortejo.
Programa da Corrida do Entrudo
08h30: Receção aos foliões em Aigra Nova
09h30: Saída em direção à Pena (10h), Cerdeira (11h), Esporão (12h), Ponte Sotão (13h)
13h30: Chegada a Aigra Nova – convívio e almoço
15h: Início do Bailarico com o Grupo Etnográfico da Região da Lousã
– Ateliê de Construção de Máscaras em Cortiça, com José Cerdeira, artesão local
– Jogo do Pau, com a busca do presunto e do bacalhau
– III Edição do Desfile de Entrudo
– Queima do Entrudo
Um autocarro fará o transporte entre aldeias para quem quiser acompanhar a corrida, com um custo de 2,50 euros por pessoa. As inscrições são feitas através do e-mail lousitanea@lousitanea.org. O almoço tem o valor de cinco euros