Água poderá ficar meses nos campos dizem os agricultores do Mondego

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O presidente da cooperativa agrícola de Montemor-o-Velho diz que a água acumulada nos campos de cultivo do Baixo Mondego poderá ali ficar meses e antecipa prejuízos gravíssimos para o regadio pela areia arrastada pelo rio.
Em declarações à Lusa, Armindo Valente estimou que com a situação de cheia que afeta aquela zona desde sábado “praticamente a totalidade da área de cultivo do Baixo Mondego (entre 5.000 a 6.000 hectares, o equivalente a mais de 8.500 campos relvados de futebol) está debaixo de água”.
“Uma parte pelas inundações provocadas pelo Mondego, outra pelos afluentes, pelo Pranto, Arunca e Foja, mas está tudo debaixo de água”, reforçou.
Numa elevação da localidade de Meãs do Campo, Armindo Valente olha o vale do Mondego submerso e assinala, à distância, o visível rombo no dique direito do canal principal – que ruiu sábado entre as pontes de Pereira e Formoselha, sensivelmente na mesma zona de um outro ocorrido aquando das cheias de 2001.
O agricultor estima “prejuízos gravíssimos e bastante avultados” para as infraestruturas de regadio e drenagem da planície agrícola, quer por ação da inundação – que há 18 anos arrancou caixas de rega e entulhou valas, entre outros danos – mas também pela areia arrastada pelo rio para dentro dos campos.
“Na altura, o rio transportou areia para dentro dos campos agrícolas, cerca de 50.000 metros cúbicos (m3) [o equivalente a um valor entre as 85 mil e as 115 mil toneladas de sedimentos] e agora pode acontecer o mesmo. Mas só quando as águas baixarem é que teremos a perceção real da situação”, notou Armindo Valente.
Por outro lado está a questão do escoamento de água, que continua a entrar nos campos agrícolas pelo buraco aberto na margem direita do leito principal, à razão de 400 m3/s – 400 mil litros por segundo – débito revelado hoje pelo comandante distrital de operações de socorro de Coimbra, Carlos Luís Tavares.
Sem a rutura que aconteceu domingo no talude esquerdo do leito periférico direito do rio (canal abastecido pela água das encostas das povoações de Carapinheira, Meãs do Campo e Tentúgal, na margem norte da Bacia do Mondego) – que se aumenta o perigo de inundação da vila de Montemor-o-Velho, caso o talude do lado direito (que tem vindo a ser reforçado com pedra) também venha a ceder, mas paradoxalmente favorece o escoamento da água que ali entra proveniente da planície inundada – Armindo Valente apontava um prazo de seis meses para a água voltar ao Mondego.
É que sem o ‘novo’ caminho de regresso ao rio, ‘proporcionado’ pelo colapso no talude esquerdo do leito periférico direito, a saída da água dos campos seria feita apenas pelo chamado leito abandonado – este oriundo de uma obra do século XVIII, apelidado de “Rio Velho”, por onde o Mondego corria junto a Montemor-o-Velho e à povoação de Ereira, até à obra de regularização da década de 1970 o ter localizado mais a sul.
Na zona da ponte das Lavandeiras – local que por ser a confluência de vários canais, incluindo um outro, hoje não visível, mas que era o rio ancestral, a população apelida de “embrulhada” de Montemor – o Rio Velho passa por debaixo do leito periférico direito, por um sistema de sifão e segue a céu aberto cerca de seis quilómetros, até regressar ao leito principal do Mondego, a jusante, após a povoação de Ereira, já na fronteira com o município da Figueira da Foz.
“Compete à APA (Agência Portuguesa do Ambiente) perceber como é que esta água toda que está dentro dos campos agrícolas vai regressar ao Mondego, porque todo este escoamento do vale central é feito por um sifão que é como um ralo de uma banheira gigantesca”, ilustrou Armindo Valente.
“Não estou a dizer que o sifão tem de ser aumentado, porque senão estaríamos a transferir a cheia dos campos do vale central para Montemor. Mas têm de ser feitas umas comportas na confluência do leito periférico com o rio Mondego, para que esta água possa ter condições de regressar ao Mondego, porque só com o sifão nem daqui a seis meses sai. E diziam que as cheias do Mondego estavam previstas de 50 em 50 anos, mas está visto que não é assim”, alertou o presidente da cooperativa agrícola.

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