Há 39 anos, a 04 de dezembro de 1980, Francisco Sá Carneiro morria em consequência da queda do avião em que seguia para o Porto para participar num comício do General Soares Carneiro. Quase quatro décadas depois, há ainda muito por concretizar do sonho de Sá Carneiro e da visão que tinha para o país.
Francisco Sá Carneiro nasceu em 1934, no Porto. Era o quinto filho de uma família católica e de raiz conservadora. Teve uma infância marcada pela felicidade, embora tivesse vivido episódios de saúde frágil. Estudou no Liceu D. Manuel II, onde recebeu o prémio dos Rotários como melhor aluno do ano. Concluiu a Licenciatura em Direito na Universidade de Lisboa, iniciando de imediato a profissão de advogado à qual se dedicou em exclusividade até ao 25 de abril, atividade que interrompeu durante o período em que foi deputado independente da Ala Liberal na Assembleia Nacional.
A Ala Liberal
Foi durante vários anos diretor da “Revista dos Tribunais”. Em 1969, aceitou a candidatura à Assembleia Nacional, vincando num comunicado, juntamente com três outros candidatos pelo círculo do Porto – Joaquim Macedo, Joaquim Correia da Silva e José da Silva –, a total independência em relação ao Governo de Marcello Caetano ao mesmo tempo que afirmava bater-se, acima de tudo, pela efetivação das liberdades públicas e pelos direitos do homem, pugnando pela instauração da democracia em Portugal.
Em 25 de novembro de 1969, integra-se no grupo de 20 deputados que acabaria por designar-se de Ala Liberal (a referência é do jornalista Alves Fernandes, do jornal “O Século”). Da Ala Liberal farão parte Sá Carneiro, José Pedro Pinto Leite, Pinto Balsemão, Mota Amaral, Miller Guerra, Magalhães Mota, Pinto Machado, Correia da Cunha e José da Silva.
Por considerar não poder continuar a exercer o mandato de deputado, decisão que justificou em extenso documento, Francisco Sá Carneiro renunciou à sua continuidade na Assembleia Nacional, em 2 de fevereiro de 1973. Colaborou com o “Expresso”, propriedade de Pinto Balsemão, assinando a coluna “Visto”. Sá Carneiro esteve para cessar a colaboração com o semanário dado a vontade da censura do regime em silenciar a voz do deputado portuense. No ano de 1973, volta a insurgir-se contra o regime, pondo em causa a legitimidade do Estado Novo.
PPD/PSD
Depois do 25 de abril de 1974 é o primeiro secretário-geral do Partido Popular Democrático (PPD), partido que funda com Pinto Balsemão e Magalhães Mota, e mais tarde o primeiro presidente do Partido Social Democrata (PSD) que resultou da alteração de estatutos do PPD. Nessa qualidade, é um dos protagonistas de todo o período que medeia entre a revolução dos cravos e a consolidação democrática do país, nomeadamente durante o período do PREC, e depois no tempo dos primeiros Governos Constitucionais.
Amor e coragem
A 6 de Janeiro de 1976, Snu Abecassis e Francisco Sá Carneiro conhecem-se num almoço organizado pela poetiza Natália Correia, no restaurante lisboeta “A Varanda do Chanceler”. Até então, tinham falado ao telefone algumas vezes mas nunca se haviam cruzado. Foi, na verdade, o primeiro dia do resto das vidas deles.
Snu dedicava-se de alma e coração à sua editora (Publicações D. Quixote), publicando livros nem sempre recomendáveis aos olhos atentos do Estado Novo.
A paixão do líder e fundador do PPD, casado e pai de filhos, pela dinamarquesa, também ela casada, causou furor no Portugal revolucionário na política, mas reacionário nos costumes, dos anos quentes de 1975 e 76. Durante 5 anos viveram uma paixão arrebatadora. Arrebatadora mas pecaminosa, aos olhos da Igreja e da sociedade. O Papa recusou-se a recebe-los e os adversários chegaram mesmo à baixeza moral de usarem a sua relação na política. Mas Francisco Sá Carneiro resistiu.
Aliança Democrática
Após a vitória da Aliança Democrática – união partidária entre o PSD, o CDS e o PPM – nas eleições legislativas em 1979, Francisco Sá Carneiro é nomeado primeiro-ministro, cargo que ocupará até à sua morte na sequência do desastre aéreo de Camarate.
Elogiado tanto por aqueles que dele são ideologicamente próximos, como pelos seus adversários políticos, Francisco Sá Carneiro é ainda hoje mais do que uma referência histórica do PSD, permanecendo como figura tutelar da política portuguesa, e um dos nomes incontornáveis da nossa democracia.