Cerca de nove mil crianças ou jovens em risco foram sinalizados em 2018 através de uma rede de equipas multidisciplinares existentes em todos os centros de saúde e hospitais com pediatria, um modelo elogiado pela Organização Mundial de Saúde.
Um representante da Organização Mundial de Saúde visitou um Núcleo de Apoio a Crianças e Jovens em Risco, no Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Oeiras, para perceber o que são estas unidades, para que servem e como funcionam.
No final da visita, em declarações à agência Lusa, a coordenadora do Programa Nacional de Saúde Infantil e Juvenil, da Direção-geral de Saúde, explicou que esta Rede Nacional de Núcleos de Apoio a Crianças e Jovens em Risco foi criada em 2008 para responder à problemática dos maus tratos tanto ao nível dos cuidados de saúde primários, como ao nível dos cuidados hospitalares.
Segundo Bárbara Menezes, desde que começaram a ser feitos relatórios de recolha de dados, em 2009, que foi possível contabilizar cerca de 70 mil situações de crianças e jovens em risco.
“São cerca de nove mil situações por ano e no ano de 2018 manteve-se nas nove mil situações”, revelou.
Acrescentou que apenas em cerca de 25% dos casos detetados foi preciso encaminhar para as comissões de proteção de menores ou para os tribunais, sublinhando que na maior parte das situações, foi possível resolver com a participação da família, graças ao trabalho do núcleo.
A enfermeira explicou que se trata de equipas multidisciplinares constituídas por médicos, enfermeiros, técnicos de serviço social e psicólogos, todos com formação específica e que fazem consultadoria e prestam apoio às equipas de saúde familiares e às unidades hospitalares.
Um modelo que impressionou o responsável da Organização Mundial de Saúde, já que vai ao encontro do que a própria organização recomenda como prática para combater os maus tratos contra crianças e jovens.
“Isto é algo que frequentemente defendemos como um elemento importante na abordagem que os países devem ter para combater a violência contra as crianças, que é diferentes setores juntarem-se. E o que aprendi hoje, vi em ação e posso dizer a outros países é que Portugal conseguiu e têm os resultados que mostram o impacto deste trabalho intersetorial”, apontou Yongjie Yon.
Referiu que muitas vezes os países mostram-se céticos quanto aos resultados de uma política deste género, alegando que não têm os meios ou que é de difícil implementação.
“Podemos partilhar o exemplo de Portugal. Vimos e isto de facto funciona e tem resultados. Por isso, é importante que recolhamos informação para depois partilhar a experiência de Portugal noutros países”, defendeu o representante da OMS, que está em Portugal para participar no seminário “Saúde Infantil, Promoção e Prevenção”, que decorre sexta-feira, em Lisboa, e onde vai falar sobre lesões não intencionais na infância.
Bárbara Menezes, da Direção-geral de Saúde, sublinhou que a rede precisa agora de uma recolha de dados mais fina, a par de uma formação constante e de investimento no tempo de atuação para cumprir as várias intervenções previstas.
“Na área dos cuidados de saúde primários já conseguimos ter um sistema de informação com todo o processo clínico da criança e com as diretrizes de como se realiza a avaliação de risco familiar e isso ajuda todos os técnicos de saúde a conseguirem objetivar o que estão a observar com aquela criança e aquela família”, apontou.
Os dados mais atuais da rede mostram que existem atualmente 289 núcleos em Portugal continental e Açores, nos quais trabalham 1.050 profissionais de saúde, divididos entre 41 hospitais com atendimento pediátrico e 248 centros de saúde.
O Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Oeiras abrange uma área territorial de 61,21 quilómetros quadrados e serve 250.489 utentes, dos quais 49.663 são crianças com idade entre os zero e os 18 anos.