A cada 39 segundos morre uma criança em todo o mundo por causa desta “epidemia esquecida”: a pneumonia é a doença que mais causa a morte a crianças abaixo dos cinco anos.
A 12 de novembro assinalou-se o Dia Mundial da Pneumonia e a Unicef revelou um número preocupante: a pneumonia matou mais de 800 mil crianças com menos de cinco anos no ano passado: significa que a cada 39 segundos morreu uma criança com idade até aos cinco anos.
Nessa faixa etária, morreram mais crianças em consequência da pneumonia do que devido a qualquer outra doença, incluindo diarreia (em 2018 matou 437 mil crianças menores de cinco anos) e malária (em 2018 morreram 272 mil nessa faixa etária), revela a Unicef num comunicado de imprensa divulgado a 11 de novembro.
A Unicef faz parte de grupo de organizações de saúde que soam o alarme sobre esta “epidemia esquecida” e em janeiro de 2020, líderes mundiais vão debater o tema no Fórum Global sobre Pneumonia Infantil, que terá lugar em Espanha.
No comunicado, a diretora executiva da Unicef, Henrietta Fore, disse que “todos os dias, quase 2,2 mil crianças com menos de cinco anos morrem de pneumonia, uma doença curável e principalmente evitável.”
Em 2018, “a maioria das vítimas tinha menos de dois anos. Quase 153 mil morreram durante o primeiro mês de vida”, refere um comunicado de imprensa divulgado pela Unicef a 11 de novembro.
Henrietta Fore sublinha que é necessário haver “um forte compromisso global e o aumento de investimento” no combate a esta doença. A diretora executiva da Unicef disse ainda que “com intervenções preventivas e tratamentos de baixo custo, se pode salvar milhões de vidas.”
“Somente através de intervenções preventivas e de tratamento económicos, feitos onde as crianças estão, poderemos salvar milhões de vidas”, alerta ainda.
Cinco países centram mais mortes
Kevin Watkins, diretor executivo da ONG ‘Save the Children’ defende também que esta epidemia “exige uma resposta internacional urgente”, porque milhões de crianças morrem “por falta de vacinas, antibióticos acessíveis e tratamento de oxigênio”. Para o especialista, a crise da pneumonia “é um sintoma de negligência e desigualdades sem defesa no acesso aos cuidados de saúde”.
Nigéria, Índia, Paquistão, República Democrática do Congo e Etiópia são os países onde aconteceu mais da metade das mortes. No total destes cinco países, a pneumonia causou a morte a 419 mil crianças com menos de cinco anos.
As crianças com sistema imunológico enfraquecido por outras infecções, como o HIV ou a desnutrição, e aquelas que vivem em áreas com altos níveis de poluição do ar e água impura, correm um risco muito maior de contrair pneumonia, refere a Unicef, sublinhando que a doença pode ser evitada com vacinas e facilmente tratada com antibióticos de baixo custo, se for diagnosticada atempadamente.
“Apesar disso, dezenas de milhões de meninos e meninas não são vacinadas e uma em cada três crianças com sintomas não recebe atendimento médico” e os casos mais graves chegam a precisar de tratamento com oxigénio, “que raramente está disponível nos países mais pobres”, lamenta ainda a Unicef.
Para Seth Berkley, CEO da Gavi (Aliança Mundial para Vacinas e Imunização, em português), “é francamente chocante” que uma doença evitável, tratável e facilmente diagnosticável, seja ainda hoje em dia “o maior assassino de crianças pequenas do mundo”.
Pouco financiamento para investigação
Apesar desta triste realidade, elogia o “forte progresso” da última década, com milhões de crianças nos países mais pobres a receberem a vacina pneumocócica que salva vidas. “Graças em grande parte ao apoio de Gavi, a cobertura da vacina contra pneumococos nos países de baixa renda é agora superior à média global”, elogia.
Mas apesar destas conquistas, assegura que ainda há muito trabalho a fazer “para garantir que todas as crianças tenham acesso a esse salva-vidas”.
Até porque o financiamento disponível para combater a pneumonia fica muito atrás do que é atribuído a outras doenças. Apenas três por cento dos gastos atuais com pesquisa de doenças infecciosas são destinados à cura da pneumonia, “apesar da doença causar 15% das mortes em crianças menores de cinco anos”, revela Seth Berkley.
Segundo a Unicef, as organizações lançam um apelo aos governos dos países mais afetados, “no sentido de para desenvolver e implementar estratégias de controle de pneumonia para reduzir as mortes por pneumonia infantil” e ainda melhorar o acesso “aos cuidados de saúde primários como parte de uma estratégia mais ampla de cobertura universal de saúde”.
Aos países mais ricos, doadores internacionais e empresas do setor privado é pedido que aumentem a área decobertura da imunização, através da redução do custo das principais vacinas e da garantia de reabastecimentos bem-sucedidos da Gavi, a Aliança Mundial para Vacinas e Imunização. É fundamental ainda, aumentar o financiamento para pesquisa e inovação de combater à pneumonia, acrescentam as organizações.
Os países com casos de mortes relacionadas com pneumonia em crianças abaixo dos cinco anos
1. Nigéria – 162 mil
2. Índia – 127 mil
3. Paquistão – 58 mil
4. República Democrática do Congo – 40 mil
5. Etiópia – 32 mil
6. Indonésia – 19 mil
7. China – 18 mil
8. Chad – 18 mil
9. Angola – 16 mil
10. Tanzânia – 15 mil
11. Somália – 15 mil
12. Niger – 13 mil
13. Mali – 13 mil
14. Bangladesh – 12 mil
15. Sudão – 11 mil
Total: 802 mil
Ana Grácio Pinto
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