Os Estados Unidos informaram na segunda-feira a Organização das Nações Unidas (ONU) de que iniciaram o processo de retirada do acordo de combate às alterações climáticas, assinado em Paris em 2015. A China, maior emissor mundial de gases com efeito estufa, anunciou hoje lamentar esta formalização dos Estados Unidos diante da ONU.

“Esperamos que os Estados Unidos mostrem mais responsabilidade e contribuam mais para o processo de cooperação multilateral, em vez de adicionar energia negativa”, disse o porta-voz da diplomacia chinesa, Geng Shuang, aos jornalistas.

A França declarou também lamentar a oficialização pelos Estados Unidos, uma medida que “já se esperava”.

“Lamentamos e isso torna ainda mais necessária a parceria franco-chinesa sobre o clima e a biodiversidade”, indicou a Presidência francesa, no momento em que o Presidente Emmanuel Macron inicia o seu segundo dia de visita à China.

A Alemanha sublinhou hoje que a decisão do governo dos EUA de se retirar o acordo climático de Paris é “lamentável”, mas não surpreende.

A ministra do Meio Ambiente alemã, Svenja Schulze, disse que os EUA anunciaram o seu plano de se retirar do Acordo há dois anos e “felizmente permaneceram sozinhos ao fazê-lo”.

Svenja Schulze declarou que o “efeito dominó” que alguns temiam depois que o anúncio de Donald Trump não ocorreu.

“O resto do mundo está unido na proteção do clima”, disse num comunicado a ministra alemã, observando que até a Rússia, exportadora de combustíveis fósseis, aderiu recentemente ao pacto.

A formalização da saída dos EUA do Acordo representa um “sério” golpe neste pacto pela luta contra as mudanças climáticas, disse por seu lado o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

“Isso prejudica o acordo da maneira mais séria, porque é um país líder em termos de emissões de gases de efeito estufa”, disse Peskov, acrescentando que “sem a maior economia do mundo, é ainda difícil falar de um acordo climático”.

A ministra em exercício da Transição Ecológica de Espanha, Teresa Ribera, e a ministra do Meio Ambiente do Chile, Carolina Schmidt, lamentaram também a decisão dos Estados Unidos de iniciar o processo de retirada do Acordo de Paris.

O Chile, como presidente da próxima cimeira do clima da ONU (COP25) e a Espanha, como país anfitrião da conferência, expressaram em conjunto o seu desejo de que os Estados Unidos “reconsiderem essa decisão o mais rapidamente possível”, a fim de contar com sua contribuição neste acordo.

As ministras enfatizaram o “apoio global ao Acordo de Paris”, ratificado até hoje por 187 países, o que mostra um claro sinal de compromisso da comunidade internacional.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, afirmou na segunda-feira que tinha submetido à ONU o pedido formal de retida do Acordo. Este pedido inicia o processo de saída que, contudo, vai demorar pelo menos um ano.

Na declaração, Pompeo considera que o Acordo de Paris constitui “um peso económico injusto” para os EUA.

Os conservadores norte-americanos saudaram a decisão da administração Trump, mas a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, considerou tratar-se de “uma nova decisão contrária à ciência (…) que vende o futuro do planeta e das crianças”.

Cerca de 200 nações assinaram o acordo de Paris, no qual cada Estado fixa os seus próprios objetivos para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa que provocam a crise climática.

O Acordo enunciou a meta de impedir um agravamento da subida já verificada na temperatura média mundial em mais entre 0,5 e 1 grau Celsius.

Mas os compromissos avançados pelos participantes em 2015 são insuficientes para impedir aqueles níveis de aquecimento.

O aquecimento global, provocado pela queima de carvão, petróleo e gás, já causou o aumento da temperatura média global em um grau centígrado desde o final do século XIX.

Entre os seus resultados estão a fusão dos gelos, eventos extremos e a acidificação dos oceanos. E os cientistas asseguram que, dependendo da quantidade de dióxido de carbono emitido, a situação só vai piorar até ao final do século, com a temperatura a aumentar vários graus e o nível médio do mar em pelo menos um metro.