A presença dos monges cartuxos em Évora, durante cerca de 60 anos, é revisitada e recordada na exposição de fotografia e vídeo ‘Saudades dos Cartuxos’, patente no Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida (Largo do Conde de Vila Flor), em Évora, até março de 2020.
Intitulada ‘Saudades dos Cartuxos’, a mostra reúne trabalhos de Daniel Blaufuks, José M. Rodrigues, Paulo Catrica e Nacho Doce, entre outros fotógrafos, e faz parte do programa preparado pela Fundação Eugénio de Almeida para assinalar a despedida dos quatro monges cartuxos que viviam no Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli (Escada do Céu), perto de Évora, e que agora se mudam para Espanha.
Antes da inauguração da mostra, às 17h, no auditório da FEA, o padre Antão Lopez, monge cartuxo em Évora há 50 anos e prior da Cartuxa de Santa Maria Scala Coeli desde 1989, vai evocar “memórias e vivências do seu percurso monástico e da relação da Cartuxa com a Fundação e com a cidade”.
A exposição ‘Saudades dos Cartuxos’ “escolhe mostrar imagens de carácter documental, umas relativas à reconstrução da Cartuxa, outras relativas aos cartuxos, ao seu quotidiano invisível e documentado pela sua própria mão”, explica o curador da exposição na brochura que a acompanha.
Sob o signo da memória e dos afetos
José Alberto Ferreira, que é diretor artístico do Centro de Arte e Cultura, diz ainda que a ostra escolhe também apresentar “uma série de imagens que revisitam cronologicamente a Cartuxa nas suas relações com a história, a partir de fotografias de arquivo que testemunham eventos dos últimos 72 anos, ao longo dos quais as portas da Cartuxa se abriram ao mundo”.
No seu núcleo central apresenta um conjunto de trabalhos de nove fotógrafos que, na sua maioria, participaram em projetos da Fundação Eugénio de Almeida, quer sobre o seu património, quer especificamente sobre a Cartuxa. “São dezoito fotografias, criadas entre 1970 e 2019, muitas das quais inéditas, agora reunidas sob o signo da memória, dos afetos, da vivência do lugar na espessura do tempo”, revela ainda o curador.
A história da Fundação Eugénio de Almeida está ligada, desde a sua génese, em 1963, ao regresso e à presença da Cartuxa em Évora, como foi vontade e obra do seu instituidor, Vasco Maria Eugénio de Almeida.
Évora acolheu, em 1587, os primeiros monges que fundaram o Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli, mas, quase três séculos mais tarde, “os ventos da história determinaram a expulsão dos filhos de São Bruno” e que “só regressaram a Évora em 1960, pela mão de Vasco Maria Eugénio de Almeida”, realçou a Fundação.
“Foi possível que, durante quase 60 anos, os monges ali permanecessem em silêncio e oração”, referiu, indicando que “chegaram a ser 22, em 1977, mas, com a diminuição de vocações por toda a Europa, a comunidade foi-se reduzindo cada vez mais”.
Numa nota, a Agência Ecclesia refere que a idade avançada dos monges cartuxos e a falta de vocações para a vida contemplativa na Ordem Cartusiana está na origem da saída da congregação da Arquidiocese de Évora, onde está há 60 anos.
Por ocasião da cerimónia de despedida dos monges cartuxos, o arcebispo de Évora, Francisco Senra Coelho, disse que uma comunidade monástica feminina vai habitar o Mosteiro da Cartuxa, após a saída dos monges neste mês de outubro, continuando a arquidiocese com um “pulmão ecológico de espiritualidade”.
‘Saudades dos Cartuxos’
26 de outubro de 2019 a 29 de março de 2020
Curadoria: José Alberto Ferreira
Centro de Arte e Cultura, Piso 0 / Espaço Atrium – Évora
De terça-feira a domingo, das 10h às 18h
Entrada livre