O Estado-Maior-General das Forças Armadas condecorou hoje 24 militares da quinta Força Nacional Destacada na República Centro-Africana (RCA), pelo trabalho desenvolvido ao longo da missão de seis meses que decorreu até ao passado dia 12 de setembro.
A cerimónia de imposição de condecorações foi presidida pelo Ministro da Defesa Nacional que enalteceu os militares “forte resiliência que todos souberam manter, prova da vossa preparação superior, do vosso caráter e da coesão de grupo”.
João Gomes Cravinho enalteceu uma das missões de maior visibilidade no âmbito da participação portuguesa em teatros internacionais, sublinhando que como pode “verificar em julho”, a República Centro-Africana é “um dos cenários operacionais de maior exigência que as nossas Forças enfrentam em democracia”.
No salão nobre do Ministério da Defesa Nacional, em Lisboa, os membros da quinta Força Nacional Destacada na RCA receberam das mãos do ministro da Defesa, do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, almirante Silva Ribeiro, da secretária de Estado da Defesa Nacional, Ana Santos Pinto, e de outras altas entidades militares, cinco medalhas “de serviços distintos”, três “de mérito militar”, cinco “da cruz de São Jorge de terceira classe” e 11 “da cruz de São Jorge de quarta classe”.
O soldado comando Camará foi um dos 24 condacorados. Alui Camará ficou gravemente ferido num acidente ocorrido a 13 de junho, durante uma viagem logística na região de Bouar (350 quilómetros da capital, Bangui), quando a viatura blindada em que seguia se despistou e capotou.
Além do traumatismo craniano, o militar português sofreu um “traumatismo grave dos membros inferiores” que obrigou à amputação das duas pernas, informou na altura o Estado-Maior-General das Forças Armadas.
O soldado comando foi transferido horas depois para Lisboa, tendo acompanhamento médico a bordo da aeronave Falcon 50 da Força Aérea que o foi buscar a Bangui.
O Ministro da Defesa Nacional já tinha entregue, a 14 de outubro, a Aliu Camará a medalha ‘Croix de la Valeur Militaire ‘avec palmes’, concedida pelo Presidente da República Centro-Africana.
“A forte resiliência que todos souberam manter é prova da vossa preparação superior, do vosso caráter e da coesão de grupo. E a resiliência que também o soldado Camará demonstrou, nestes meses de recuperação, confirma isso mesmo. A vossa condecoração pelas Nações Unidas e pelo Presidente da RCA é uma ilustração desse reconhecimento internacional que corresponde também ao nosso reconhecimento em Portugal”, destacou João Gomes Cravinho.

O soldado comando Camará foi um dos 24 condacorados. Alui Camará ficou gravemente ferido num acidente ocorrido a 13 de junho, durante uma viagem logística na região de Bouar (350 quilómetros da capital, Bangui), quando a viatura blindada em que seguia se despistou e capotou
Uma missão “fundamental”
O ministro da Defesa caracterizou a participação portuguesa na Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da RCA (MINUSCA) como “absolutamente fundamental para a estabilização da periferia sul da União Europeia e da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e para alguns dos parceiros estratégicos do norte de África”, pois “o avanço de grupos terroristas e ideologias radicais tem de ser contrariado ativamente”.
“Estou certo de que todos sentiram o quanto a nossa presença e disponibilidade para atuar na proteção de civis e na manutenção da paz é apreciada pelas populações da RCA. É nos gestos de carinho e apreço que vos foram manifestados pelas populações que isso se torna absolutamente evidente e é através do vosso contributo que esperamos que este país recupere a estabilidade e o bem-estar”, disse ainda Gomes Cravinho.
Os militares portugueses estão na RCA desde o início de 2017. Estão inseridos na MINUSCA, cujo segundo comandante é o major-general Marcos Serronha, onde está agora a sexta Força Nacional Destacada. Integram ainda a Missão Europeia de Treino Militar-República Centro-Africana, liderada pelo segundo comandante, coronel António Grilo.
A quinta Força Nacional Destacada teve um efetivo de 180 militares e integrou, maioritariamente, tropas especiais Comandos, militares de outras unidades do Exército e três controladores aéreos avançados da Força Aérea.
Do empenhamento desta Força Nacional Destacada destacam-se as operações na localidade de Bouca, situada a 280 quilómetros a norte da capital Bangui, e na localidade de Bocaranga, a cerca de 650 quilómetros da capital, “no âmbito da estabilização da paz e para proteger as populações da opressão de elementos afetos a grupos armados”, informa o Estado-Maior-General das Forças Armadas.
Na República Centro-Africana está atualente a sexta Força Nacional Destacada, que tem a função de Força de Reação Rápida, e integra também 180 militares, na sua maioria paraquedistas, pertencendo 177 ao Exército e três à Força Aérea. Na RCA estão também 14 elementos da Polícia de Segurança Pública.
A RCA vive um cenário de violência desde 2013, depois do derrube do presidente François Bozizé por grupos armados juntos na Séléka, o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka.
O Governo centro-africano controla cerca de um quinto do território. O resto é dividido por mais de 15 milícias que procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.
Um acordo de paz foi assinado em Cartum, capital do Sudão, no início de fevereiro pelo Governo e por 14 grupos armados. Um mês mais tarde, as partes entenderam-se sobre um governo inclusivo, no âmbito do processo de paz.