Governo britânico terá de aprovar acordo de saída da UE – ou qualquer outro cenário – na Câmara dos Comuns, mas não tem maioria. O principal obstáculo de Boris Johnson na corrida até ao “Brexit” pode estar em Londres, mais do que em Bruxelas – onde as equipas britânica e europeia lançaram nos últimos dias uma derradeira maratona de negociações para chegar a um acordo. Sem maioria na Câmara dos Comuns de Westminster, o Governo conservador terá de se desdobrar em contactos para convencer os unionistas democráticos da Irlanda do Norte, os tories anti-backstop, os tories rebeldes que o próprio primeiro-ministro expulsou do seu grupo parlamentar e até os trabalhistas brexiteers.
Downing Street agendou uma sessão parlamentar extraordinária, para tentar aprovar o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia, e quer evitar a todo o custo que o evento se transforme em mais uma humilhação para o Governo – que perdeu praticamente todas as votações que já levou à câmara baixa.
As três derrotas pesadas de Theresa May, quando levou o seu acordo aos deputados, servem de alerta para Johnson, que tem, por estes dias, menos apoios que a sua antecessora, e que enfrenta uma coligação interpartidária que aprovou uma lei que o obriga a pedir o adiamento do “Brexit” se, a solução em cima da mesa for um no-deal.
A fuga de deputados tories para os Liberais-Democratas fez com que os conservadores tenham perdido a maioria e a decisão de Johnson de remover o whip a 21 deputados críticos da saída sem acordo – deixando, na prática, de pertencer ao grupo parlamentar – reduziu, e muito, a representação na Câmara dos Comuns. Conseguir o seu apoio é muito difícil, mas fundamental.
Segundo as contas dos media britânicos, o Governo estima ter o respaldo de 260 deputados – necessita de 320 para aprovar um acordo. Na mira do primeiro-ministro estão, para além dos tories rebeldes, os dez deputados do Partido Democrático Unionista, parte interessada na problemática solução para evitar uma fronteira na ilha irlandesa, e cujo apoio é fundamental para que os cerca de 30 conservadores que compõem a facção hard-brexiteer do partido também alinhem no plano.