Apesar do significado histórico, esta resolução passou despercebida pela maioria, tendo sido aprovada a 18 de setembro pelo Parlamento Europeu. A resolução condena os dois regimes ditatoriais por terem cometido “genocídios e deportações e foram a causa da perda de vidas humanas e liberdade em uma escala até agora nunca vista na história da humanidade”.
A resolução Importance of European remembrance for the future of Europe contou com 535 votos a favor, 66 contra e 52 abstenções, noticia o jornal espanhol ABC.
De acordo com o ABC, o jornalista polaco Ryszard Kapuscinski chegou a essa conclusão em 1995: “Se pudermos estabelecer a comparação, o poder destrutivo de Estaline era muito maior. A destruição levada a cabo por Hitler não durou mais de seis anos, enquanto o terror de Estaline começou na década de 1920 e prolongou-se até 1953.”
O texto, sobre a importância da memória europeia para o futuro da Europa, salienta que a Segunda Guerra Mundial foi o resultado imediato do pacto de não-agressão germano-soviético de 23 de agosto de 1939, também conhecido como Pacto Ribbentrop-Molotov.
Recorda que os regimes nazi e comunista são responsáveis por massacres, genocídios, deportações, pela perda de vidas humanas e pela privação da liberdade no século XX, “numa escala nunca vista na história da humanidade” e também relembra o criminoso holocausto provocado pelos nazis.
Além disso, condena os atos de agressão, os crimes contra a humanidade e as violações em massa dos direitos humanos causados pelo nazismo, comunismo e por outros regimes totalitários.
Em 1997, com a publicação do “Livro Negro do Comunismo”, escrito por um grupo de historiadores sob a direção do investigador francês Stéphane Courtois, que se esforçaram por fazer um balanço preciso e documentado das verdadeiras perdas humanas do comunismo, os resultados foram esmagadores: cem milhões de mortos, quatro vezes mais do que o valor atribuído por esses mesmos historiadores ao regime de Hitler.
Apesar de tudo, estes números não eram uma novidade. Outros investigadores, como Zbigniew Brzezinski, Robert Conquest, Aleksandr Solzhenitsyn e Rudolph Rummel, já se tinham interessado anteriormente pelo Gulag, a fome causada por Estaline na Ucrânia e as deportações em massa dos dissidentes do regime soviético.
Uma das diferenças entre os dois regimes é que o Gulag soviético foi usado para punir e eliminar dissidentes políticos, com o objetivo de transformar as estruturas socioeconómicas do país e promover a coletivização e a industrialização. Os nazis, por seu lado, usavam os campos de concentração principalmente para extermínio de vários grupos étnicos, políticos e sociais.
O regime nazi foi culpado do genocídio de cerca de 6 milhões de pessoas, incluindo judeus, ciganos, homossexuais e comunistas.
A resolução também exorta todos os Estados-Membros da UE a avaliarem os crimes e atos de agressão perpetrados pelos regimes comunistas totalitários e pelo regime nazi.
O texto cita a Rússia, país que considera continuar sendo a maior vítima do totalitarismo comunista e exorta a sociedade russa “a confrontar‑se com o seu trágico passado”.
Em oposição à resolução da UE, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia rotulou-a como “revisionismo politizado”. A Rússia reclamou que o texto não mencionava o Acordo de Munique de 1938 das potências ocidentais, que levou à invasão da Checoslováquia pela Alemanha nazi.
“O Parlamento Europeu marcou mais uma tentativa ultrajante de igualar a Alemanha nazi – o país agressor – e a União Soviética, cujos povos, à custa de enormes sacrifícios, libertaram a Europa do fascismo”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores em comunicado.
Já a UE diz estar profundamente preocupada “com os esforços envidados pela atual liderança russa para distorcer os fatos históricos e para ‘branquear’ os crimes cometidos pelo regime totalitário soviético”.
A EU mostra-se preocupada ainda com o uso de símbolos de regimes totalitários, pois em espaços públicos de alguns Estados-Membros e locais como parques, praças e ruas, permanecem monumentos que glorificam os caminhos totalitários, o que, segundo o parlamento, “abre caminho à distorção de fatos históricos sobre as consequências da Segunda Guerra Mundial e à propagação do sistema político totalitário”.
Partidos Comunistas reclamam
Para os partidos de esquerda, a resolução falsifica a história, criminaliza o comunismo e distorce as coisas quando diz que URSS e Alemanha nazi foram responsáveis pela Segunda Guerra Mundial. Na visão deles, a URSS foi a principal vítima da guerra.
Segundo o Partido Comunista Português (PCP), “o texto aprovado promove as mais reacionárias conceções e falsificações da história contemporânea, numa deplorável tentativa de equiparar fascismo e comunismo, minimizando e justificando os crimes do nazi-fascismo e silenciando as coniventes responsabilidades das grandes potências capitalistas, como o Reino Unido ou a França, que abriram caminho ao início da Segunda Guerra Mundial”.
O PCP também diz que a UE centraliza a comparação entre nazismo e comunismo, no contexto do Pacto Ribbentrop-Molotov e que “omite importantes comportamentos de tolerância, cumplicidade e alinhamento das grandes potências capitalistas com a ascensão do fascismo em vários países europeus, motivados pelo combate ao ideal comunista e às enormes realizações e conquistas econômicas e sociais alcançadas pelos trabalhadores e os povos da URSS”.
Outra reclamação do partido é que a resolução pretende abrir caminho para a perseguição e proibição de partidos comunistas e que por ser anticomunista é igualmente antidemocrática.
E finalizam uma nota publicada no portal do partido dizendo que “os deputados do PCP no Parlamento Europeu denunciam esta grave tentativa de falsificação histórica e manifestação anticomunista, que na sua essência é igualmente antidemocrática” e dizem que “ao mesmo tempo, reafirmam que não permitirão o branqueamento do fascismo e a criminalização dos ideais e dos projetos comunistas”.