Um estudo português sobre soluções no tratamento de águas residuais com contaminantes, através do uso de catalisadores como as rochas vulcânicas dos Açores, foi premiado por uma organização internacional.
O prémio ‘Willy Masschelein Prize 2019’ foi dado pela Associação Internacional de Ozono (International Ozone Association), a única associação científica do mundo dedicada às múltiplas aplicações do ozono.
Ao fundamentar a sua escolha, o júri destacou “a originalidade, novidade e importância da pesquisa, revelando conhecimentos sem precedentes para possíveis aplicações de ozono”, revela a Universidade de Coimbra (UC), uma nota enviada ao ‘Mundo Português’.
O método proposto pelo investigador João Gomes, do Departamento de Engenharia Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), apresenta “diversas soluções inovadoras para tratamento de águas residuais com contaminantes emergentes, tendo por base o uso de ozono e a biofiltração, utilizando a Corbicula flumínea”, explica a nota da universidade.
Os contaminantes emergentes, tais como fármacos, pesticidas, e produtos de higiene pessoal, entre outros, são compostos químicos bastante complexos, e os atuais métodos usados nas estações de tratamento de águas residuais (ETAR) não são eficazes na sua remoção.
João Gomes recorreu ao ozono fotocatalítico, ou seja, ozono associado a um catalisador (que acelera as reações químicas) e luz. As quais rochas vulcânicas provenientes dos Açores foram um dos catalisadores usado pelo investigador.
“Caracterizámos as amostras das pedras e verificámos que apresentavam propriedades com grande potencial para, em conjunto com uma pequena quantidade de ozono, degradar contaminantes tóxicos que não são removidos eficazmente” pelos processos convencionais de tratamento de águas residuais, explica João Gomes, citado na nota da FCTUC.
Resultados são promissores
A decisão de usar o ozono associado a catalisadores deve-se ao facto de “apesar de ser um gás fortemente oxidante muito eficaz na degradação de poluentes químicos, o ozono é um gás caro”, explica. Os catalisadores permitem, assim, “reduzir a quantidade de ozono necessária à descontaminação, tornando o processo economicamente viável”.
O investigador revela que as várias experiências realizadas em laboratório com uma mistura de parabenos, compostos muito utilizados, por exemplo, em géis de banho e champôs, apresentaram resultados promissores.
“Na presença de catalisadores, com uma pequena quantidade de ozono, a concentração inicial de parabenos foi totalmente removida, ao contrário do que se verifica utilizando apenas ozono”, sublinha João Gomes.
Provado o conceito e tendo já sido feita a aplicação em efluente real, o investigador vai agora otimizar o sistema à escala piloto, revela a FCTUC.
O investigador realizou o estudo no âmbito do seu doutoramento, orientado pelos professores Rui Martins e Rosa Quinta Ferreira. Sobre o prémio, diz ser “uma honra imensa ver o nosso trabalho reconhecido pela comunidade científica internacional”, sublinhando que “reconhece igualmente a qualidade da investigação desenvolvida no Departamento de Engenharia Química da UC”.
O galardão vai ser entregue a 23 de outubro, em Nice, França, durante o IOA World Congress&Exhibition.
Ana Grácio Pinto