O comandante da Base Aérea n.º 5 (BA5) em Monte Real, Leiria, alertou para saída contínua de militares e pediu uma solução urgente, afirmando que, a continuar assim, um dia não se conseguirá cumprir a missão. Segundo o comandante, coronel João Gonçalves, a BA5 já perdeu este ano 5% dos recursos humanos, continuando a sair mais militares do que aqueles que entram”, defendendo que é “urgente uma solução” para tornar a carreira mais atrativa.
“Nos últimos cinco anos foram 17% os que saíram mas, se andarmos mais para trás, há 20 anos, foram quase 50%”, disse, admitindo que, “a continuar assim, o fim é que vamos chegar a um dia em que não se consegue cumprir a missão”.
A BA5, em Monte Real, tem como missão garantir a prontidão das Unidades Aéreas e o apoio logístico-administrativo de unidades e órgãos nela sediados, bem como a segurança interna e a defesa imediata. Opera as aeronaves F-16 através das Esquadras 201 (“Falcões”) e 301 (“Jaguar”).
O comandante falava aos jornalistas à margem da cerimónia dos 60 anos da BA5, presidida pelo Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, Marcelo Rebelo de Sousa, que não fez qualquer intervenção nem prestou declarações à comunicação social.
O coronel João Gonçalves precisou que quando tomou posse na BA5, há um ano, tinha na unidade 678 militares e civis, número que baixou para 643.
Se a situação não for invertida, disse, os militares vão “começar a deixar de conseguir fazer as coisas”, advertiu.
Instado a especificar os problemas com que se depara a base, o coronel deu como exemplo o Programa de Alienação de caças F-16 à Roménia, já concluído.
“Neste momento teria extrema dificuldade, se não fosse impossível, concretizar a transformação daqueles 12 aviões no tempo em que foram feitos”, explicou, referindo que, a conseguir, “demoraria muito mais tempo a fazer a preparação dos aviões para serem alienados”.
Outro dos problemas apontados pelo coronel João Gonçalves no discurso de aniversário da BA5, no qual participou o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, que também não fez quaisquer declarações, foi a falta de recursos financeiros e materiais para garantir as horas necessárias de voo para qualificar os pilotos.
“Este ano não conseguiremos voar as missões que permitiram qualificar todos os pilotos. Tal, é resultado de anos de investimento insuficiente, com impacto mais notório na regeneração dos motores”, disse.
Segundo explicou o comandante, “os motores do avião são sujeitos a inspeções em tempo ou em horas de voo e a falta desses recursos impossibilitou que tivéssemos os motores que necessitávamos para dar todo o treino aos pilotos”.
Os pilotos que não readquiriram essa qualificação estão, neste momento, impedidos de “desempenhar a missão de alerta da defesa área, até reganharem o treino que é necessário”, revelou.
Se João Gonçalves acredita que é mais fácil recuperar o número de motores, porque se trata de uma questão de dinheiro, mais difícil será “recuperar o fator humano”.
“Estão a sair técnicos altamente qualificados, que demoraram muitos anos a ser formados para atingir o nível que têm hoje”, constatou, admitindo que é necessário melhorar os salários.
“Isso vai ter de passar também por essa valorização, não há como esconder”, reconheceu.
João Gonçalves lembrou ainda que é necessário dar continuidade à modernização dos aviões F-16, “enquanto for economicamente viável”.
“Sabemos que tecnologicamente, por muito que nos vamos aperfeiçoando, os outros países que connosco dividem as despesas de investigação e desenvolvimento de nova tecnologia estão todos a migrar para outro tipo de avião, no caso o F-35. Ficando isolados neste grupo, Portugal não terá capacidade para suportar todo o custo de desenvolvimento sozinho”, advertiu.
Aproveitando a visita do ministro da Defesa à BA5, o presidente da Câmara de Leiria, Gonçalo Lopes, voltou a abordar a abertura da unidade à aviação civil, situação que o secretário-geral socialista, António Costa, afirmou, num comício em Leiria antes das eleições de outubro, ser “merecido” para a região.
“Há um grupo de trabalho criado no âmbito no Ministério da Defesa e das Infraestruturas e é aguardar a nomeação do novo governo para dar seguimento a esse trabalho”, disse à Lusa Gonçalo Lopes (PS).