O arcebispo português D. José Tolentino Mendonça, vai tornar-se hoje, 5 de outubro, o sexto cardeal português do século XXI e terceiro a ser designado no atual pontificado.
O futuro cardeal madeirense é atualmente o bibliotecário e arquivista da Santa Sé e junta-se assim, no Colégio Cardinalício, a D. José Saraiva Martins, D. Manuel Monteiro de Castro, D. Manuel Clemente e D. António Marto.
A 26 de junho de 2018, o Papa nomeou D. José Tolentino Mendonça como arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano e bibliotecário da Biblioteca Apostólica, elevando-o à dignidade de arcebispo.
O até então vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa orientou nesse ano o retiro de Quaresma do Papa Francisco e seus mais diretos colaboradores.
Em entrevista à Agência Ecclesia, a respeito do seu trabalho no Arquivo e Bilioteca da Santa Sé, o futuro cardeal disse que a sua missão é “colaborar” com o Papa.
“Isso é muito bonito de ver, porque, no espírito de todos nós, as duas comunidades que trabalham diariamente nestas instituições, há esse serviço: nós somos colaboradores do Papa. Isso dá um sentido à nossa missão, que não teria se fosse só um projeto individual. Mas, mais importante até do que esta pessoa ou aquela, é estarmos todos juntos a colaborar para que o Papa possa governar a Igreja e ser a figura de Pedro, hoje”, declarou à Agência Ecclesia.
O papa Francisco anunciou a 01 de setembro, que o bispo português Tolentino Mendonça ia ser elevado a cardeal em 05 de outubro, data em que está marcado o consistório para a criação de 13 novos membros do Colégio Cardinalício.
Biblista, investigador, poeta e ensaísta
José Tolentino Calaça de Mendonça nasceu em dezembro de 1965 em Machico, ilha da Madeira, destacando-se como poeta, sacerdote e professor.
Iniciou os estudos de Teologia em 1982, foi ordenado padre em 1990 e bispo a 28 de julho de 2018, tendo sido nomeado, em 2011, consultor do Conselho Pontifício da Cultura.
Autor de numerosos livros, que o tornaram conhecido pelos portugueses dos mais diversos quadrantes, estudou Ciências Bíblicas em Roma e viveu em Lisboa, onde foi professor e vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, a instituição que escolheu para o doutoramento em Teologia Bíblica.
Entre as várias funções eclesiásticas que exerceu, foi publicando uma vasta obra de poesia, ensaio e teatro. Colaborou em muitos outros livros como tradutor e organizador.
Considerou a poesia, a arte de resistir ao tempo e viu a sua obra, como autor, distinguida com vários prémios, entre os quais o Prémio Cidade de Lisboa de Poesia (1998), o Prémio Pen Club de Ensaio (2005), o italiano Res Magnae, para ensaio (2015), o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes APE (2016), O Grande Prémio APE de Crónica (2016) e o Prémio Capri-San Michele (2017).
Biblista, investigador, poeta e ensaísta, Tolentino Mendonça foi agraciado com duas comendas: Ordem do Infante D. Henrique e Ordem Militar de Sant´Iago de Espada.
Quando em junho do ano passado foi nomeado arcebispo, D. José Tolentino Mendonça escolheu um brasão episcopal que evoca a ligação histórica de Portugal ao Vaticano, numa homenagem “ao encontro de culturas e alargamento de mundos”, referiu a Agência Ecclesia numa notícia.
A imagem apresenta um elefante, para recordar que o primeiro desses animais a chegar à Europa, em particular a Roma, foi trazido pelos navegadores portugueses.
O escudo, de forma gótica, é sublinhado pelo lema episcopal do novo bibliotecário e arquivista da Santa Sé: ‘Olha os lírios do campo’ (‘Considerate Lilia Agri’).
O lírio assinala o primeiro nome do arcebispo madeirense, José, e coloca “o seu ministério episcopal sob o olhar paterno de São José”, representado na iconografia cristã por essa flor.
No topo do escudo está uma bíblia aberta com as letras gregas alfa e ómega, uma referência à pessoa de Jesus Cristo.
Presidente da República manifesta“o mais profundo jubilo pela elevação do senhor Dom José Tolentino de Mendonça ao cardinalato”
Em reação à indicação pelo papa Francisco do arcebispo madeirense para o Colégio Cardinalício, o Presidente da República manifestou na altura “o mais profundo jubilo pela elevação do senhor Dom José Tolentino de Mendonça ao cardinalato, traduzindo o reconhecimento de uma personalidade ímpar, assim como da presença da Igreja Católica na nossa sociedade, o que muito prestigia Portugal”.
Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou ainda a “excecional relevância” de Tolentino de Mendonça como “filósofo, pensador, escritor, professor e humanista”, recordando que o convidou para presidir às comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em 2020.
Prenda de Machico a Tolentino Mendonça
O presidente da Câmara Municipal de Machico, Ricardo Franco, também vai marcar presença na no Consistório Público que confirmará José Tolentino Mendonça como cardeal.
A participação surge na sequência do convite dirigido ao presidente da autarquia onde José Tolentino Mendonça nasceu, constituindo um motivo de orgulho, de grande significado e alegria para Machico, sendo uma honra testemunhar a elevação de um filho desta terra primeira a um dos patamares mais altos na hierarquia da Igreja Católica”, refere a autarquia do Machico numa nota de imprensa.
Ricardo Franco deverá oferecer ao novo cardeal português, uma pintura a carvão do Forte de São João Batista, da autoria de um pintor machiquense, representando o local que Tolentino Mendonça “muito bem conhece e onde viveu parte da sua vida, juntamente com a sua família, após retornar de Angola”, revela ainda a nota de imprensa.
A 5 de setembro, a Câmara Municipal de Machico, na sua reunião ordinária, aprovou um voto manifestando júbilo pela elevação de Dom Tolentino Mendonça ao cardinalato.