1Para o ano letivo de 2019-2020, o ensino da língua portuguesa no estrangeiro vai crescer no número de alunos, de professores e de investimento, revelou o presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua (Camões, I.P.) durante a apresentação da Rede do Ensino Português no Estrangeiro (EPE) para o novo ano letivo.
Apontada como um dos importantes eixos da política externa de Portugal, a língua portuguesa tem na Rede EPE, de responsabilidade do Instituto Camões, um instrumento fundamental para a sua dinamização nos cinco continentes.
Uma rede cujo pilar central é a internacionalização através do “reforço do posicionamento como língua de criação e cultura, ciência, economia e diplomacia, expressão, comunicação e mediação, construção e encontro e identidades”, como referiu Luís Faro Ramos na cerimónia de apresentação do novo ano letivo da Rede EPE.
Uma internacionalização que deve fazer-se de forma integrada nas “várias vertentes que se complementam entre si”, através da Rede EPE: a oferta curricular, processos de certificação, programas de firmação de tradutores e intérpretes, centros e consórcios de ciência, departamentos e formações graduadas, organizações internacionais, destacou o presidente do Camões, I.P. numa apresentação que contou ainda com intervenções do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Básico e secundário com mais de 72 mil alunos
O português é ensinado no estrangeiro como Língua de Herança, Língua Segunda e Língua Estrangeira e cada uma destas variantes de ensino tem abordagens metodológicas distintas. Para o ano letivo de 2019-2020, as três variantes apresentam um crescimento no número de alunos, de professores e de investimento.
Segundo os dados apresentados por Luís Faro Ramos, a Rede EPE oficial e a apoiada pelo Estado português terão neste ano letivo 72.244 alunos (70.824 em 2018/2019) e 978 professores (972 no ano letivo anterior) no ensino básico e secundário e representará um investimento estimado de mais de 22,5 milhões de euros.
Ao longo dos últimos quatro anos, a consolidação da oferta da rede EPE como Língua de Herança, representou um investimento global de cerca de 90 milhões de euros. Para o presidente do Camões, I.P., este investimento significa “uma aposta naquilo que o Camões tem de mais valioso” e que o distingue de outros institutos similares: “as pessoas, a vasta rede de docentes”. Dos 978 professores, 317 são da rede oficial.
O português é ensinado no estrangeiro como Língua de Herança, Língua Segunda e Língua Estrangeira e cada uma destas variantes de ensino tem abordagens metodológicas distintas. Para o ano letivo de 2019-2020, as três variantes apresentam um crescimento no número de alunos, de professores e de investimento. Segundo Luís Faro Ramos, a Rede EPE oficial e a apoiada pelo Estado português terão neste ano letivo 72.244 alunos (70.824 em 2018/2019) e 978 professores (972 no ano letivo anterior) no ensino básico e secundário e representarão um investimento estimado de mais de 22,5 milhões de euros. |
Já a integração do português nos currículos oficiais no ensino básico e secundário será, neste ano letivo, uma realidade em 33 países: 15 na Europa, 10 em África, 6 na América e 2 na Ásia. De recordar que no ano letivo anterior (2018-2019) o português era ensinado de forma integrada em escolas de 24 países. “A meta dos 40 está, a cada ano, mais perto”, avançou Luís Faro Ramos defendendo que a integração curricular “é um indicador muito importante na internacionalização da língua portuguesa”.
“Se analisarmos os último quatro anos, vemos que começamos com (a integração curricular em) dez países e chegamos a 2019 com 33. O mais recente é o México”, adiantou sem deixar de referir que a integração do ensino do português nos currículos escolares representa “passos que requerem um grande esforço e mobilização da nossa Rede, incluindo a rede diplomática”. A integração curricular está a ser alargada a países onde não existe uma expressiva comunidade portuguesa, como é o caso da Bulgária, da Hungria e, agora, do México.
Outra área onde os números, e o investimento, subiram foi a da certificação do ensino básico e secundário. O presidente do Camões, I.P. avançou que desde 2013, 27.638 alunos fizeram exames de certificação da aprendizagem em língua portuguesa. Somente entre 2016 e 2019, houve 16.633 exames de certificação.
A entrega de manuais escolares foi outro investimento destacado por Faro Ramos. No ano letivo anterior, foram distribuídos 28.797 manuais, mais 33% dos manuais entregues em 2015-2016 (foram 21.660). Um investimento que no ano letivo de 2018-2019 significou 448.060 euros e que em 2019-2020 deverá atingir “cerca de meio milhão de euros”, adiantou.
Já o Plano de Incentivo à Leitura envolve, segundo os dados mais recentes do Camões, I.P., perto de 60 mil alunos. “Estas três vertentes são muito importantes na qualificação da rede EPE”, sublinhou o responsável.
115 mil alunos no superior
A nível do ensino superior, a projeção do Camões, I.P. para 2019-2020 é de que 115 mil alunos passem a frequentar os cursos de português. São mais cerca de cinco mil do que no ano letivo anterior. O Instituto projeta ainda que haja 51 leitores (mais um do que em 2018-2019) e 850 docentes e investigadores (802 no ano letivo anterior) e aponta para a existência de 265 protocolos de apoio à docência assinados com instituições universitárias de inúmeros países. O investimento global é de mais de cinco milhões de euros.
A projeção do Instituto Camões para 2019-2020 é de que 115 mil alunos passem a frequentar os cursos de português a nível universitário, em todo o mundo. O Instituto terá ainda 51 leitores e 850 docentes e investigadores e aponta para a existência de 265 protocolos de apoio à docência assinados com instituições universitárias de inúmeros países. O investimento global é de mais de cinco milhões de euros. |
“Os números têm crescido nos últimos anos e fazem-nos pensar que estamos a tomar o rumo certo”, destacou o responsável revelando que o número de alunos no ensino superior estará acima dos 115 mil porque há países onde “cada dia que passa a estatística muda”. Dá como exemplo a China onde há mais alunos a aprender português nas universidades do que os que constam dos últimos dados estatísticos do Camões, I.P.
Luís Faro Ramos assumiu que o Camões, I.P. continua a reforçar a oferta de língua portuguesa no ensino superior fora da Europa, designadamente em África e na América, articulando uma rede de leitorados, de centros de língua e de cátedras, para além da assinatura de protocolos de cooperação com instituições de ensino superior e organizações internacionais.
Sobre os centros de língua portuguesa, a projeção do Camões, I.P. para 2020 é de 82 estruturas, num investimento que foi de cerca de um milhão de euros nos últimos quatro anos. Ao nível das bolsas de estudo e investigação, o Instituto avança com a oferta, também em 2020, de 175 bolsas divididas por cinco programas, num investimento total que deverá ultrapassar os 560 mil euros .
“Já beneficiaram destas bolsas mais de 600 bolseiros (desde 2016-2017) e gostaria de salientar o apoio, nesta área, de várias empresas promotoras da língua portuguesa, que significa uma ação importante por parte dessas empresas”, destacou o presidente do Camões, I.P.
Outra novidade do ano letivo a nível do ensino superior é o aumento do número de cátedras, uma oferta direcionada para a investigação e o ensino em múltiplas áreas. Há 50 cátedras em universidades de 20 países que implicam 449 investigadores, mas o Camões, I.P. está a negociar a criação de mais cinco. Uma delas será inaugurada, a principio já este mês, em Sófia, na Bulgária. “Ficaremos este ano certamente com 51 cátedras em 21 países e estamos em negociação com mais quatro”, assegurou Faro Ramos.
PLE: 14.210 exames desde 2016
O presidente do Instituto apresentou ainda os números dos exames CAPLE que certificam a aprendizagem do Português como Língua Estrangeira (PLE) e complementam o outro processo de certificação do Camões, I.P. destinado aos alunos de português Língua de Herança. Há atualmente 69 locais no estrangeiro credenciados para a realização dos CAPLE que no ano passado foram feitos por 4.733 alunos de português Língua Estrangeira. Segundo dados do Camões, I.P., de 2016 a 2018 foram realizados 14.210 exames.
Faro Ramos destacou ainda o projeto ‘Camões Júnior’ que também certifica os conhecimentos de português Língua Estrangeira, mas é feito em formato digital através de uma plataforma eletrónica e direcionado a alunos entre os 12 e os 17 anos. “Já foram certificados alunos de Pamplona, Espanha, este ano, mas sabemos que em Morélia, México – o mais recente país com o português no curriculo do secundário – estão inscritos mais de 200 alunos que vão ser certificados no próximo ano através do ‘Camões Júnior”, revelou.
Há atualmente 69 locais no estrangeiro credenciados para a realização dos CAPLE, que certificam a aprendizagem de Português como Língua Estrangeira (PLE). No ano passado foram feitos por 4.733 alunos de PLE. Segundo dados do Instituto Camões, de 2016 a 2018 foram realizados 14.210 exames. |
Mais recentemente, a oferta de certificação em Português foi alargada a um público diferente, com a assinatura de um acordo entre o Camões, I.P. e a Ordem dos Médicos e que visa garantir a qualidade da prova de comunicação médica feita pelos clínicos estrangeiros a trabalhar no país. “Mais de mil médicos exercem atualmente em Portugal e precisam ter proficiência na língua portuguesa. O Camões assinou um protocolo com a Ordem dos Médicos e está já a permitir a formação, em língua portuguesa, de médicos estrangeiros”, explicou Faro Ramos.
No evento foi ainda apresentada a plataforma EPE_Digital, uma plataforma que otimiza o Sistema Integrado de Informação da área da língua, reforçando a oferta integrada dos serviços digitais do Camões, e que, segundo Faro Ramos “vai ser muito útil para os encarregados de educação e professores”, já que através de uma aplicação móvel (app) permite fazer um acompanhamento mais próximo dos alunos.
Destacou ainda a parceria entre Portugal e Brasil, país que já anunciou a intenção de criar o Instituto Guimarães Rosa, um organismo equivalente ao Camões, I.P. A parceria entre os dois países é já patente na oferta do ensino do português na Escola Internacional das Nações Unidas, em Nova Iorque, e, segundo Faro Ramos, irá ser alargada ao Casaquistão, onde os dois países vão ser responsáveis pelo ensino da língua portuguesa em duas universidades
Parceria “forte” com o Ministério da Educação
Outra parceria, que disse ser “cada vez mais forte”, é a que junta o Camões, I.P. e o Ministério da Educação, com Faro Ramos a dar como exemplos o trabalho desenvolvido nas escolas portuguesas no estrangeiro e em Timor-Leste através do projeto CAFÉ (Centros de Aprendizagem e Formação Escolar). Uma opinião partilhada pelo ministro da Educação, que na sua intervenção mencionou a importância de se “juntar a rede EPE à rede de escola de português no estrangeiro”. “O ensino do português no estrangeiro é um ponto de partida para a nossa afirmação internacional”, defendeu Tiago Brandão Rodrigues.
Já o ministro dos Negócios Estrangeiros sublinhou o crescimento do número de países onde o português está integrado nos sistemas de ensino, referiu o aumento de cátedras, o crescimento da oferta em formato digital “que permite tornar disponível o ensino da língua portuguesa a todos e em qualquer circunstância”. Augusto Santos Silva referiu ainda o aumento de alunos e professores a nível do ensino básico e secundário e enumerou “as três tarefas essenciais” à rede EPE, para além da consolidação, expansão e desenvolvimento, e que defendeu serem a certificação, a investigação e a imbricação entre língua e comunicação. “O nosso princípio básico é sempre o de que a língua é o melhor instrumento de que dispomos para a cooperação”, finalizou.
No fim da apresentação, e em declarações aos jornalistas, Luís Faro Ramos, resumiu o panorama atual da rede de ensino português no estrangeiro. “Crescimento é a palavra que define esta Rede EPE. Temos um crescimento sustentado em todos os índices. Constatamos no número de professores, de alunos, de cátedras, de instituições de ensino superior com as quais temos protocolos e nos países onde o português é ensinado no currículo público a nível do básico e/ou secundário”.
Ana Grácio Pinto