As entidades algarvias temem que a falência da Thomas Cook deixe por pagar os serviços prestados na época alta na região, apesar dos turistas deste operador representarem apenas 0,2% dos passageiros do aeroporto de Faro. Haverá impacto, “não só nos turistas que já tinham marcado as suas férias”, mas, acima de tudo, nos serviços já prestados durante os dois meses de época alta, que “dificilmente virá a ser pago” e que pode atingir” alguns milhões de euros”, afirmou o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, à Lusa.
O representante dos hoteleiros mostrou-se preocupado com a dívida que “reflete os meses com os preços mais caros” e que representam, muitas vezes, “50% da fatura anual das empresas”.
Também o presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), João Fernandes, revelou à Lusa preocupação sobre a dívida que fica na região, cujo levantamento está a ser feito em parceira com a “AHISA (Associação dos Industriais de Hotelaria e Similares do Algarve) e a AHETA” e que se torna importante saber se se “concentra em poucos ou em muitas unidades hoteleiras”, para se ter a noção desse impacto, já que “dificilmente que esses créditos serão pagos”.
A RTA revela que o peso da Thomas Cook tem vindo a diminuir no Algarve, reflexo da “concorrência das companhias ‘low cost’ [baixo custo] e das reservas ‘online’”, representando atualmente 10 mil turistas desembarcados no aeroporto de Faro, “apenas 0,2% do número anual de passageiros.”
Muitos dos pacotes comercializados pelas Thomas Cook, são para alojamentos no Algarve, mas também para “unidades turísticas na província de Huelva”, apesar de utilizarem o Aeroporto de Faro, o que pode representar um “impacto menor, desta falência, na região”.
João Fernandes revela também que as notícias sobre as dificuldades financeiras e uma possível falência da Thomas Cook “já têm algum tempo” e, por isso, houve “alguma cautela por parte dos operadores e unidades hoteleiras”, o que pode diminuir o impacto negativo desta falência na região algarvia.
Quanto ao impacto a longo prazo, ambos os dirigentes acreditam na capacidade de adaptação dos operadores no mercado. Os pacotes comercializados pela Thomas Cook no Algarve, “terminavam em outubro e apenas iniciariam em março”, o que, segundo o presidente da RTA, dará tempo ao mercado para assumirem essa capacidade.
Já Elidérico Viegas alerta para um mercado que “começa a ser cada vez mais estreito”, pois o desaparecimento do mercado de companhias de aviação e operadores de mercado torna “as alternativas cada vez menores, havendo uma maior concentração”, o que faz com que os impactos criados por estas falências “atinjam uma dimensão muito superior”.
Atualmente, calcula-se apenas algumas centenas estejam no Algarve cujo regresso a casa, pode facilmente ser garantido pela “oferta existente no Aeroporto algarvio”, para muitas das cidades europeias.
O operador turístico britânico Thomas Cook anunciou hoje falência depois de não ter conseguido encontrar, durante o fim de semana, fundos necessários para garantir a sua sobrevivência e, por isso, entrará em “liquidação imediata”, de acordo com um comunicado divulgado no ‘site’ do grupo.
As autoridades terão agora que organizar um repatriamento maciço de cerca de 600.000 turistas em todo o mundo, incluindo 150.000 para a Grã-Bretanha.
A grave situação financeira da empresa teve impacto imediato junto de clientes que gozam pacotes de férias no exterior, que não conseguiram sair dos complexos turísticos sem pagar os valores das estadias, mesmo depois de terem pago a estadia à Thomas Cook.
O grupo precisava de arrecadar 200 milhões de libras (cerca de 227 milhões de euros) em fundos adicionais, reivindicados pelos bancos, como o RBS ou o Lloyds.
A empresa, com 178 anos de atividade, tinha previsto assinar esta semana um pacote de resgate com o seu maior acionista, o grupo chinês Fosun, mas tal foi adiado pela exigência dos bancos que o grupo tivesse novas reservas para o inverno.
A agência de viagens britânica Thomas Cook declarou falência esta segunda-feira, deixando cerca de 600 mil turistas em todo o mundo por repatriar. Tinha 178 anos de existência e uma longa experiência no ramo, mas não conseguiu rivalizar com as ofertas online a preços mais convidativos.
Foi fundada, em 1841, pelo marceneiro Thomas Cook, em Leicestershire, no Reino Unido, e começou por organizar excursões locais, que não iam além dos 20 quilómetros. Nasceu com o objetivo de entreter as massas e evitar que as pessoas caíssem nos perigos do álcool, que Cook interpretava como sendo a causa de quase todos os males em plena época vitoriana,segundo a BBC. A primeira viagem mais longa foi feita de comboio de Liverpool até Loughborough, onde fica a maior fundição de sinos do mundo, por cerca de três libras atuais (3,40 euros). E repetida durante vários verões.
Seguiram-se a primeira travessia para as ilhas britânicas e para o canal da Mancha, que dá acesso a Paris. Europa, América, Ásia vieram com o interesse crescente da classe média inglesa pelas viagens, na altura em que John Mason Cook sucedeu ao pai e assumiu o controlo da empresa em 1892.
600 mil turistas e 22 mil empregos
A insolvência repentina acontece quando havia 600 mil clientes em viagem, muitos sem saberem ainda como vão regressar ao seu país. No Reino Unido, ficaram por repatriar 150 mil britânicos, sobre os quais o Governo já anunciou ir assumir a responsabilidade, numa operação a que chamaram Operação Matterhorn. Segundo a Autoridade da Aviação Civil, citada pela Guardian, esta é a maior operação de repatriamento britânica da História do Reino Unido em tempo de paz e terá um custo de cerca de 700 milhões de euros.