A morte do cantor Roberto Leal entristeceu a comunidade, já que ele era um símbolo que soube fazer a ponte entre o povo brasileiro e o português, destacou o cônsul-geral de Portugal em São Paulo, Paulo Nascimento.
“Fomos hoje (ontem) confrontados com a notícia da morte do Roberto Leal e apesar de sabermos da doença dele foi uma surpresa. Há um sentimento enorme de carinho por ele que, ao longo da carreira, tornou-se um símbolo da comunidade e soube fazer uma boa ponte entre o povo brasileiro e o português”, disse o cônsul-geral de Portugal.
“A música dele fazia esta fusão, era um ponto de ligação, entre a cultura portuguesa e a brasileira”, acrescentou.
Manuel Magno Alves, presidente do Conselho da Comunidade Luso-brasileira do estado de São Paulo também lamentou a morte do cantor.
A comunidade portuguesa está muito consternada porque ele era um dos símbolos que tínhamos. Era uma espécie de embaixador da música portuguesa no Brasil e no mundo. Vai demorar um tempo para termos outro representante fazendo o que ele fazia”, disse.
“Recebemos com choque a notícia da sua morte e, embora soubéssemos que estava doente, nos últimos meses Leal tinha retomado a agenda de shows e acreditávamos que ele pudesse ficar connosco mais tempo”, acrescentou Magno Alves.
O presidente do conselho da Comunidade Luso-brasileira considerou também que Roberto Leal “era uma pessoa querida por todos, principalmente pela sua forma de ser e sua humildade”.
Além dos representantes do Governo e da comunidade portuguesa no Brasil, Leal também foi homenageado nas redes sociais por grupos que promovem a cultura portuguesa do Brasil.
“Um dos maiores expoentes da música portuguesa”
O Grupo Folclórico da Casa de Portugal em São Paulo publicou na rede social ‘Facebook’ uma nota de pesar afirmando que o cantor era “um dos maiores expoentes da música portuguesa no mundo e, quiçá, o maior no Brasil”.
“É uma grande perda, mas sem dúvida o seu legado será eterno e ouvido por diversas gerações. Tivemos a oportunidade e honra de nos apresentarmos algumas vezes ao vosso lado”, completou.
Já a Associação Portuguesa de Desportos do Brasil também divulgou uma nota dizendo que “chora a perda do autor do hino atual do Clube, e presta os sentimentos de uma nação inteira pela perda do querido Roberto Leal, imigrante português que adotou o Brasil como sua terra e a Lusa como seu time (equipa) do coração”.
Roberto Leal – nome artístico de António Joaquim Fernandes – dividiu a sua carreira entre Portugal e o Brasil, mas teve ainda passagens na política, no cinema e na televisão.
O cantor nasceu em Portugal, na aldeia transmontana Vale da Porca, concelho de Macedo de Cavaleiros, de onde em 1962 emigrou, aos 11 anos, para o Brasil, com os pais e os nove irmãos.
Em São Paulo, após trabalhar como sapateiro, vendedor de doces e feirante, iniciou o seu trabalho com a música e gravou o seu primeiro disco em 1970.
Um ano depois alcançou o seu primeiro grande êxito com ‘Arrebita’ e teve a sua primeira experiência na televisão brasileira, vindo a repeti-la em 2011, em Portugal, ao participar no programa da RTP, ‘O Último a Sair’.
‘Arrebenta a Festa’ foi o último disco editado em 2016 de uma discografia com mais de 50 discos.
Vendeu mais de 17 milhões de discos, conseguiu 30 Discos de Ouro e cinco de platina e ganhou vários prémios, entre os quais o ‘Troféu Globo de Ouro’, da TV Globo, em 1972.
Em 1979, protagoniza o filme ‘O Milagre – o Poder da Fé’, uma história autobiográfica sobre a sua família e o culto pela fé. Em 2011, publicou a sua autobiografia em Portugal e no Brasil.
Roberto Leal passou também pela política. Em 2018, candidatou-se a deputado estadual em São Paulo pelo Partido Trabalhista Brasileiro.
Em Portugal, aderiu ao PSD em 1991 e deu espetáculos durante a campanha para as eleições legislativas de 1991 e participou em comícios nas de 1995.
A sua carreira foi repartida entre Portugal e o Brasil, onde residia, apresentando-se como embaixador da cultura portuguesa no Brasil.
Deu também espetáculos em todas as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.
Desde há dois anos enfrentava um cancro e ficou com problemas de visão e cegueira no olho direito devido aos tratamentos de radioterapia.
O velório do cantor vai decorrer hoje, na Casa de Portugal, na região central de São Paulo a partir das 07h (horário local, 11h em Lisboa) e até às 14h (18h em Lisboa).
O funeral está marcado para as 15h (19h em Lisboa), no Cemitério Congonhas, na zona sul de São Paulo.