A “A Gaiola Dourada” atingiu números de bilheteira no cinema impressionantes nas tabelas de entradas nos cinemas francêses com mais de um milhão de espectadores, e grande audiência quando estreou em Portugal. Faz sentido num concelho de muita emigração, em especial em França, a iniciativa da Junta da União de Freguesia de Areias/Pias de com cenário a Quinta das Valadas do comendador Sérgio Melo, de dar a possibilidade de ver uma excelente peça ao ar livre, no próximo sábado dia 14 de Setembro pelas 21H30 e com entrada gratuita e em que os eleitos da Junta pedem a quem ali for para levar uma manta e uma almofada pois não há lugares sentados. Esta Quinta acedesse via Pias- Areis na indicação Uniovo, ou em Areias na estrada defronte Centro Escolar de Areias
O trailer, tratava-se de uma temática (a emigração portuguesa em França) deveras interessante usa e abusa da sátira às gentes lusitanas que habitam em França, e essa análise satírica aos costumes, tradições e características lusas são usados sempre de forma consistente. Trata-se de uma recriação autêntica e minuciosa das tradições portuguesas e da eterna saudade que sentem por um país que foram obrigados a abandonar.
Faz sentido neste concelho, onde a maioria da população rural não vai ao cinema, o concelho de Ferreira mais propriamente dos lugares de Chãos, Almogadel, Matos e outros lugares, onde muitas das esposas dos que emigraram foram porteiras e ainda são. A “le conciergerie” que a alta sociedade francesa não troca por outra nacionalidade alguma.
O realizador luso-descendente Ruben Alves, filho de uma porteira reuniu neste filme os relatos e experiências que foi adquirindo ao longo de 30 anos de emigração e condensou-os numa história sobre a típica família portuguesa que se viu obrigada a mudar de país com o intuito de procurar trabalho e uma vida melhor. Ruben Alves pretendeu e bem homenagear todos esses cidadãos lusos que vivem para o trabalho e trabalham para a família, mas nunca ‘goza’ com o quotidiano dessa comunidade, preferindo abrir-nos a mente para uma realidade a que somos alheios e que por vezes desrespeitamos inconscientemente. A haver algum tipo de troça, essa é feita sobretudo aos gauleses que nos acolhem mas que desconhecem totalmente a nossa realidade e que nos confundem permanentemente com ‘nuestros hermanos’.
A “gaiola dourada” que surge no título é uma clara alusão ao limbo emocional que sente aquela gente. Gente que prefere viver aprisionada numa gaiola onde se pode criar um estilo de vida sustentável, coisa que não seria possível num Portugal em crise, mas que os afasta dos familiares e entes queridos que vivem a centenas de quilómetros de distância.
A história do filme refere que num dos melhores bairros de Paris, Maria e José Ribeiro vivem há cerca de 30 anos na casa da porteira no rés-do-chão de um prédio. Este casal de emigrantes portugueses é querido por todos no bairro: Maria uma excelente porteira e José um trabalhador da construção civil fora de série. Com o passar do tempo, este casal tornou-se indispensável no dia-a-dia dos que com ele convivem. São tão apreciados e estão tão bem integrados que, no dia em que surge a possibilidade de concretizarem o sonho das suas vidas, regressar a Portugal em excelentes condições, ninguém quer deixar partir os Ribeiro, tão dedicados e tão discretos. O filme coloca-nos na perspetiva da família Ribeiro e até onde serão capazes de ir a sua família, os seus vizinhos e os seus patrões para não os deixarem partir.
É verdade que estão lá todos os clichés: o amado futebol, a bela da cerveja, o bacalhau e todas as suas formas de apresentação, o arrepiante fado e até aqueles mais singelos atos como o de tapar um sofá com um cobertor para que este não se suje ou a inscrição de nomes de pessoas nas tigelas do pequeno-almoço… é uma panóplia de acontecimentos e de pequenas coisas onde não faltam oportunidades para nos identificarmos. Mas são esses momentos que lhe conferem autenticidade.
Registe-se que nestes bairros famosos de França e que as porteiras portuguesas são escolhidas pela classe mais rica de França, que tem chave de todas as casas, pelo seu trabalho e honestidade, são sempre escolhidas. Existe mesmo a Associação de portugueses para Porteiros em Paris – ‘ALMA, Gardien(nes) d’Immeubles à Paris’, fundada por portugueses, cuja presidente é
Elisabeth Oliveira, porteira, licenciada em Psicologia, que foi para França em 2013 devido à crise em Portugal e fundou a associação ALMA em outubro de 2015 para criar uma entreajuda na vasta rede de porteiros em Paris, estimada em cerca de 15 mil pessoas, das quais “60% são portuguesas”. Referiu em entrevista realizada em França que a “A imagem do porteiro mudou. Hoje, há porteiros que nem sequer fazem limpezas, que são mais gestores do prédio do que propriamente porteiros básicos. Estamos a ser mais valorizados mas ainda há muitos clichés e ninguém gosta de dizer que é porteiro porque é redutor, é visto como um trabalho só manual”, concluiu a franco-portuguesa nascida em França que foi para Portugal em 2002 e acabou por regressar a Paris onze anos depois.
Portanto boas razões para ir ver este cinema ao ar livre cujo elenco é liderado por fortes desempenhos de Rita Blanco e Joaquim de Almeida
“A Gaiola Dourada” deu a conhecer ao mundo, aos franceses mas fundamentalmente aos portugueses, a realidade pura de um povo que, teve que emigrar.
António Freitas