Os dados são Organização Mundial da Saúde (OMS): no mundo, a cada 40 segundos alguém comete suicídio.
“Apesar do progresso, a cada 40 segundos alguém comete suicídio”, alerta o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, acerca do relatório divulgado esta semana por aquela organização subordinada à ONU.
Nos cinco anos desde a publicação do primeiro relatório global da OMS sobre o suicídio, aumentou o número de países com estratégias nacionais definidas para prevenção de suicídio. Mas, mesmo assim, ainda são poucos – apenas 38 nações -, revela a OMS alertando que os governos devem comprometer-se a estabelecer essas estratégias.
“Toda morte é uma tragédia para a família, amigos e colegas”, sublinha Tedros Adhanom Ghebreyesus, lembrando que os suicídios podem ser evitados. “Conclamamos todos os países a incorporar estratégias comprovadas de prevenção ao suicídio nos seus programas nacionais de saúde e treinamento”, defende o alerta o diretor-geral da OMS.
800 mil mortes a cada ano
Segundo o relatório da OMS, o suicídio é responsável por cerca de 800 mil mortes a cada ano: mais do que o cancro da mama, a malária, a guerra ou os homicídios.
A organização descreve-o como um “importante problema de saúde pública global, que afeta todas as idades, sexos e regiões do mundo”.
A OMS defense que o registo e o monitoramento periódico das taxas de suicídio a nível nacional são os fundamentais para a implementação de estratégias nacionais eficazes na prevenção do suicídio.
No entanto, apenas 80 dos 183 Estados Membros da OMS, para os quais as estimativas foram publicadas em 2016, possuíam registos civis com dados de boa qualidade, alerta a organização, acrescentando que a maioria dos países sem dados de qualidade era de baixa e média renda.
Melhorar a vigilância permitirá não só criar estratégias mais eficazes para a prevenção do suicídio, como também apresentar com maior precisão os progressos conseguidos para alcançar os objetivos globais, assegura a OMS.
As taxas mais levadas de suicídio acontecem nos países de alta renda. “Embora 79% dos suicídios em todo o mundo tenham sido registados em países de baixa e média renda, a taxa mais alta (11,5 por 100 mil habitantes) correspondeu a países de alta renda”, revela o relatório.
O documento indica ainda que nos país de alta renda, quase três vezes mais homens que mulheres cometem suicídio, em comparação com países de baixa e média renda, onde a taxa é mais uniforme.

Segundo a OMS, o suicídio é responsável por cerca de 800 mil mortes a cada ano: mais do que o cancro da mama, a malária, a guerra ou os homicídios
Segunda causa de morte entre os jovens
Na faixa etária entre os 15 e os 29 anos, o suicídio surge como a segunda principal causa de morte, logo a seguir aos acidentes de trânsito.
Nos adolescentes dos 15 aos 19 anos, “o suicídio é a segunda principal causa de morte entre raparigas (a primeira são as doenças maternas) e a terceira entre rapazes (a seguir aos acidentes de trânsito e à violência interpessoal).
Os métodos de suicídio mais usados são enforcamento, envenenamento voluntário por pesticidas e armas de fogo, revela ainda o relatório onde se defende que a intervenção com melhor e mais rápida eficácia na redução do número de suicídios é restringir o acesso aos pesticidas usados para envenenamento voluntário.
“A alta toxicidade de muitos pesticidas significa que muitas tentativas de suicídio levam geralmente à morte, especialmente quando não há antídotos ou não há serviços médicos por perto”, explica a OMS, indicando que há um conjunto crescente de evidências internacionais que apontam para a eficácia de medidas que proibiram pesticidas altamente perigosos.
O país mais estudado a esse nível é o Sri Lanka, onde uma série de proibições reduziu a taxa de suicídio em 70% e, segundo estimativas, permitiu salvar vidas de 93 mil pessoas entre 1995 e 2015.
Já na República da Coreia – onde o ‘paraquat’ foi a causa da maioria dos suicídios por pesticidas nos anos 2000 – a proibição desse herbicida em 2011-2012 fez com que as mortes por envenenamento por pesticidas fossem reduzidas pela metade entre 2011 e 2013.
A OMS recomenda um reforço das medidas que evitem os suicídios, recordando que estas são mortes evitáveis. E exemplifica com medidas “que provaram ser mais eficazes”, como restringir o acesso a meios que possibilitem o suicídio, sensibilizar os mídia para uma informação responsável acerca dos suicídios, dotar os jovens de programas de conhecimento para as suas vidas “que lhes permitam enfrentar as dificuldades quotidianas”, a identificação precoce e a monitorização de pessoas em risco de suicídio.
O relatório da OMS revela ainda os dados de suicídio registados em cada país em 2016. Para Portugal, a taxa estimada de mortalidade foi de 14 por 100 mil habitantes.
Mas a agência Lusa, num artigo publicado sobre o relatório da OMS, avança que que estes dados não são coincidentes com os números oficiais já divulgados pela Direção-Geral da Saúde, com base nas tabelas oficiais do Instituto Nacional de Estatística, que indicam uma taxa significativamente mais baixa, de 9,5 por 100 mil.
Ana Grácio Pinto