Implantado dentro dos limites do concelho de Macedo de Cavaleiros, o Geopark Terras de Cavaleiros representa um importante património geológico e de biodiversidade, ao qual se junta uma rica gastronomia e um notável património histórico-cultural e um povo que recebe com carinho quem os visita.
“O Geopark Terras de Cavaleiros assume um papel proativo no sentido de estimular o turista a viver experiências gratificantes, que o façam tornar-se num protagonista ativo e não um mero observador da paisagem. Contribui para a afirmação deste como um destino geoturístico de excelência, que proporciona vivências científicas, educativas e culturais, onde todas as vertentes desta abordagem contribuam para o desenvolvimento sustentável do território, mantendo intactas as suas características naturais e a autenticidade das suas gentes”, lê-se no site do Geopark.
A singularidade deste lugar, associada às tradições e gente, garantiu a integração do concelho na rede mundial de geoparques da UNESCO, com o selo de Geoparque Terras de Cavaleiros atribuído há cinco anos, em setembro de 2014.
“Numa área de cerca de 700 quilómetros quadrados conseguimos ter a sequência completa de uma crusta oceânica e não há nenhuma parte do mundo onde uma área tão pequena tenha esta sequência completa”, revelou à agência Lusa, o geólogo João Alves.
No Maciço de Morais é possível caminhar sobre um fundo oceânico e percorrer mais de 400 milhões de anos de história da Terra através de uma ‘mistura’ geológica com vestígios de um mar entre dois antigos continentes. Esta raridade atraiu João Alves, 25 anos, de Vila Conde para Macedo de Cavaleiros e o joven geólogo faz agora parte da equipa de oito técnicos que mostram e explicam as particularidades dos 42 geossítios existentes na zona.
A história que tem despertado o interesse da geologia nacional e internacional remete para quando, muito antes dos dinossauros, houve o fecho de um oceano primitivo chamado Rheic e o micro continente Armórica e o continente Ibéria. “A placa oceânica é mais densa, tem tendência a mergulhar, mas aqui há um processo excecional em que a placa oceânica é transportada para cima de um continente, depois segue-se um choque de continentes e encavalitam-se uns sobre os outros”, explicou.
O pão e as bolas da ‘padeira de Lagoa’
A “sanduíche” geológica não é observável aos olhos dos leigos e, por isso, ao longo dos tempos a população de Morais chamou maldito ao monte onde nada do que plantavam medrava pois, sem saberem, estavam a cultivar o fundo do mar. Isso ocorre porque, como explicou o geólogo, as rochas oceânicas “possuem muito ferro e níquel, que é um inibidor de crescimento, e as plantas sofrem de raquitismo”.
Era numa daquelas fragas que a ‘Tia’ Maria Luísa e o povo de Lagoa ia lavar as mantas da azeitona e as tripas do porco (para o fumeiro). Aprendeu a cozer pão muito cedo, mas só depois da criação do Geoparque ganhou fama internacional como a “padeira de Lagoa” que recebe e põe visitantes a amassar para o forno a lenha, que cheira também a calços, roscas ou bolas sovadas, conta a Lusa.
Maria Luísa é um “tesouro” deste território, guardiã de saberes e memórias que partilha com as visitas.
Vende tudo o que coze no forno e com “as migalhinhas” já comprou “um sofá, um armário embutido e outras coisas”. “Entendo-me muito bem com os estrangeiros. É como a cantiga: não fales, faz-me sinais”, partilha com a Lusa do alto dos 80 anos de boa disposição. Esta atividade dá-lhe “vida” e o que lhe interessa é “o contacto com as pessoas”. Nunca imaginou a geração da acarinhada padeira o que as terras em volta guardam e a que os geólogos chamam ‘Umbigo do Mundo’.
O papel do Geoparque é sobretudo trabalhar para as pessoas e com as pessoas, como indicou a coordenadora, Antónia Morais, salientando que faz parte dos parâmetros de reavaliação a que estão sujeitos por parte da UNESCO de quatro em quatro anos, a primeira, com aprovação, realizada há um ano.
A responsável enumerou as iniciativas que estão em curso como a marca ‘geofood’ que incentiva os restaurantes a incluírem nas ementas produtos locais comprados a produtores do território.
Percursos e aulas a céu aberto
Por todo o concelho há sinalética e são promovidas tertúlias ou passeios pedestres pelos 24 percursos que totalizam 190 quilómetros de trilhos sinalizados e homologados. Os alunos até ao oitavo ano das escolas do concelho aprendem o que é o Geoparque na disciplina “a nossa terra” e têm uma sala de aula a céu aberto onde podem observar o que estudam.
Ainda assim, esta realidade “foi uma novidade” para a família Ratão, de Sintra, que a Lusa encontrou a visitar a exposição ‘O Livro da Terra’ com exibição de rochas e minerais. O pai António é “um apreciador” e já sabia que “esta zona é muito rica”, mas só nesta passagem soube do geoparque. “As pessoas conhecem é a praia do Azibo”, na opinião do filho Hugo, que se refere a um dos locais mais reconhecidos desta zona e que faz parte do Geoparque.
A coordenadora Antónia Morais reclama “discriminação positiva” com dinheiro para criarem infraestruturas de melhoramento dos acessos e fruição aos geossítios. A responsável acredita que o estatuto começa a contribuir para fixar jovens como Luis Filipe Costa, de 33 anos, que tem, desde há cinco anos, um negócio, em Podence, a aldeia dos Caretos candidatos a Património da Humanidade.
Começou por fazer máscaras de lata e couro para os caretos, passou para miniaturas, ímanes, porta-chaves, até ao fato completo dos mascarados que vende a 800 euros. A aceitação e procura têm sido tantas que abriu uma oficina/loja na aldeia e a namorada, a enfermeira Sofia Pombares, começou a ajudar. Luis Filipe já ganha tanto “em dois ou três meses” de verão como “em oito ou nove meses a dar formação” com lojas de artesanato de Lisboa e do Porto a aumentarem as encomendas.
O casal proporciona também experiências programadas a turistas e é aí que se evidencia a parceria com o Geoparque, na época baixa do turismo, com atividades como “pastor por uma manhã” ou apanha da castanha, a preços entre 10 e 30 euros por pessoa. “Ainda há muito trabalho a fazer na divulgação”, como reconheceu Benjamim Rodrigues, presidente do município que é responsável pelo geoparque e que está “à procura de parceiros”, entre agentes turísticos e a imprensa, para elaborar pacotes turísticos e fazê-los chegar aos operadores.
Como chegar
– A Auto-Estrada Transmontana (A4) e o Itinerário Principal nº2 (IP2), são as principais vias de ligação ao território.
– Macedo de Cavaleiros é servido por várias carreiras diárias de autocarros (Rede Expressos, Rodo Norte e Santos), com múltiplos horários, que facilitam a chegada ao Geoparque Terras de Cavaleiros
Centro de Informação do Geopark Terras de Cavaleiros
O Centro de Informação do Geopark Terras de Cavaleiros está instalado no Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros, junto ao Instituto Superior Jean Piaget/Nordeste e à Associação Comercial e Industrial de Macedo de Cavaleiros. São um espaço de trabalho da equipa técnica e de informações aos visitantes. É o local de acolhimento de todos os que necessitam de informações sobre o geopark e as atividades que podem realizar.
Horário de atendimento: das 9h às 12h30 e das 13h30 às 17h