Reunir informação clínica num passaporte da saúde para apoio imediato em caso de catástrofe é o objetivo de um projeto pioneiro que vai ser lançado em agosto, em Monchique, um ano após o grande incêndio do verão passado.
O passaporte tem o tamanho de um pequeno cartão, mas a informação que contém pode fazer a diferença, sobretudo no caso dos idosos, por ter registadas vacinas, alergias, a medicação habitual e parâmetros de saúde como a tensão arterial ou a frequência cardíaca, revelou à Lusa Patrícia Carneiro.
A enfermeira, que é a coordenadora da Unidade de Cuidados na Comunidade – Monchicos e também a impulsionadora do projeto, contou que a ideia surgiu das necessidades detetadas no apoio imediato às populações retiradas preventivamente das suas habitações, pelas autoridades, no grande incêndio de 2018.
“Há que retirar algumas conclusões e tomar algumas atitudes para que não volte a haver dificuldade na identificação das pessoas e das suas necessidades de saúde”, sustentou, sublinhando que na altura foi necessário perceber, caso a caso, qual a medicação que tomavam, para que “pudesse ser adquirida e fornecida aos utentes”.
O projeto, que vai ser apresentado no dia 9 de agosto, em Monchique, reúne a Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve e a Câmara de Monchique, havendo a expectativa de poder vir a ser alargado a mais regiões do país, acrescentou aquela responsável.
Depois do grande número vítimas nos incêndios de 2017 na zona centro do país, no incêndio de Monchique as autoridades optaram pela retirada preventiva das pessoas das suas habitações, na sua maioria idosos, causando constrangimentos ao nível dos cuidados de saúde.
Muitos habitantes foram retirados das suas casas sem documentos ou informação da medicação habitual, o que, somado a “alguns problemas informáticos” verificados na altura o incêndio, criou problemas “do foro clínico”, recorda Patrícia Carneiro.
O apoio na saúde dado à populações nos primeiros momentos após a evacuação das casas centrou-se na medicação e no sistema respiratório e cardíaco, algo que deixou de ser “preocupação no acompanhamento da população no terreno”, confessa.
Patrícia Carneiro aponta a consulta de psiquiatria comunitária como essencial nos primeiros meses após o incêndio, na qual utentes foram “sinalizados” e posteriormente acompanhados e vigiados “em consultas de psiquiatria, psicologia e enfermagem”.
As emoções iniciais levaram algumas pessoas a afluírem de forma recorrente ao centro de saúde local mas, ao longo do tempo, as emoções “foram-se apaziguando”.
A aproximação da data que assinala um ano após o maior incêndio de 2018 não deixa, contudo, a enfermeira descansada, já que pode tornar mais presentes as más recordações do verão passado, porque “é sempre uma data marcante na vida das pessoas”, conclui.