De 9 a 18 de agosto, no centro histórico de Silves vai ser recriado o ambiente vivido naquela cidade do Algarve, durante a Idade Média. É o regresso da Feira Medieval de Silves que tem este ano como tema ‘Xilb e os Vikings’.
Nesta 16ª edição da Feira, o protagonista é Yahya b. Ḥakam al-Bakrī, poeta e hábil diplomata, que ficou conhecido por ‘Al-Gazalī’ (A Gazela)). No ano de 844, envolvido no ambiente político e bélico que se vivia, o embaixador partiu de Silves em missão diplomática que o levou, de barco, até à terra dos Majus (vikings)
É esse momento da história da milenar cidade e da antiga capital do Reino do Algarve, que dá o mote durante dez dias à Feira Medieval de Silves.
Todos os dias, entre as 18h e a 01h os visitantes terão oportunidade de viver diferentes aventuras. Segundo o programa, haverá duas sessões por dia dos jogos de guerra entre muçulmanos e vikings, animação exclusiva no Castelo, manjares medievais, a recriação de diversos rituais vikings (ritual de casamento, sacrifício humano aos deuses, ritual da águia de sangue e ritual fúnebre) que farão habitantes e turista, regressar a outras épocas e perceber o que a cidade terá sido outrora.
“Nesta edição da Feira Medieval de Silves trazemos, novamente, a todo o público, um evento forte e com uma dinâmica única na região”, assumiu a presidente da Câmara Municipal de Silves, na apresentação da feira deste ano.
“Em 2019, vamos dar a conhecer algo que, se calhar, poucos sabem, mas que faz parte desta história tão rica do nosso concelho: a relação que Silves teve com os vikings, que ameaçaram o Gharb no século IX, e, por isso, saiu de Silves (Xilb) uma embaixada liderada por um astuto diplomata e poeta, chamado Yahya b. Ḥakam al-Bakrī, melhor conhecido por Al-Gazalī (A Gazela), que ao serviço de Abd al-Rahman II se dirigiu ao norte da Europa, ao encontro dos vikings, para negociar a paz, que acabou por durar aproximadamente um século”, explicou , Rosa Palma.
‘Xilb’ e os vikings
No ano de 844, foi lançada ao rio uma embarcação que fora construída nos estaleiros de construção naval da bela cidade de Xilb (Silves), pelo mais ilustre dos mestres e com recurso a avançadas técnicas de marear.
Os Majus (vikings), não deixavam em paz a atual costa portuguesa e que em Córdova (na Andaluzia) o emir estava preocupado. Mais para oriente, cidades como Sevilha e Cádis já tinham sido atacadas e saqueadas, tendo a primeira permanecido sob o domínio normando por cerca de um mês, findo o qual foi recuperada e, os do Norte, rechaçados.
A instabilidade vivida e a ameaça constante tornam-se insustentáveis pelo que o rei dos normandos propôs a paz e o emir Abd al-Rahman II ordenou que a mesma fosse negociada.
Para levar a bom porto tão importante missão foi escolhido Yahya b. Ḥakam al-Bakrī, ou melhor, Al-Gazalī (A Gazela), reconhecido pela subtileza, audácia, coragem, perseverança, habilidade para a réplica clara e contundente e facilidade em entrar e sair por qualquer porta.
Acompanhado por Yahya b. Habīb, levou até ao rei normando a resposta à petição deste e ainda um presente para retribuir o que havia sido ofertado por aquele monarca.
Xilb, a atual Silves, para além de arsenais que trabalhavam com o melhor madeirame, obtido na serra envolvente, tinha ainda um porto de águas calmas que levam até até ao mar: foi por isso escolhida pelo emir para o embarque de Al-Gazalī.
Passados dois meses na corte normanda, Al-Gazalī regressou com a paz conquistada. Década e meia depois os vikings voltaram a assolar a costa andaluza mas só voltariam a atacar a cidade de Silves mais de cem anos depois da missão diplomática liderada por Al-Gazalī.
No ano de 966, travaram dura batalha no rio Arade e perderam. Foi a ultima vez que os vikings foram vistos por aquelas bandas.
A partida de Al-Gazalī do porto de Silves, em missão diplomática à terra dos normandos no longínquio ano de 844, representa a mais antiga fonte escrita relacionada com Silves, uma das mais distintas cidades do Gharb al-Andalus, região que corresponde a parte do atual território português.