“Arrisquei tudo em “Severa” para ser o espectáculo da minha vida” refere-nos Filipe Lá Féria em entrevista no seu Politeama “. Sempre tive o desejo de fazer um grande Musical sobre a “Severa” . É uma figura quase desconhecida, que viveu numa época histórica em que Portugal teve uma das mais violentas guerras civis – a luta entre os liberais e absolutistas, refere-nos e responde às questões que lhe colocamos
Mundo Português- Já ultrapassou muito mais que as cem representações sempre com lotação esgotada. É um dos grandes, ou dos maiores espetáculos que idealizou? Era o seu sonho?
Filipe La Féria- Mais que o sonho, foi um espectáculo que me deu muito trabalho e veja os quilos que perdi. É um espectáculo que eu queria fazer há muitos anos, e um dos grandes espectáculos que já realizei em toda a minha vida – porque a SEVERA é um grande tema, é um tema nacional. Eu acho que o teatro é sempre a história de cada povo e é, muito desconhecida a origem do fado e, a SEVERA é a mítica criadora do fado e eu, enquadro-a no seu tempo histórico!
Estamos em 1820, nas lutas liberais- a guerra mais sangrenta que houve em Portugal, dos absolutistas contra os liberais e percebe-se que a origem do fado, está muito relacionada com a vinda da corte portuguesa que se exilou no Brasil, devido às invasões francesas e que, traz aqueles escravos que trazem a – modinha e o lundum e o chorinho, e que habitam nos Bairros mais populares de Lisboa, como o Bairro Alto e Mouraria onde a SEVERA era uma prostituta. Ela absorve e dá-lhe o tom cigano o tom Ibérico, a essas melodias e daí nasce o Fado- que se tornou a canção nacional.
MP- Sabemos que a sala tem sempre estado esgotada!
Filipe Lá Féria- Sempre esgotado! Ainda não fizemos uma única representação sem a sala não ter esgotado e sem o público interromper, e o senhor já viu e a interromper de cena a cena com bravos e palmas sem fim e no final aplaudir todos de pé!
MP- Espera uma vida em palco da “SEVERA” por muitos meses ou seja uma vida longa?
FLF- Eu acho que sim. Tudo depende do público. Eu como sabem, não tenho subsídios e este espectáculo para os que residem lá fora, para os emigrantes portugueses, é um espectáculo que eu convido a virem ver. Eu sei o que é ser emigrante, pois também já fui emigrante, porque é um encontro, com as nossas raízes, com o nosso Portugal e é um espectáculo que vão recordar toda a sua vida. Portanto convido todos os emigrantes a vir ver SEVERA o MUSICAL que está aqui no Politeama já há cinco meses. O espectáculo está de quarta a domingo, ou seja de quarta a sábado às 21H30 e também sábados e domingos às 17H00.
MP- E para isso arranjou o melhor elenco!
FLF- Sim um elenco extraordinário. A SEVERA é interpretado pela Anabela e Filipa Cardoso, um papel difícil que, para darem tudo em cada representação, convidei a ser interpretado pelas duas actrizes e depois actores consagradíssimos como é o Carlos Quintas, a Dora, o Filipe Albuquerque a grande revelação deste espectáculo, no papel de “Custódia” o Bruno Xavier que faz um “Marialva” fantástico; o João Frizza e a Yola Dinis que tem uma representação fabulosa na “Rainha D. Maria II” mas o elenco tem mais de 40 figuras, como Fernando Gomes que faz a figura do “Abade” ; o Francisco Sobral que é um grande fadista, a Carina leitão, o David Gomes, a Rosa Areia, uma representação fabulosa da Cristina Oliveira da “tia Mancheta” a bruxa
MP- E até as crianças que tem em cena….
FLF- As crianças que fazem a figura do João Ninguém, como havia tantos naquela altura e ainda há infelizmente, um pobre rapaz filho de uma camareira e o “mendigo” que faz de cego- o Paulo Miguel Ferreira. Enfim é Lisboa, é Portugal e a nossa grandeza e é a nossa miséria. É um espectáculo ao nível dos “Miseráveis” que a critica diz que podia estar na Broadway , ou no West End em Londres, porque tem a força a emoção e ao mesmo tempo faz rir, faz pensar e… às vezes chorar e a SEVERA depois de ver ficará para sempre nos nossos corações.
MP- E a SEVERA merecia isto?
FLF- Merecia e as pessoas não sabiam o que era o fado, não sabiam o que era a origem do fado e pensam que o fado é só a Amália, mas há este novo fado e eu tive grandes colaboradores. A música é lindíssima – é do Miguel Amorim é do Jorge Fernando que se deve a ele a renovação do fado pós Amália. Mas nada tem a ver como Musical Amália – é um tema mais forte, mais perfeito; é um espectáculo do qual eu me orgulho!
MP- E aos setenta e quatro anos o Filipe não pára!
FLF- Eu não tenho 74 anos… eu parei aos 54 anos e recuso-me a fazer anos e ainda hoje no táxi o motorista dizia o senhor aprece que tem quarenta com essa vitalidade toda.
MP- Falou na Broadway . Era um espetáculo que se podia levar às Comunidades Portuguesas sempre tão havidas de espectáculos portugueses de alta qualidade?
FLF- Devia ir às Comunidades Portuguesas. Já temos um empresário da Califórnia e de Paris também interessados…vamos ver. É um espectáculo com muita gente, fazer talvez uma versão mais reduzida e u tenho a certeza que teria o mesmo êxito que o Musical Amália e u não me irie esquecer no Zénith Paris o Amália com mais de 50 mil espectadores. Eu gosto muito dos nossos emigrantes e faço o apelo e digo novamente – convido todos os portugueses, que vem agora passar o Verão a Portugal, virem aqui ao teatro Politeama, ver a SEVERA e nunca mais se vão esquecer! Muitos estrangeiros vem ver a SEVERA e adoram.
António Freitas ( entrevista e fotos)