Há 55 anos, como na época foi divulgado e posteriormente tem sido recordado, levei ao Cabo Norte o primeiro automóvel de matrícula portuguesa, numa viagem de 44 dias, que totalizou 13.512 quilómetros e se desenvolveu através de nove países, viagem que se encontra relatada no meu livro ‘Viagem às Terras do Sol da Meia-Noite’.
De então para cá, muitos terão sido por certo os portugueses que se deslocaram ao ponto mais setentrional da Europa em duas e quatro rodas, por via marítima e por via aérea, descobrindo uma distante região europeia, bem diferente das terras centrais e meridionais do continente.
E agora foram ao Cabo Norte dois portugueses, em duas viagens simultâneas, que proporcionaram somente um breve encontro, algures numa estrada da Noruega. Com o bom êxito destas duas jornadas, obviamente, muito me congratulei.
Entre 22 de maio e 26 de junho, um veterano em longos percursos pelas estradas da Europa, o prezado amigo e dedicado ‘Carochista’, Joaquim Banha, ao volante de um heróico e resistente Vokswagen Carocha de 1950, cometeu a proeza de percorrer 14.532 quilómetros, alcançando o Cabo Norte no dia 9 de junho, após ter alcançado também Vardo, a localidade que se situa mais a leste da Noruega. Sem dúvida, carro e condutor, uma valente dupla, mais ou menos com a mesma idade.
Suportou Joaquim Banha as baixíssimas temperaturas que se lhe depararam e teve que se haver com a quebra do pára-brisas e com um arreliador dínamo que teimava em não carregar. Mas tudo levou de vencida da melhor forma. Encontrou bons amigos, ficou encantado com a surpreendente beleza dos fiordes e apaixonado como é pela matéria, aproveitou para visitar cinco museus de automóveis; a Wolsburgo, a terra-mãe dos ‘carochas’, fez segunda ou terceira visita.
A viagem “paralela” ao Cabo Norte, em duas rodas, foi a que efetuou um jovem de Torres Vedras, José Silva (38 anos, grande estatura), aos comandos de uma potente Honda, que partiu simbolicamente de do litoral de Santa Cruz no dia 1 de Junho, com o propósito de “ligar” por estrada o Atlântico ao Ártico.
Regressado no dia 28, em fim de tarde de Feira de São Pedro em Torres Vedras, José Silva percorreu 12.870 quilómetros, suportando igualmente as inclemências do tempo gélido na região extrema da sua jornada e por elas veio a ser afetado, uma vez que, no dia 10 de Junho, após chegar à região do Cabo Norte, a inesperada queda de um grande nevão, aliado ao gelo, levou ao corte do troço final da estrada, impedindo José Silva de alcançar o promontório do ponto mais setentrional da Europa, que estava a dois passos.
Porque os dois protagonistas destas jornadas transcontinentais as efetuaram no mesmo sentido, ida pela Finlândia e regresso pela Noruega, veio a ser no regresso que um encontro casual os juntou, como já foi dito, algures na Noruega, durante a “descida” do país pela região dos fiordes.
Tal como eu há 55 anos tive muito que contar, de Joaquim Banha e de José Silva também serão de esperar relatos de quanto viram e apreciaram numa Europa distante e diferente. E para o ano talvez se façam novamente à estrada…
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