A questão da exploração do lítio em Portugal, ainda não foi devidamente explicada, em especial às populações que inevitavelmente sofrerão os seus efeitos, o que não impediu o governo de avançar “nas próximas semanas” para o processo de concurso de atribuição de licenças de exploração…
Tem sido sempre assim no nosso país, quando surge uma janela de oportunidade, “vai tudo e em força” aproveitando essa solução, sem olhar para os custos de oportunidade que podem vir a ser elevados. Mas ninguém quer saber.
A exploração do lítio está na ordem do dia, e pouco tempo passou desde que se começou a falar “timidamente” na mera possibilidade, para passar a ser uma realidade tão atual e tão urgente que parece até que a população das áreas envolvidas foi completamente ultrapassada e nada, ou muito pouco, sabe sobre o assunto, ou como vai ser o futuro do seu dia-a-dia. Mas parece que os dados estão lançados, e já aí estão os “eucaliptos” do futuro.
Alguns ambientalistas já se pronunciaram e pedem alguma reflexão. O responsável da “Zero”, por exemplo, defende que é preciso “diversificar e descobrir alternativas”, porque se se aposta só neste metal, “vão ser precisas milhares de toneladas à escala global”, o que poderá tornar o uso do lítio insustentável a longo-prazo.
João Branco sublinhou por sua vez que as reservas de lítio estudadas em Portugal estão na rocha, ao contrário de outros países, em que se extrai um sal que contém aquele elemento e que o impacto da mineração depende da concentração.
Se for pouco concentrado, terá que ser extraída e escavada mais rocha, o que poderá produzir uma quantidade considerável de escória, sujeitas a processos de lavagem, que produzem muitos poluentes, não necessariamente mais lítio.
o cluster do lítio
Entretanto o Governo prepara um concurso público para que as empresas que façam a exploração mineira de lítio no nosso país tenham que construir uma refinaria ou estar associado a uma refinaria de lítio em Portugal. Os ambientalistas da “Quercus” alegam, contudo, que a exploração provocará danos severos no ambiente. O tema vai aquecer nos próximos tempos a discussão em Portugal.
Recorde-se que o lítio é essencial para a construção de baterias quer de veículos elétricos, quer de outro tipo de equipamentos, designadamente smartphones.
Para o Executivo, tinham sido identificados doze locais de elevado potencial de lítio num primeiro documento e numa fase inicial. Destes, três já foram excluídos precisamente porque tinham uma grande sensibilidade ambiental.
Agora, “a ideia é termos aqui um projeto de ‘green mining’, com uma enorme eficiência material, isto é, aproveitando ao máximo todos os resíduos, com enorme eficiência hídrica, isto é, garantindo que a água que circula pode ter mesmo mais que uma utilização, e um rigoroso cumprimento de todas as regras ambientais”, pretendendo assim que a exploração de minas de lítio em Portugal seja feita “com todo o rigor ambiental” e de uma forma “exemplar do ponto de vista do controlo dos impactos ambientais”.
temperatura vai aquecer
Contudo o tema da exploração do lítio promete, aquecer a temperatura nos próximos tempos, já que a “Quercus” já fez saber que estará na primeira linha da contestação.
Esta organização ambientalista consiedera “completamente inaceitável a ameaça atual que as explorações mineiras a céu-aberto preconizam” para o ambiente, tendo organizado este forum para desmistificar aquilo que diz ser “o papel do lítio na descarbonização e na mobilidade sustentável”.
A Quercus entende que, sob a ameaça de exploração de lítio pelos projectos mineiros de Ampliação da Mina do Barroso e Exploração Mineira de Sepeda – Montalegre, “é imperioso um esclarecimento por parte da UNESCO, relativo à manutenção da designação de Património Agrícola Mundial do Sistema Agro-Silvo-Pastoril da Região do Barroso, caso se verifique a instalação das explorações mineiras referidas”.
Para os responsáveis da Quercus este movimento é “em tudo semelhante a uma onda de ‘garimpagem’, que em séculos passados caracterizou movimentos de mineração em outras regiões do globo”. A associação ambientalista apresentou, por isso, já uma denúncia à UNESCO relativa à ameaça que representa a intenção de instalação de duas minas de lítio a céu-aberto em Boticas e Montalegre.
Para a Quercus, há uma “ameaça severa à integridade do sistema agro-silvo-pastoril da Região do Barrosos”, designado Património Agrícola Mundial por parte da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO).
Também o deputado de ‘Os Verdes’ (PEV) José Luís Ferreira o processo de licenciamento de minas de exploração de lítio em terras de Barroso, Montalegre, considerando que está a ser um “atropelo à democracia”. Em declaração política, no parlamento, o deputado ecologista caraterizou a “formalização prematura deste contrato de exploração” [no concelho de Montalegre] como “prenúncio de um crime ambiental” e “um monumental descrédito dos instrumentos e procedimentos de avaliação ambiental”. “Para além disso, mas não menos grave, é ainda todo o atropelo à democracia que este caso tem consubstanciado”, acusou, frisando que o executivo do PS assegurara ao PEV que “não haveria qualquer exploração de lítio em nenhuma das áreas classificadas do país”.