Cirurgias e consultas adiadas marcaram hoje a primeira manhã de greve dos médicos, que registou uma adesão a rondar os 80%, segundo o sindicato, que acusa a ministra da Saúde de já ter “atirado a toalha ao chão”.
O balanço feito pelo secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) aponta para dados de adesão entre os 75% e os 85%, no primeiro de dois dias de paralisação, que coincide com o início de quatro dias de greve de enfermeiros.
Segundo Roque da Cunha, nos centros de saúde a adesão nacional ronda os 80% a 85%, nos blocos operatórios dos hospitais está pelos 80% e nas consultas externas hospitalares situa-se entre os 75% e os 80%.
Muitas cirurgias estarão a ser afetadas pela greve, uma vez que há várias dezenas de blocos cirúrgicos encerrados.
O Hospital de São João, no Porto, tem hoje apenas três das 12 salas de cirurgia a funcionar e registou também algumas consultas canceladas.
Em Coimbra, os números preliminares de adesão à greve no Centro Hospitalar e Universitário rondam os 80% no caso dos médicos e cerca de 85% nos enfermeiros.
Ainda na zona Centro, o SIM indica que o Hospital de Leiria teve uma adesão de 100% à greve nos blocos operatórios.
Também na região de Lisboa, várias consultas foram afetadas e há muitos blocos operatórios encerrados, como no caso do hospital de S. José, uma das unidades onde hoje estiverem dirigentes do SIM a fazer o balanço da paralisação.
Panorama semelhantes registou-se no Alentejo, com consultas e cirurgias adiadas em hospitais e centros de saúde numa adesão que a nível regional ronda os 90% a 95%.
A greve dos médicos provocou também a paragem dos blocos operatórios nos hospitais do Algarve, que só estão a funcionar para doentes urgentes.
Até ao momento ainda não há dados nacionais da adesão à greve dos enfermeiros decretada por um dos sindicatos de enfermagem.
A paralisação dos enfermeiros começou hoje pelas 08:00, sendo que a dos médicos decorre desde as 00:00.
Como em todas as greves no setor da saúde, há serviços mínimos a serem cumpridos, incluindo-se todas as urgências, unidades de cuidados intensivos e alguns tratamentos, como quimioterapia.
Após o primeiro balanço da greve, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) acusou a ministra da Saúde de irrelevância política e de ter já “atirado a toalha ao chão”, apelando ao primeiro-ministro e ao ministro das Finanças para que tornem a saúde uma prioridade.
“A senhora ministra já assumiu ela própria que não é só Centeno, já deitou a toalha ao chão. Já está perfeitamente acomodada (…). A irrelevância política é evidente”, afirmou Roque da Cunha à agência Lusa.
O dirigente sindical pede ao primeiro-ministro e ao ministro das Finanças que compreendam que a saúde tem de ser uma prioridade, lamentando e estranhando que António Costa nunca tenha recebido os sindicatos médicos.
“O primeiro-ministro tem na saúde um irritante, é aquilo que o incomoda”, acrescentou.
Rejeitando uma visão do Governo de que “está tudo bem”, recordou que há mais de 700 mil utentes sem acesso a médico de família e que há doentes que esperam dois anos por uma consulta hospitalar.
“Os utentes não entendem que se diga que está tudo bem”, afirmou à Lusa.
Com a greve que hoje começou, e que se prolonga até às 24:00 de quarta-feira, os médicos exigem que todos os portugueses tenham médico de família, lutam pela redução das listas de utentes dos médicos e por mais tempo de consultas, querem a diminuição do serviço em urgência das 18 para as 12 horas, entre várias outras reivindicações, que passam também por reclamar que possam optar pela dedicação exclusiva ao serviço público.
O primeiro dia de greve foi decretado pelo SIM e o segundo dia, quarta-feira, foi decidido pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM), que marcou para o mesmo dia à tarde uma concentração de protesto junto ao Ministério da Saúde, em Lisboa.
Quanto aos enfermeiros, a greve decretada pelo Sindicato Democrático dos Enfermeiros Portugueses (Sindepor) vai prolongar-se até ao final do dia de sexta-feira.
O sindicato reclama o descongelamento das progressões de todos os enfermeiros, independentemente do vínculo ou da tipologia do contrato de trabalho e que sejam definidos os 35 anos de serviço e 57 de idade para o acesso à aposentação destes profissionais.
Exige ainda que o Governo inclua medidas compensatórias do desgaste, risco e penosidade da profissão, assegurando as compensações resultantes do trabalho por turnos, defina condições de exercício para enfermeiros, enfermeiros especialistas e enfermeiros gestores que determinem a identificação do número de postos de trabalho nos mapas de pessoal e que garanta, no caso dos especialistas, uma quota não inferior a 40%.