O ex-presidente do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) Carlos Matias Ramos considerou, em Lisboa, que o futuro aeroporto do Montijo, Setúbal, não é uma decisão do Governo, mas sim da concessionária ANA – Aeroportos de Portugal.
Matias Ramos falava após uma delegação da Plataforma Cívica Aeroporto BA6 Não ter entregue um documento, com posições contra a construção do aeroporto na Base Aérea do Montijo, ao secretário de Estado adjunto e da habitação, Alberto Souto de Miranda, no Ministério das Infraestruturas e da Habitação, em Lisboa.
“Não é uma decisão estratégica do Governo, a longo prazo, dos interesses do país. Mas sim da concessionária [ANA – Aeroportos de Portugal] que tem a faca e o queijo na mão por um contrato que lhe foi altamente benéfico”, realçou o também antigo bastonário da Ordem dos Engenheiros.
De acordo com Matias Ramos, o Governo está preso a um contrato celebrado com a concessionária.
“[O secretário de Estado] Percebe isto. Mas está manietado por um contrato”, indicou.
Para o antigo bastonário, a reunião com o Governo foi muito positiva da parte relacional com os cidadãos, mas ficaram algumas dúvidas por tirar no campo operacional.
“Nós defendemos aqui o que temos vindo a defender de uma forma séria e rigorosa, pedindo que nos mostrem os estudos que dizem que têm, que nunca mostraram”, precisou Matias Ramos, lamentando não haver consideração pelo Campo de Tiro de Alcochete, como solução.
O antigo presidente do LNEC lembrou ainda que cerca de 30 mil pessoas vão ser afetadas, no Montijo, problema que, segundo o mesmo, poderia ser resolvido com a escolha do Campo de Tiro de Alcochete, que afetará cerca de 400 habitantes.
“Ali [Alcochete] não tem limitações de espaço de expansão, porque não tem povoações ao lado como o Montijo. Cerca de 30 mil pessoas vão afetadas. No Campo de Tiro de Alcochete, são 400. E com 400 consigo resolver o problema”, sublinhou.
Citando projeções das taxas de crescimento e número de passageiros mundiais, Matias Ramos considerou que o Montijo vai saturar em 2033 ou 2035.
“A solução Portela mais Montijo saturará por volta de 2033, 2035… O aeroporto vai ser construído, teoricamente, em 2020. Isso significa cerca de quatro anos de concessão. Vamos construí-lo para 10 anos de operação”, disse.
Após cerca de duas horas de reunião, o ex-presidente do LNEC reiterou que a posição da Plataforma Cívica é a não construção de um aeroporto no Montijo, e que a decisão devia ser clara às populações.
“A nossa posição é Montijo não. A decisão [do Governo] devia ser baseada em coisas claras transmitas à população e não em falácias”, anotou, recordando que “o Estado está limitado a situações que são impostas pelo próprio contrato”.
A ANA e o Estado assinaram em 8 de janeiro o acordo para a expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa, com um investimento de 1,15 mil milhões de euros até 2028 para aumentar o atual aeroporto de Lisboa (Humberto Delgado) e transformar a base aérea do Montijo no novo aeroporto de Lisboa.