Na passada segunda-feira, o presidente norte-americano, Donald Trump, cumpriu a promessa feita no fim de semana e assinou um decreto presidencial que impõe sanções adicionais “pesadas” contra o líder supremo da República islâmica (Ayatollah Ali Khamenei), os principais elementos do seu gabinete e “muitas outras” figuras relevantes do país.
Esta decisão é produto da escalada de tensão entre os Estados Unidos e o Irão, país que Trump acusa de fomentar o terrorismo e de desestabilizar o Médio Oriente, que nas últimas semanas contabilizou um conjunto de incidentes ao largo do relevante Estreito de Ormuz (por onde passa cerca de um terço do petróleo mundial). O ataque a seis petroleiros e o abate, por parte do Irão, de um drone americano não pilotado que, segundo o presidente americano, quase levou a um ataque militar em larga escala, atestam a gravidade da situação.
Em resultado desta ação, foram reinstituídas, em agosto, as sanções ao Irão levantadas na sequência do acordo de 2015 assinado pelo então presidente Barack Obama e colocadas restrições às relações comerciais de Teerão (incluindo com as restantes potências que firmaram o compromisso que levou Teerão a abdicar do desenvolvimento de armamento nuclear: Rússia, Reino Unido, França, China e Alemanha, que se mantêm fiéis ao acordo embora com margem de manobra limitada).
Tendo em conta que as exportações de petróleo são a principal fonte de receitas do Irão (valem em torno de 80% das exportações iranianas – o Irão detém as quartas maiores reservas petrolíferas mundiais e as segundas ao nível do gás natural), foi este o principal alvo das sanções americanas. Mesmo garantindo que o objetivo não passa por criar condições para uma mudança de regime, Trump reconhece pretender asfixiar a economia iraniana para levar o país a ceder. Porém, não se sabe bem qual a dimensão da cedência pretendida.
Economia cai, desemprego dispara
Depois de levantadas as sanções americanas em 2015, em fevereiro de 2016 o Irão retomou as exportações de petróleo para a Europa, o que aconteceu pela primeira vez em 3 anos.
Logo em 2016 o PIB iraniano expandiu-se em 12%, para crescer 3,5% em 2017. Em função das sanções, o Fundo Monetário Internacional estima que a economia iraniana tenha encolhido 3,9% em 2018 e aponta para uma retração de 6% neste ano. A revista Economist acrescenta que no ano fiscal de 2018-2019, o PIB tenha caído 4,9% face ao período homólogo.
Estes números refletem-se naturalmente na negociação de petróleo nos mercados internacionais – desde logo porque o Irão é o quinto maior produtor mundial da matéria-prima -, cujos preços têm crescido expressivamente. Na semana passada, o Brent negociado em Londres valorizou 5% e o WTI, transacionado em Nova Iorque, disparou acima de 10% (maior aumento semanal desde dezembro de 2016).
Dado o peso da comercialização de petróleo para a economia iraniana, esta está a ser fortemente afetada no seu conjunto. A inflação disparou 37% nos últimos 12 meses, com especial impacto no preço dos alimentos, e o rial iraniano desvalorizou 60%.
Também o desemprego retomou a tendência de crescimento verificada antes do acordo de 2015, que Trump considerou em diversas ocasiões ter sido o “pior acordo da história dos acordos”.
Com empresas como a Daimler e a Total a fecharem operações no país dadas as sanções aplicadas ao setor automóvel iraniano, a taxa de desemprego cresceu para 12%. E a taxa de desemprego jovem ascende a quase 30%, o que é especialmente grave já que 60% da população iraniana tem menos de 30 anos de idade. Em paralelo, o nível de rendimentos iniciou uma trajetória descendente.
O cerco montado pelos EUA à economia iraniana impede ainda Teerão de constituir reservas monetárias adquirindo dólares e de comprar títulos da dívida soberana americana.
Perante o degradar da situação económica e um acordo nuclear aparentemente ferido de morte pela saída dos EUA, Teerão anunciou no mês passado que vai deixar de cumprir os limites estabelecidos no compromisso de 2015 já a partir do próximo dia 27 deste mês. Se tal se confirmar e o Irão retomar a acumulação de urânio enriquecido, as sanções das Nações Unidas também serão repostas, o que deixaria a economia do país ainda mais bloqueada. O moderado primeiro-ministro iraniano, Hassan Rouhani, fala numa “guerra comercial” promovida por Washington – falta saber se a República islâmica instituída em 1979 terá condições para sobreviver a esta guerra ou se admite recorrer à força para tentar a sua sobrevivência.