Os últimos 11 moradores do prédio Coutinho, no centro de Viana do Castelo, ficam hoje sem fornecimento de gás, afirmou Agostinho Correia, residente que admite ser “difícil” continuar a “fazer vida” no edifício já sem abastecimento de água.
“Não tenho água para fazer o pequeno-almoço e tomar banho. Assim é impossível. O meu filho trouxe-me um garrafão de água para lavar a cara, mas tomar banho é impossível. Hoje vão cortar o gás e depois a luz. Não posso fazer vida em casa, mas não entrego a chave”, afirmou esta manhã Agostinho Correia.
O empresário, de 88 anos, vive há 30 no edifício Jardim, localmente conhecido como prédio Coutinho, o nome do construtor que, na década de 70, ergueu os seus 13 andares.
Na segunda-feira, os últimos 11 moradores no edifício recusaram entregar a chave das habitações à VianaPolis, no prazo fixado pela sociedade que gere o programa Polis, para tomar posse administrativa das últimas frações do edifício.
Esta ação de despejo estava prevista cumprir-se às 09:00 de segunda-feira, na sequência de uma decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga, de abril, que declara improcedente a providência cautelar movida pelos moradores em março de 2018.
Durante a tarde de segunda-feira, a VianaPolis começou a avisar os últimos moradores da suspensão do abastecimento de água e começou a mudar as fechaduras das casas que já não se encontravam habitadas. Desde manhã cedo que a PSP de Viana do Castelo acompanhou todo o processo, “para garantir a ordem pública”.
Hoje, a polícia permanece no pátio fronteiro ao edifício, mas com um dispositivo mais reduzido. Nas duas portas de acesso ao prédio, já com novas fechaduras para impedir que quem sai volte a entrar, estão dois seguranças de uma empresa privada, contratada pela VianaPolis.
O fornecimento de gás vai ser cortado hoje, tal como as telecomunicações.
No jardim público, mesmo em frente ao prédio, junto ao rio Lima, as pessoas vão acompanhando e comentando a operação.
Esta manhã, Agostinho Correia saiu do edifício “à hora de sempre”. Eram 09:00 já abria a porta aos funcionários no negócio de têxteis instalado mesmo ao lado do prédio.
Amparado pela bengala, o morador disse já ter começado a “tirar as miudezas” do interior do apartamento, no quinto andar, “mas as mobílias ficaram”.
“É horrível, querem-me tirar a casa que eu paguei. Ainda por cima com a minha mulher tão doente no hospital”, lamentou.
Apesar de admitir a “falta de condições” para viver no apartamento garantiu que vai “resistir”.
“Vou continuar a resistir mas não posso fazer vida lá. Vou lá dormir e mais nada. Entregar as chaves não entrego. É um absurdo, querem pôr-me fora da minha casa, querem dar-me uma indemnização ridícula e não pode ser”, frisou.
O empresário disse ter “uma segunda habitação, mas muito longe do negócio”.
“Há 18 anos que andamos nesta luta pelas nossas casas. E agora foi de qualquer maneira, com estas cenas aqui, polícia. Têm seguranças nas duas portas”, referiu.
Na segunda-feira, em declarações aos jornalistas, o presidente da Câmara de Viana do Castelo acusou os últimos 11 moradores do prédio Coutinho de “ocupação ilegal” de “propriedade do Estado”, garantindo que a VianaPolis “recorrerá a todos meios legais para tomar posse das habitações.
“As pessoas, neste momento, estão a desobedecer a uma decisão do tribunal, que é a de terem que abandonar as frações porque são propriedade da VianaPolis. O que estamos a fazer é a tomar posse efetiva das frações, porque a ocupação por parte das pessoas, neste momento, configura uma ocupação ilegal”, disse José Maria Costa.
A VianaPolis é detida em 60% pelo Estado e em 40% pela Câmara de Viana do Castelo.