Do céu não caiu a tradicional orvalhada de São João, mas aguaceiros que ameaçaram estragar os planos de milhares de foliões. Ao que parece, as preces foram ouvidas e horas antes de o sol se começar a pôr, o céu do Porto abraçou a tonalidade cinzenta que tanto o caracteriza para assim se manter durante grande parte da noite.
Os portuenses puderam deixar o chapéu-de-chuva em casa e libertar as mãos para os coloridos martelos, os nem sempre bem-sucedidos balões e as desejadas sardinhas que nos grelhadores dividiram protagonismo com o entrecosto e os pimentos.
A menos de uma hora do tradicional fogo-de-artifício, descer a escadaria dos Guindais e ouvir a língua portuguesa era um desafio. Os visitantes apropriaram-se dos martelinhos e tomaram por assalto uma festa que para os próprios parece não passar disso que têm dificuldade em perceber. Escadaria percorrida, todos os caminhos iam dar à Ribeira. Milhares de pessoas aguardavam pacientemente pelo fogo-de-artifício, afinal de contas o ambiente era de festa. E a espera pareceu não desiludir todos os que se concentravam no cais de olhos e câmaras apontados ao céu, sempre com as vozes a trautear as letras das músicas que se faziam ouvir e que serviam de banda sonora ao espectáculo pirotécnico.
A constelação de cores foi o cenário de fundo para sorrisos, abraços, beijos, lágrimas e até para pedidos de casamento. Desta feita, com os portugueses em maioria, porque há hábitos que se custam a perder.
Mas não só de festa e diversão se fez a noite sanjoanina. À hora a que muitos começavam a preparar as suas “brasas”, Adélia Silva estendia sobre as mesas que lhe servem de banca os símbolos mais típicos desta época.
Do alto dos seus 57 anos e dos 11 que leva a vender na Praça da Batalha, não tem problemas em admitir que o negócio “está fraco” e aposta todas as esperanças na noite que se avizinha: “tem estado um bocado parado, vamos ver hoje”. Na praça, uma das mais centrais do Porto, parecia haver mais vendedores que fregueses. No entanto, dos que passavam curiosos, a grande maioria seriam turistas, os que “perguntam, mas não compram nada”. Preparavam-se para passar a noite a celebrar, experiência que Adélia nunca teve, já que as recordações que tem do São João são “sempre a trabalhar”. O segredo para aguentar parece estar mesmo diante dos seus olhos: “É dar a martelada! E lá para as 5h vou dormir para a carrinha”, conta entre gargalhadas.