D. Miguel era considerado pouco culto (diziam os educadores que o príncipe insistia em assinar Migel), mas ninguém ousava chamar-lhe burro, muito menos depois de, em 1828, se ter virado contra o pai e o irmão para se tornar Rei absoluto.
O rei D. Miguel I de Portugal (1802 – 1866), apesar de temperamento impulsivo, era adepto de caçadas e touradas. Mais do que a vida no paço real, seduzia-o a presença assídua em tabernas e meios populares. A boa figura, a força e a bravura faziam dele uma figura com carisma, quer fosse amado ou odiado.
A grande lacuna de D. Miguel relacionava-se com alguma falta de formação. Apesar de ter aprendido teologia e inglês, não era um jovem dotado nem ligado aos ensinamentos escolares.
Durante o seu reinado, viajou pelo País, recebendo o apoio popular. No dia 4 de novembro de 1828, vindo na sua carruagem com duas das infantas suas irmãs, a princesas D. Isabel Maria de Bragança e D. Maria da Assunção de Bragança, e ainda uma aia, perto da Quinta do Caruncho quando se dirigia de Queluz para o Paço Real de Caxias, sofreu um desastre que lhe ia custando a vida e a todos que o acompanhavam.
A estrada por onde circulavam era cheia de covas e em muito mau estado e a certa altura, uma sub-roda fez baloiçar a carruagem, que se voltou, tendo as infantas sido cuspidas para um dos lados.
D. Miguel, enleado nas rédeas, ficou entre as rodas. As mulas, espantadas, desataram numa corrida e a carruagem passou por cima do rei, fraturando-lhe o fémur da perna direita.
Como curiosidade, logo depois do terrível acidente, havendo por perto uma casa de gente do campo, D. Miguel foi rapidamente levado a ela para se recompor e esperar melhores socorros.
Segundo relatos, ficou estendido num canapé, apoiando a perna numa cadeira, e aceitou tomar um chá. Poucos dias depois D. Miguel enviou a essa casa no campo um serviço de chá magnífico, um canapé e uma cadeira de construção muito boa e de valor (tudo o que foi usado daquela casa para o serviço do Rei foi oferecido e replicado em muitíssimo maior valor).
O rei D. Miguel, pelas suas qualidades e ainda pelo ideal que encarnava, era então um autêntico ídolo popular, após a notícia do acidente, alguns populares acorreram ao local e abateram imediatamente as mulas que puxavam a carruagem acidentada, sob a acusação de crime de lesa-majestade. Foi a partir daí que os absolutistas começaram a apelidar os liberais de “malhados”. Pelo facto de as mulas serem às malhas, o povo atribui-lhes os mesmos instintos que aos liberais.