Uma investigação da Universidade de Aveiro (UA) monitorizou pela primeira vez os sinais vitais dos bombeiros em cenários de incêndio experimentais.
O resultado confirmou que os problemas no aparelho respiratório e circulatório são apenas alguns dos problemas de saúde que afetam os bombeiros durante o combate a incêndios florestais.
O estudo aponta que “a exposição frequente e prolongada a elevados níveis de concentração de poluentes durante o combate ao fogo, pode originar problemas de saúde agudos ou de longo prazo”, revela a UA numa nota enviada ao ‘Mundo Português’.
A investigadora Raquel Sebastião diz que alguns destes problemas “podem aparecer rapidamente, como erupções agudas e instantâneas nos olhos, irritações no nariz e na garganta e falta de ar”.
Estes são sintomas que “geralmente evoluem para dores de cabeça, tonturas e náuseas e que podem ter uma duração de várias horas”, acrescenta a investigadora do Instituto de Engenharia Informática e Telemática de Aveiro (IEETA), uma das unidades de investigação da UA.
“Verifica-se também “a diminuição da função pulmonar, podendo-se traduzir numa capacidade respiratória ligeiramente diminuída, na constrição do trato respiratório e em hipersensibilidade das pequenas vias aéreas”, acrescentam os investigadores.
Durante o combate de incêndios, os bombeiros estão especialmente expostos a poluentes que são inalados, afetando o seu sistema respiratório. De acordo com a Associação Nacional de Proteção contra Incêndios dos EUA, a maioria das mortes ocorridas durante os incêndios são devidas à inalação de poluentes presentes no fumo.
A investigação envolveu os investigadores Raquel Sebastião, Sandra Sorte, Joana Valente, Ana Isabel Miranda e José Maria Fernandes do IEETA e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (outra das unidades de investigação da Academia de Aveiro).
Estudo com Bombeiros de Albergaria
O trabalho pioneiro monitorizou o ritmo cardíaco de bombeiros e a respetiva exposição a monóxido de carbono em diferentes cenários de combate ao fogo.
As medições permitiram verificar situações de exposição dos bombeiros a níveis de monóxido de carbono elevados, bem como alterações no ritmo cardíaco associadas a valores de pico de exposição a este gás de grande toxicidade para a saúde humana.
Esta recolha envolveu a monitorização de quatro bombeiros da corporação de Bombeiros Voluntários de Albergaria-a-Velha, em diferentes cenários de combate ao fogo, no decorrer de queimas experimentais realizadas na Serra da Lousã.
“Apesar de ser necessário realizar mais estudos”, refere Raquel Sebastião, “os resultados sugerem que o ritmo cardíaco dos bombeiros reage a variações de exposição a gases como o monóxido de carbono, e que a localização do bombeiro em relação ao fogo e ao fumo pode ser relevante no que se refere aos efeitos da inalação do gás”.