Mais de 600 crianças passaram esta quinta-feira pelo Festival de Ciência, em Ponta Delgada, um evento que levou o mar e o espaço aos jovens da ilha de São Miguel.
O festival reuniu mais de 20 atividades desenvolvidas nas áreas do mar e do espaço, em que participaram mais de 680 crianças do 1.º e 2.º ciclos do ensino básico da ilha de São Miguel, no largo do Teatro Micaelense, onde foi celebrado o Dia Nacional dos Cientistas.
O evento, organizado pelo Expolab, teve a colaboração dos centros de ciência dos Açores, investigadores e de alunos de escolas, que levaram os seus projetos para os dar a conhecer aos mais novos.
É o caso do clube de ciência da Escola Secundária da Lagoa, o SPDF, que, recorrendo a materiais caseiros, colocou as crianças a pensar sobre vários problemas.
Alexandre Pires, aluno do 10.º ano, explicou à Lusa que, com palhinhas de plástico, fita-cola e cola, conseguia demonstrar como construir pontes estruturalmente sólidas ou barcos que flutuem. Na banca ao lado, elásticos e aviões de papel serviam para ensinar conceitos como a força elástica e a aerodinâmica.
“A ideia é eles falharem” para que consigam aprender pela tentativa, afirmou o jovem.
Para este aluno, que quer seguir Engenharia Química, a lição mais valiosa que leva do clube de ciência a que pertence é “não desistir”.
“Eu tenho aqui o exemplo de uma ponte que fiz. Este é o sexto ou sétimo modelo que eu fiz, porque os outros não deram certo. Ainda bem que não desisti, senão não estava aqui”, contou.
Na banca coordenada por Diogo Magalhães Sousa, de 17 anos, também membro do SPDF, eram demonstrados “conceitos de física, nomeadamente a acústica e o eletromagnetismo”, com um xilofone construído com pequenas garrafas de vidro, “cada garrafa com uma diferente quantidade de água para depois, ao serem tocadas, produzirem diferentes notas musicais” e um jogo de futebol magnético.
Também os alunos da Escola Profissional das Capelas trouxeram o projeto que levaram à final nacional da competição Europeia CanSat, um desafio em que equipas de escolas de toda a Europa têm de criar um satélite, com a dimensão de uma lata de refrigerante.
“Esse satélite tem de ter um determinado comportamento na descida e são esses valores que tratamos com o auxílio de ‘software’ e técnicas que a equipa desenvolve, consoante a função do satélite”, explicou Ricardo Mouzinho, professor responsável pelo projeto.
O trabalho da Escola Profissional das Capelas identifica se, na zona em que é lançado, as condições são propícias à vida humana, através da medição da qualidade do ar, temperatura e outros dados.
No evento estiveram também representados de vários centros de ciência dos Açores, como o Observatório do Mar dos Açores (OMA), instalado no Faial, que apresentou uma experiência imersiva “que mostra as criaturas do mar profundo, as correntes oceânicas e animais bioluminescentes”.
“Queremos partilhar com os alunos e, quem sabe, criar novos cientistas do mar profundo para as gerações vindouras”, explicou Maria Joana Cruz, do OMA.
O colega de turma, Isaac, que se vestiu a rigor para a celebração, com uma bata branca de cientista, contou que aprendeu que “alguns cientistas usam barcos e navios, satélites, faróis e aviões”.
A bata já deixava adivinhar, mas Isaac confirmou que vê um futuro na área científica, sem descurar uma veia artística: “Eu vou ser astronauta”, afirmou, acrescentando: “tinha muita curiosidade em ser professor de ciências, mas eu não quero, quero ser DJ”.
Se Isaac acabou por se render à carreira musical, Henrique não vacila e diz que quer “estudar os animais”. Já Ema quer “estudar tudo”.
Às largas centenas de crianças que invadiram o largo do Teatro Micaelense para conhecer a ciência que se faz no arquipélago juntaram-se o Presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, e ao secretário Regional do Mar, Ciência e Tecnologia, Gui Menezes.
Procurando, talvez, garantir desde já o futuro da aposta do executivo regional no espaço, nas interações com as crianças, os governantes abordaram o satélite da Terra.
Num ‘stand’ onde era possível fazer uma visita virtual, Gui Menezes questionou um jovem sobre se “a cabeça também andava na lua”.
Já Vasco Cordeiro, ao ver o desenho que Luana fez de um foguetão, quis saber se a criança também sonhava ir à lua.
O evento faz parte da celebração do Dia Nacional dos Cientistas, que se celebra, instituído pela Assembleia da República em 2016, em homenagem ao antigo ministro da Ciência José Mariano Gago, tendo sido assinalado pela primeira vez em 2017.
O programa segue com o ciclo anual de conferências “Caminhos do Conhecimento, o legado José Mariano Gago”, com intervenções sobre “Ciência e desenvolvimento: Na rota de Fernão Magalhães”, “Conhecimento do Atlântico: Do mar profundo à observação do oceano” e “Conhecimento do Espaço”.
Forografia de arquivo Centro de Ciência Viva EXPOLAB