A barragem que permite o atravessamento do rio Sever está concessionada à eléctrica Iberdrola e os portões que permitem o atravessamento entre Portugal e Espanha só são abertos ao fim-de-semana. Na prática, um caminho de 12 km entre Montalvão ( distrito Portalegre) e Cedilho ( Estremadura Espanhola) tenha de ser feito em mais de 150 km durante a semana.
A construção de uma ponte para ligar a população espanhola de Cedillo (Cáceres) e a portuguesa de Montalvão (Nisa) mantém-se como “velha aspiração” dos habitantes dos dois lados da fronteira, que vivem perto, mas longe, ao mesmo tempo.
Enquanto os governos de Espanha e Portugal não avançam com nenhum projeto, as populações destas duas vilas “matam saudades” apenas aos fins de semana, quando a empresa hidroelétrica espanhola Iberdrola retira os cadeados dos portões e reabre ao trânsito a ponte situada na confluência dos rios Tejo e Sever.
Separadas pelos afluentes dos dois rios, Montalvão, no distrito de Portalegre, e Cedillo, na província de Cáceres, distam apenas 16 quilómetros em linha reta, mas contornar as águas pela ligação rodoviária mais próxima aumenta a distância para 150 quilómetros.
“Sem vias de comunicação não há desenvolvimento. Esta ponte potenciaria o comércio local e viria encurtar distâncias de Espanha para Portugal”, além de que “daria acesso ao centro do nosso país”, disse à agência Lusa o presidente da Junta de Freguesia de Montalvão, Francisco Almeida.
Por sua vez, José Salgueiro, residente em Montalvão, acrescentou que a construção de uma ponte “retomaria a amizade” entre os dois povos, tal como era “antigamente”.
Para sublinhar a necessidade do projeto, o mesmo habitante indicou que, quando a ponte da empresa Iberdrola abre ao trânsito, os cafés de Montalvão estão “sempre cheios” com clientes do país vizinho.
“Os espanhóis vêm mais a Portugal porque a bebida é mais barata do que em Espanha”, acrescentou.
No ano passado, o governo espanhol decidiu cancelar a construção de uma ponte entre as duas povoações alegando que a obra “não era prioritária”, situação que o autarca do Ayuntamiento de Cedillo, António González Riscado, lamentou em declarações à agência Lusa.
O projeto tinha sido “pensado” pelo anterior executivo do PSOE, num investimento de cerca de quatro milhões de euros, mas o atual governo, de maioria PP, decidiu-se contra a empreitada.
“Esta ponte serviria para dinamizar as regiões dos dois países, pois estamos bastante atrasados”, reconheceu o autarca de Cedillo.
Além disso, acrescentou António González Riscado, a ligação “permitiria um relacionamento com os nossos vizinhos e ficaríamos mais perto da costa portuguesa”, da qual “estamos muito mais perto” do que da espanhola.
António González Riscado relatou, ainda, que um empresário chegou a estar interessado em construir uma gasolineira em Cedillo, caso a ponte avançasse, mas acabou por abandonar o projeto na sequência da decisão do governo espanhol.
Perante este cenário, os habitantes de Cedillo, para abastecerem as suas viaturas, têm que percorrer mais de 50 quilómetros até Valência de Alcântara ou, então, podem optar por deslocar-se a Cáceres ou a Badajoz, situadas a mais de 115 quilómetros.
Enquanto a ponte não é construída, os moradores de Montalvão e de Cedillo aproveitam os fins de semana para trocar experiências e conviver, desde que a Iberdrola não encerre a ponte (paredão) que possui para a realização de vários trabalhos.
Quando o “caminho está livre”, portugueses e espanhóis “unem-se” em eventos desportivos e socioculturais, como uma matança internacional do porco e uma “mega sopa de peixe” com a riqueza que os rios Tejo e Sever têm para oferecer, ao jeito de “recompensa” em troca da separação a que os dois povos têm sido votados.