Embora, em geral, a procura de cursos em línguas estrangeiras esteja em queda no Reino Unido, o número de estudantes de português mais do que duplicou, de 600 em 2016 para cerca de 1.400 atualmente.
O aumento do número de alunos de língua portuguesa levou o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua (Camões,I.P.)a reforçar o investimento naquela região.
O Reino Unido recebe maior investimento do Instituto Camões, fruto do número crescente de estudantes de língua portuguesa, sobretudo no ensino superior, revelou o presidente do Camões,I.P.
“Temos investido uma quantia significativa todos os anos porque achamos que vale a pena. O número de alunos e o interesse pela língua portuguesa está a crescer”, vincou Luís Faro Ramos à agência Lusa em Londres, onde se encontra para uma celebração hoje do centenário da cátedra Camões na universidade King’s College London (KCL).
Este ano, o orçamento do Camões destinado à rede de ensino na Grã-Bretanha atingiu 2,5 milhões de euros, quase 10% do total que o IC gasta no estrangeiro.
A rede no Reino Unido é composta por 25 professores em escolas primárias e secundárias e 15 leitores em universidades.
Resistência britânica a outras línguas
Ao contrário do ensino básico e secundário, onde a maioria dos 3.500 alunos são lusodescendentes, os estudantes universitários são britânicos ou de outra nacionalidade sem ser portuguesa e aprendem o português como língua estrangeira, associada a cursos de gestão, política e história.
Para além de uma “língua de passagem de testemunho entre gerações que falam português”, ao português são reconhecidos “o valor como língua de negócios ou como ativo económico, útil na América Latina ou em África”, justificou Luís Faro Ramos.
Este diagnóstico positivo não esconde os problemas sentidos em geral nas universidades britânicas pelos departamentos de línguas modernas estrangeiras, como o alemã, italiano e até o francês, referiu o professor titular da cátedra Camões no KCL, David Treece.
Em 2004, deixou de ser obrigatório no Reino Unido o ensino das línguas modernas a partir dos 14 anos, o que teve consequência as escolas deixarem de contratar professores, resultando numa forte redução do número de estudantes que procuram cursos superiores de línguas.
Treece admite existir uma “pequena crise” na visão política para esta questão, agravada pela “resistência da cultura britânica à necessidade de aprender outras línguas” devido à predominância do inglês a nível mundial.
“A questão não é apenas da língua como uma competência adicional, mas de vontade política, sobretudo no momento que vivemos de incompreensão, de hostilidade para com quem é diferente, de racismo e xenofobia”, alertou, em declarações à Lusa.
Universidade assinala hoje 100 anos de estudos portugueses
O KCL é a instituição de ensino britânica precursora do ensino do português no Reino Unido, iniciado nos anos 1860, consolidando-se em 1919 com a criação da Cátedra Camões.
A George Young enquanto titular seguiram-se académicos de renome, com destaque para o historiador Charles Boxer, o especialista em literatura Luís de Sousa Rebelo e, mais recentemente, Hélder Macedo.
Desde 2010 existe também na universidade um Centro de Estudos em Língua e Cultura Portuguesa, que dirige os estudos e organiza colóquios, conferências, exposições, sessões de cinema, poesia e lançamento de livros.
O King’s College London promove hoje, entre as 15h30 e as 19h, no Strand Campus, o simpósio ‘100 anos de estudos portugueses’, repartido por quatro paíneis de debate, que pretende homenagear os professores e estudantes de português no KCL e o trabalho que desenvolveram em áreas como a filologia, crítica literária ou historiografia.
Um comunicado do King’s College divulgado na página do Departamento de Espanhol, Portugues e Estudos latino-Americanos, refere que “ao longo deste simpósio, lembraremos o trabalho árduo e a dedicação de professores, leitores, invstigadores, criadores e autores que enriqueceram e inspiraram o King’s College ao longo do século XX”.
Nos quatro painéis vão ser debatidos a pesquisa em filologia, crítica literária e historiografia realizada pelos vários presidentes do Camões.
“Discutir-se-ão também o envolvimento e a influência de vários autores portugueses no departamento (de Espanhol, Portugues e Estudos latino-Americanos), os que realizaram residências de escrita e os que (ali) lecionaram”, refere ainda o comunicado.
O simpósio vai ainda reflectir sobre o apoio que a Fundação Calouste Gulbenkian ofereceu ao departamento, particularmente no que diz respeito à colecção editada do trabalho de Jorge de Sena.