O líder do partido Aliança, Pedro Santana Lopes, considera que a política portuguesa está de cabeça para baixo na sequência da polémica em torno do descongelamento das carreiras dos professores.
Em entrevista publicada no jornal i, Pedro Santana Lopes afirmou-se “em choque” com a primeira versão aprovada no parlamento do diploma que devolve todo o tempo de carreira congelado aos professores porque foi “um dos piores momentos da direita no pós-25 de abril.
O parlamento aprovou na quinta-feira, na especialidade, uma alteração ao decreto do Governo, com os votos contra do PS e o apoio de todas as outras forças políticas, estipulando que o tempo de serviço a recuperar pelos professores são os nove anos, quatro meses e dois dias reivindicados pelos sindicatos dos docentes.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro anunciou que se demitirá caso a contabilização total do tempo de serviço dos professores seja aprovada em votação final global no parlamento.
No entendimento de Pedro Santana Lopes, quem abriu a caixa de Pandora foi o Governo com todas as expectativas que foi sustentando ao longo destes anos.
“Depois, o Governo abre a caixa para uns, fecha para outros, passa a vida a abrir e a fechar a caixa. E portanto houve aqui uma inversão de papéis – o PSD e o CDS fizeram de geringonça, e Costa e Centeno fizeram de Passos Coelho e Vítor Gaspar”, ironizou.
Segundo o líder da Aliança, também Paulo Portas não pode ser esquecido porque fez parte do Governo.
“Diria que a política portuguesa está ‘upside down,’ de cabeça para baixo ao contrário. E isso também foi um erro muito grave da direita no parlamento porque deu a António Costa e Mário Centeno a oportunidade de consolidar uma imagem, ou de chamarem para si essa imagem das contas certas, que é um património também ele da direita e do centro-direita”, disse.
O líder do partido Aliança considera que esta “inversão de papéis” é “altamente desprestigiante” para a política nacional.
Sobre o anúncio do líder do PSD, Rui Rio de que o partido vai propor no plenário da Assembleia da República a inclusão de propostas de salvaguarda que apresentou na comissão parlamentar de Educação, Pedro Santana Lopes considerou que “há aqui um manifesto recuo”.
“Rui Rio não volta a dizer que não conhece o texto aprovado em comissão [como o fez na passada sexta-feira]. (…) Mas a questão factual é esta: Rui Rio assume a contagem do tempo integral, diz que tem de ser negociada e não fala de uma questão muito importante. Independentemente da razão dos professores, a posição da Aliança é a de que se existe o descongelamento de carreiras para uma classe profissional tem que ser avaliada as consequências dessa posição para todas elas”, sustentou.
De acordo com o líder do partido Aliança, o Governo conduziu este processo dos professores “muito mal logo de início”.
“A Assembleia não pode legislar, o Governo decidir por uma classe e esquecer todas as outras que têm uma natureza jurídica equivalente”, defendeu.
Questionado sobre o que faria a Aliança neste caso, Pedro Santana Lopes sublinhou que o partido “só aceitaria falar na perspetiva de um trabalho para todas as classes profissionais”.
“E depois era preciso saber quanto custaria, saber quanto custaria, saber qual era a margem financeira para depois tomar a decisão. A Aliança nunca aceitará decidir trabalhar só para uma classe por razões meramente conjunturais ou meramente eleitorais”, disse.
Sobre um possível entendimento entre a Aliança e o PS num cenário de eleições antecipadas, Pedro Santana Lopes afirma que as coligações não estão “no caminho” do partido.