Está de parabéns a Divisão de Intervenção Cultural do Museu Municipal de Arqueologia da Amadora – e justo será destacar a ação da sua coordenadora, Drª Gisela Encarnação – por ter trazido à Amadora de hoje uma perfeita e saudosa imagem da Amadora do tempo dos nossos avós. Com efeito, a recente restauração dos arruinados moinhos de vento do alto da Mina e a instalação ali da sede do Núcleo Museológico do Moinho do Penedo, como era chamado o altaneiro local, veio enriquecer grandemente a paisagística e o interesse histórico da mais pequena área concelhia vizinha de Lisboa.
Onde os testemunhos do passado se mantiveram durante longos anos votados ao abandono, vêem-se agora as mais emblemáticas imagens de uma Amadora anterior a três ou quatro gerações, quando os campos se estendiam a perder de vista entre diversas elevações e as construções, casas rústicas e quintas, se contavam pelos dedos, panorâmica a que sucedeu a Amadora familiar e plena de vida local que caracterizou a sua existência durante a primeira metade do século XX.
Nascido na Amadora em meados dos anos vinte daquele século, desde menino e moço subi aos ‘Moinhos’, como a minha geração conhecia o sítio, que compreendia também uma fileira de frondosos eucaliptos, cujas sombras eram bem convidativas ao descanso, após se vencer uma das ladeiras de acesso ao local. Magnífica a panorâmica que se contemplava, com as terras baixas, povoadas de moradias, “fechadas” pelas elevações contrárias, desde a serra de Monsanto à serra de Carnaxide, onde se erguiam as antenas da Rádio Marconi, ali instaladas em 1926 sem nunca terem prejudicado as descolagens e aterragens dos aviões na vizinha pista do Grupo de Esquadrilhas de Aviação República, cujo centenário se verifica este ano.
![]() | “Vale bem a pena subir ao alto dos Moinhos do Penedo e apreciar a meritória obra ali implantada por quantos volvem as suas atenções para passados remotos e recentes e os trazem ao presente. Útil será a colocação, em diversos locais da Amadora, de placas-convite para subir aos Moinhos do Penedo” |
Com os três Moinhos do Penedo em ruínas, há sessenta anos, em 1958, alertei o então presidente da Câmara Municipal de Oeiras, para a conveniência em proteger o melhor local paisagístico da Amadora, bem propicio à construção de um esplêndido miradouro. Mas tal alerta não resultou. E as sucessivas entidades responsáveis permitiram que as construções vencessem a encosta até ao alto, primeiro moradias e depois, incrivelmente, prédios de uns tantos andares.
Talvez até tenham sido os velhos moinhos em ruínas que evitaram a “invasão” para a encosta oposta. Desta anomalia resultou o que agora está à vista. Os novos moinhos da Amadora, que se podiam debruçar sobre um aprazível miradouro, têm reazeiras e telhados de construções a prejudicar a sua situação.
Enquanto um dos três Moinhos do Penedo viu há anos suceder-lhe um depósito de águas, os dois que agora “ressuscitaram” das lonjuras do século XVIII, foram restaurados a primor; exterior e interiormente, fascinam e encantam o visitante. Como se dá conhecimento através de um bem documentado desdobrável elaborado pelo citado Núcleo Museológico, “existem atualmente 41 moinhos de vento no concelho da Amadora, alguns recuperados”, referindo-se neste caso os do Penedo e mais três, em freguesias diferentes, o que leva a concluir que cerca de três dezenas de moinhos continuam “a morrer de pé”, tendo-se perdido outras tantas dezenas, uma vez que chegaram a existir mais de 70 moinhos na área concelhia, remontando “pelo menos ao século XVII”.
E mais se divulga no mesmo desdobrável, que “a chegada da energia a vapor e das fábricas levou a que os moinhos fossem desativados e aos poucos desmantelados até ao início do século XX”
Quanto ao recuperado Moinho do Penedo, “é uma estrutura de torre fixa circular construída com a pedra basáltica da região, com dois pisos, o térreo e o de moagem, ligados por uma escada. A entrada e as janelas são constituídas por pedra calcária e no seu interior podem observar-se os arganéis que serviam para fixar o capelo, a cobertura do moinho, construída em madeira”.
Oportuno será referir a existência na Amadora da Associação de Arqueologia da Amadora (ARQA), constituída em 1988, que colabora com o Museu Municipal de Arqueologia, por intermédio de uma parceria com vista à investigação arqueológica e à divulgação do património histórico local. Com origens nos anos sessenta do século passado, a ARQA mantém em funcionamento um projeto de animação cultural e promove passeios culturais e palestras sobre arqueologia e história, bom como exposições itinerantes.O propósito desta associação é ‘Descobrir, Investigar e Divulgar’.
Voltando ao desdobrável do Núcleo Museológico do Moinho do Penedo, mais dali se transcreve que “a atividade moageira da região da Amadora proporcionou o desenvolvimento dos trabalhos agrícolas, o culto de “terras de pão”, onde predominava sobretudo o trigo e o centeio, e a criação de variados postos de trabalho, como trabalhadores agrícolas, moleiros, carreteiros, bandejas e comerciantes”. A região fazia parte da Cintura Moageira Pré-industrial de Lisboa.
Vale bem a pena subir ao alto dos Moinhos do Penedo e apreciar a meritória obra ali implantada por quantos volvem as suas atenções para passados remotos e recentes e os trazem ao presente. Útil será a colocação, em diversos locais da Amadora, de placas-convite para subir aos Moinhos do Penedo.
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