Segundo a Organização Mundial de Saúde, até ao dia 8 de abril, 745.609 pessoas tinham sido vacinadas contra a cólera em Moçambique, na sequência da devastação causada pelo ciclone Idai.
A vacinação oral contra a cólera foi liderada pelo Ministério da Saúde em Moçambique com o apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS), Unicef, Médicos Sem Fronteiras, Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e a ong ‘Save the Children’.
No dia 8 de abril, prestes a chegar ao fim, tinham sido contabilizadas 745.609 pessoas vacinadas, 82% da população-alvo.
A campanha de vacinação de emergência prolongou-se por seis dias e coube ao Governo de Moçambique identificar a população mais exposta à doença.
O Ministério da Saúde de Moçambique e as entidades parceiras contaram com mais de 1200 voluntários nesta campanha.
Cada equipe de vacinação foi liderada por um profissional de saúde e conta com três outros para apoiar a preparação dos frascos de vacina, a contagem das vacinas dadas e a marcação das unhas àqueles que já foram vacinados.
Um dos 73 pontos de vacinação criados no distrito de Dondo, no âmbito desta campanha, foi a Escola Primária 7 de Abril, na aldeia de Inhamayabwe, perto da cidade de Dondo.
Amélia Mateos liderou a campanha naquele escola e à medida que cada criança se aproximava, a técnica de medicina preventiva agarrava um pequeno frasco de vidro, inspecionava-o e agitava-o vigorosamente antes de remover a tampa e depois sacudia o 1,5 ml de vacina líquida na boca da criança.
Esta ação foi repetida em cada uma das crianças vacinadas na Escola Primária 7 de Abril. O sabor não agradou, mas a vacina “protegerá estas crianças de algo muito pior – a horrível e por vezes mortal cólera”, sublinha a OMA numa nota ed imprensa publicada no site da organização mundial pertencente à ONU.
“Estamos a fazer essa campanha porque a cólera é uma grande ameaça à saúde pública”, referiu Amélia Mateos, citada na nota da OMS.
Número “impressionante” de voluntários
Desde que o ciclone Idai atingiu Moçambique em 14 de março, centenas de milhares de pessoas vivem em assentamentos temporários sem acesso a água potável e saneamento.
A 27 de março, o Ministério da Saúde moçambicano declarou a existência de um surto de cólera na região atingida e a 5 de abril tinha já registrado mais de 2.430 casos e três mortes, recorda a nota da OMS.
Dias antes, a 2 de abril, chegaram à cidade da Beira cerca 900 mil doses da vacina contra a cólera, fornecidas pela Unicef e pela OMS. A Unicef indicava na altura que começaria “em breve” a campanha de vacinação, financiada pela pela Aliança Global para Vacinas e Imunização (GAVI, na sigla em inglês).
“A aquisição e distribuição de vacinas é uma das principais acções que a Unicef e os seus parceiros estão a levar a cabo para conter a disseminação da cólera, juntamente com o restabelecimento dos sistemas de tratamento de água e a distribuição de produtos para purificar água”, explicava na altura Michel Le Pechoux, representante adjunto da Unicef Moçambique.
Numa visita à Beira, Nazira Abdula, ministra da Saúde de Moçambique, reuniu-se com a OMS e outros parceiros e reconheceu o grande apoio à campanha de vacinação oral. “É muito difícil lançar uma campanha desta dimensão em apenas três dias”, sublinhava.
Já Djamila Cabral, chefe do escritório da OMS em Moçambique, afirmou que a campanha “não teria sido possível sem o forte envolvimento das autoridades locais e das próprias comunidades” e elogiou o trabalho dos voluntários.
“O número de voluntários é impressionante e, onde quer que eles estejam, houve uma toma muito grande da vacina. Todos estão muito interessados em tornar isso um sucesso para acabar com a cólera”, sublinhou, citado na nota divulgada pela OMS.
Prioridade para populações de “maior risco”
As vacinas foram dadas a populações identificadas pelo governo como sendo de “maior risco”, por não terem acesso a água potável e saneamento, e natuaris da Beira, Dondo, Nhamatanda e Buzi.
“O controlo da cólera nessas áreas reduzirá o risco junto do restante da população porque menos pessoas a transmitirão para o resto da comunidade”, disse Kate Alberti, especialista da OMS em vacinação contra a cólera.
Cerca de uma semana depois de receber a vacina, a pessoa vacinada desenvolve proteção contra a cólera e uma única dose atua por cerca de seis meses.
Além dos 73 pontos de vacinação, houve ainda quase 60 unidades móveis que se movimentaram pelo distrito do Dondo.
Há ainda o propósito de, no final da campanha, a vacinação continuar com ações ‘porta a porta’ para garantir uma cobertura completa da população. No total, as autoridades locais de saúde mobilizaram mais de 340 equipas para esta campanha.