Uma visita a alguém da “velha guarda” que na pré-juventude se transferiu da Amadora para o Porto e recentemente passou a residir na fronteira Vila Nova de Gaia, contribuiu para ir conhecer a outrora pitoresca e piscatória Afurada, povoação da beira Douro que tem por vizinha a Ponte da Arrábida. Sede de freguesia, a Afurada do tempo dos nossos avós ainda se revela aos visitantes, na sua feição urbana e nas gentes, aliando-se tais características com o presente que bem se espelha na moderna Douro Marina, bem provida de embarcações de recreio. E a aliança de hoje a ontem aprecia-se em pormenor no chamado Centro Interpretativo do Património da Afurada, que dá a conhecer o historial da povoação.
A propósito da citação deste “Centro”, não poderei deixar de referir que uma tal designação, espalhada atualmente por todo o país, levou ao desaparecimento da palavra museu, que desde sempre se aplicou nas circunstâncias em causa. Para quê, substituir uma simples palavra de cinco letras, fácil de pronunciar e de entender o seu significado, por duas palavras que reúnem vinte letras e de bem mais difícil pronuncia? Não dá para entender. E talvez só os “entendidos” a entendam. Mas como a nova designação se multiplicou, temo-la em toda a parte e só nos resta aceitá-la, “interpretando-a” da melhor forma. Quanto a mim, o que visitei na beira Douro, em Vila Nova de Gaia, foi o Museu da Afurada.
Como se refere num desdobrável que ali me foi facultado, “a Afurada é um lugar onde se entrecruzam profundas raízes históricas cujas marcas e manifestações ainda se encontram presentes no imaginário e nos traços identitários das suas gentes e dos seus modos de vida tradicionais ligados ao rio Douro e à pesca, constituindo uma das suas manifestações mais emblemáticas as sempre muito concorridas Festas de São Pedro da Afurada”. E acrescenta-se: “As alterações socioeconómicas provocadas pelo declínio da atividade piscatória que marcou durante gerações esta povoação, aliadas ao dealbar de uma nova Afurada resultante de uma intervenção de qualificação urbana de grande magnitude desenvolvida pelo Programa Polis na faixa marítima e ribeirinha de Vila Nova de Gaia, reiteram a necessidade da preservação e divulgação do património desta comunidade, seja junto dos seus residentes, seja para os seus visitantes”.
Foi, portanto, nesta ordem de ideias que surgiu o excelente Museu da Afurada, “construído no mesmo local de antigos armazéns e recriando o traço arquitetónico original”. Necessário será, porém, a colocação de placas de localização do museu, não só à entrada da povoação como nas suas proximidades, uma vez que a originalidade da construção se confunde com construções vulgares do antigamente. Quando da minha visita, foi indagando a este e àquele que cheguei ao que procurava, embora já lá tivesse passado bem perto. E como recentemente um leitor de um jornal diário alertou, a Afurada tem deficientes transportes públicos e não dispõe de táxis, como, aliás, se me revelou, pois houve que recorrer à chamada telefónica para obter um transporte vindo da sede concelhia.
E outra falta na povoação é de restaurantes, uma falta que, afinal, me levou a ir conhecer a vizinha praia de Lavadores, onde se encontra um bom restaurante à beira das águas atlânticas. Diz quem sabe, que “o conjunto das rochas desta praia resultou de magmas que ali se instalaram há 300 milhões de anos e tornaram o lugar um geossítio de importância nacional”. A quem visita o Museu da Afurada, além de exposições temporárias geralmente sobre temas relacionados com o mar e a natureza, apresenta-se uma exposição permanente organizada em diferentes núcleos, desde o lugar e a terra à natureza e a vida e ao homem e à mulher. É o historial de mais de sete séculos daquela parcela do nosso país que se revela ao visitante, interessado e surpreso perante a enorme vali do que se lhe patenteia. Sem dúvida, uma elucidativa “memória de um lugar”.
Data este empreendimento de 2013. Aberto diariamente, resultou de uma iniciativa da APDL-Administração dos Portos do Douro e de Leixões e foi promovido por Águas e Parque Biológico de Gaia, sob a coordenação de Nuno Gomes Oliveira, administrador desta instituição. Convirá esclarecer que o acesso a Afurada, para quem chega à região no sentido Sul-Norte, processa-se pela saída da auto-estrada que antecede a Ponte da Arrábida, havendo depois que ultrapassar duas rotundas, para numa terceira rotunda seguir pela quinta saída, que leva finalmente à típica povoação da beira Douro. Vale a pena ir até lá, conhece a Afurada e voltar por Lavadores. Além do mais, aprecia-se o rio e o mar.
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